O escultor José Carlos Coelho produziu uma estátua do João Paulo II com quatro metros de altura e oito toneladas de peso. A obra chegou ao conhecimento, através de fotografias, do actual Papa Francisco que, emocionado com a homenagem feita pelo artista de Paços de Ferreira, pediu ao assessor do Vaticano que escrevesse uma carta a agradecer a obra e a conceder a bênção apostólica a José Carlos Coelho.
O escultor espera que este reconhecimento do Vaticano ajude a vender a estátua de grandes dimensões.
Foi em Setembro de 2014 que José Carlos Coelho começou a trabalhar um bloco de granito amarelo oriundo de Mondim de Basto e com dez toneladas de peso. “Não houve nenhuma encomenda. Comecei a trabalhar na estátua por iniciativa própria e para homenagear uma pessoa que me guiou na juventude. João Paulo II foi um Papa que me marcou”, explica o artista.
Durante seis meses, os dias do escultor foram passados em volta de um projecto que, pelas dimensões grandiosas, teve também o intuito de demonstrar as suas qualidades profissionais. “Quis provar que era capaz de fazer este tipo de trabalho e que não é preciso ir ao estrangeiro comprar este tipo de peças. Aqui também há bons profissionais e artesãos, mas estamos a deixá-los morrer”, defende.
Já em 2015, a estátua, que tem quatro metros de altura e pesa oito toneladas, ficou concluída e causou a admiração em muitas pessoas. Porém, nenhuma a comprou. “Já houve propostas e poderia tê-la vendido. Mas nunca cheguei a acordo com os interessados”, revela.
A imagem da enorme estátua foi circulando pelas redes sociais e foi vista por elementos de um grupo que, em Maio do ano passado, viajou até ao Vaticano. “Eles são de Paredes e não os conhecia. Mas eles vieram ter comigo e pediram-me se podiam levar umas fotografias da estátua. Eu acedi e, numa delas, escrevi uma dedicatória”, recorda José Carlos.
A imagem foi, desta forma, até Itália e chegou ao conhecimento do Papa Francisco que, sensibilizado pela homenagem levada a cabo por José Carlos Coelho, ordenou que o assessor escrevesse uma carta ao artista de Paços de Ferreira.
Nessa missiva, datada de 13 de Novembro de 2015, o assessor do Vaticano começa por revelar que o “Santo Padre viu como o melhor apreço a sua [de José Carlos] homenagem a São João Paulo II, bem como as palavras de veneração que dirigiu ao actual Sucessor de Pedro”. Em seguida, e após classificar João Paulo II e João XXIII, canonizados em 27 de Abril de 2014, de “homens corajosos, cheios da audácia do Espírito Santo”, o Vaticano concedeu a “bênção apostólica” ao autor da obra de arte.
“Fiquei contente, porque não passou despercebido. Não é todos os dias que se recebe uma carta do Vaticano”, reage José Carlos Coelho, que espera que este reconhecimento ajude a vender a escultura. “Tenho sempre a esperança que ela fique num sítio especial”, diz.
Um artista autodidacta
José Carlos Nogueira Coelho nasceu há 48 anos em Ferreira, Paços de Ferreira, terra onde, com apenas 13 anos, começou a trabalhar numa empresa de móveis. Foi aí que aprendeu a arte da talha, que lhe permitiu, dois anos depois, iniciar o seu próprio negócio. No entanto, a falta de encomendas levou-o, aos 20 anos, a descobrir a escultura. “Não tenho formação académica. Aprendi tudo sozinho. O trabalho e a observação ensinaram-me muito”, garante.
Hoje, no atelier montado em Freamunde, cria figuras religiosas em pedra e madeira, mas também se aventura pela arte contemporânea. E só tem pena que o mercado continue a valorizar mais o nome do artista que a qualidade da obra.