Bom seria que alguém inventasse um processo expedito de guardar algum calor do verão para usar nos frios do inverno e, já agora, de guardar também algum frio do inverno para nos refrescar no verão. Por exemplo num verão como este que está a ser bem quente, quem sabe se por causa do aquecimento global ou por qualquer fenómeno obscuro que tenha a ver com o Sol, a nossa estrela privativa.
Ao referir isto pensava num procedimento eficaz e generalizado e não em meras iniciativas locais e isoladas como a artesanal e curiosa Real Fábrica do Gelo. Instalada na Serra de Montejunto no Séc. XVIII, produzia gelo no inverno que se armazenava em grandes silos de pedra. Ali se conservava até ao verão, altura em que se expedia para Lisboa para delícia da corte, nobreza e alta burguesia.
Ao escrever este artigo à sombra de uns belos pinheiros mansos algarvios perto do mar e com uns muito benévolos 30 graus, vêm-me à ideia as mulheres das nossas famílias que apesar de usufruírem de férias, sofrem mais com o calor, pois têm de continuar a cozinhar para todos e aguentam o calor suplementar dos cozinhados. Bem mereciam, por parte de maridos, filhos ou netos, uma ajuda, se não nos cozinhados, ao menos nas compras, no pôr da mesa e no lavar da loiça.
Mas o desconforto dos nossos calores, mesmo perto ou acima dos 40 graus, bem pouca coisa é quando comparado às tragédias dos fogos que assolam Portugal. Muito em especial a situação da Madeira, com casas destruídas, desalojados às centenas que têm de ser recolhidos em abrigos precários e pessoas que perderam a vida, apanhadas pelo fogo, sem poderem escapar.
Quem se incomoda com o tempo quente e o enfrenta com roupa leve, que pense no que sofrem os heroicos bombeiros, que acodem ao combate às chamas com pesadas roupas de proteção, num esforço constante que nem os deixa descansar um mínimo de tempo antes de voltarem ao seu extenuante trabalho.
Trabalho que chega ao martírio, como o daquelas duas jovens bombeiras que morreram queimadas. Uma pertencia aos Bombeiros Voluntários de Coja, tinha 25 anos e combatia um fogo na sua região de Arganil. A outra estava integrada numa unidade especializada de Alcabideche, o Grupo de Reforço de Incêndios Florestais, numa atuação na Serra do Caramulo. É difícil de imaginar o horror de ser apanhado num incêndio e lá morrer queimado. Como também aconteceu, faz agora 50 anos, a 25 militares do Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa de Queluz ,que combatiam um incêndio na Serra de Sintra.
Que Deus se compadeça e ampare as populações angustiadas pelos fogos, receba as almas dos que o fogo imolou, anime e dê forças aos nossos exaustos bombeiros e perdoe aos incendiários. E lhes detenha as mãos criminosas.