Iluminação LED

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A propósito do artigo “Câmara de Lousada reduziu factura em 60% com iluminação pública LED” publicado, na qualidade de investigador em poluição luminosa, venho comentar o seguinte.

Segundo o artigo, a CM de Lousada afirma que “a substituição da iluminação tradicional pela tecnologia LED permitiu ainda uma redução dos níveis de poluição luminosa, uma vez que o feixe de luz é direccionado na totalidade para baixo.” Esta ideia é um equívoco, unicamente propalado pela indústria, repetido por muitos municípios e, infelizmente, com frequente eco na comunicação social. Como consequência, é uma ideia que passa também para o grande público.

Se é verdade que o feixe de luz deve estar direcionado para baixo (algo que não é exclusivo da tecnologia LED), não é o único factor importante a ter em conta. O fluxo de luz (a quantidade de luz que cada candeeiro emite) e a temperatura de cor (CCT) são aspectos tão ou mais importantes.

De facto, grande parte da poluição luminosa é provocada pela reflexão da luz no solo, independentemente da orientação do candeeiro (a foto que ilustra a notícia é disso reveladora, onde não se vê a luz directa mas a reflexão é tal que, sob os candeeiros, satura a fotografia). Como os LED são mais económicos, a tendência generalizada tem sido a de colocar fluxos luminosos muito superiores aos existentes, bem como colocar mais fontes de iluminação de exterior. Toda essa luz reflectida dirige-se para cima e o resultado é um aumento global do chamado brilho difuso do céu (“skyglow”, o típico “clarão” por cima das localidades e que impede a visão das estrelas não só no local mas afectando regiões a dezenas e até centenas de quilómetros das vilas ou cidades).

Por outro lado, é hoje consensual entre a comunidade científica que os LED brancos (temperatura de cor elevadas, superiores a 2700 Kelvin) têm impactos importantes nos ecossistemas (fauna e flora), no céu nocturno (maior difusão da luz branca do que da âmbar/laranja) e potencialmente na saúde (por alteração do ritmo circadiano), muito mais do que tecnologias sem a componente azul no seu espectro (caso da iluminação de sódio que vieram substituir, mas caso também dos LED brancos filtrados ou dos LED pc-âmbar, estes últimos só ligeiramente menos eficientes do que os LED brancos). As recomendações científicas apontam, assim, hoje para temperaturas de cor entre os 1800 K e os 2400 K e sempre com o fluxo luminoso o mais baixo possível.

Em Portugal, dada a falta de regulamentação no que respeita à iluminação e à poluição luminosa, este problema tem sido sistematicamente ignorado. O resultado é este: Portugal é dos poucos países europeus em que a poluição luminosa aumentou significativamente nos últimos anos, não por necessidade mas por excesso de iluminação, fruto, em particular, dos níveis exagerados de luz e do aumento do fluxo luminoso dos LED brancos face à iluminação que veio substituir, já de si exagerada (v. p.ex. a Fig. 2 do artigo seguinte: http://advances.sciencemag.org/content/3/11/e1701528.full ).

As recomendações em Portugal – não fundamentadas – de instalação de LED de CCT 3000 K a 4000 K (por vezes instalando-se CCT superiores), estão a provocar uma situação de consequências visíveis no imediato (perda total do céu escuro nocturno) e imprevisíveis nos seus diversos impactos ecológicos e na saúde. Enquanto não houver uma consciencialização para esta problemática, a tendência será a de agravamento da situação. Várias são já as cidades em diversos países que estão a mudar os LED brancos, instalados há poucos anos, por LED de temperatura de cor mais baixa (CCT iguais ou inferiores a 3000 K), quer por queixas de desconforto por parte da população quer, por exemplo, pelo alerta lançado em 2016 pela Agência Médica Norte-Americana (AMA) no que respeita a potenciais riscos para a saúde pública dos LED brancos. Um exemplo entre outros, Montreal, no Canadá.

Lousada não é caso único em Portugal. Se a poupança é desejável, o paradoxo é este: utilizando-se níveis de iluminação muito inferiores (tal como se pratica na maioria dos países europeus, com destaque para a Alemanha, Suíça ou França), tecnologias mais amigas do ambiente (o que não é o caso dos LED brancos mas sim dos LED pc-âmbar ou dos LED brancos filtrados, por exemplo) e uma redução do fluxo luminoso nas horas de menor circulação de pessoas e tráfego, o título do artigo do jornal poderia referir reduções da ordem dos 70 ou 80 ou 90%, com benefícios generalizados.

 

Raul Cerveira PS Lima

Investigador e Professor Adjunto – ATC Física da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico do Porto e membro do CITEUC – Centro de Investigação da Terra e do Espaço da Universidade de Coimbra/Observatório Astronómico de Coimbra