A Comissão de Festas de S. João de Sobrado 2020/2021 e a Casa do Bugio queixam-se de “desigualdade de tratamento” da Câmara Municipal de Valongo, face às actividades permitidas para assinalar estas festividades e as autorizadas para marcar as de S. Mamede de Valongo.
Num esclarecimento emitido, e divulgado pelo município, a Comissão Municipal de Protecção Civil sustenta que os eventos decorreram em circunstâncias diferentes e que não são comparáveis, mas que os critérios foram os mesmos. “Salvaguardando a incomensurável diferença de dimensão entre as festividades em apreço, com consequente potencial para aglomeração de pessoas que cada uma das festas representa (o São João de Sobrado realiza-se num feriado municipal e reúne milhares de pessoas) e pese embora a diferença das fases da pandemia em que nos encontrávamos, os princípios que sustentaram as decisões unânimes de toda a Comissão Municipal de Protecção Civil de Valongo foram exactamente os mesmos para as duas festas! Sempre no sentido de minimizar o risco de transmissão do vírus e procurando contribuir para a manutenção da serenidade, confiança e segurança de toda a população do concelho, nesta matéria e a cada momento!”, informam.
Houve outra “abertura” para as festas de S. Mamede
Logo no início da pandemia, a Câmara de Valongo optou por suspender ou mesmo cancelar a maioria dos eventos até ao final do ano, para limitar a transmissão do novo coronavírus.
Por isso, o São João de Sobrado, festa que atrai milhares de visitantes, este ano foi assinalado com pequenos momentos, sobretudo em casa.
Mas a 16 de Agosto, a Comissão de Festas de S. João de Sobrado 2020/2021 emitiu um comunicado lamentando a “desigualdade de tratamento” deste evento face ao das festas de São Mamede de Valongo, onde foram permitidos apontamentos musicais e culturais à varanda. Entre outros, divulgavam o parecer da Comissão Municipal de Protecção Civil para as festividades de Sobrado em que era dito que “a Câmara (…) entendeu que não estão ainda reunidas condições para a realização da actividade proposta”. “Entre outras razões apresentadas, a Comissão, por unanimidade, foi da opinião que uma Banda Musical a percorrer a Rua de São João de Sobrado, num comboio ou trio eléctrico, tocando a marcha da dança de entrada, poderá potenciar a aglomeração de pessoas, comportamento que de todo deve ser evitado. Notícias recentes apontam para uma evolução menos positiva dos números, em grande medida resultantes de eventos desaconselhados, face ao actual estado de evolução da pandemia”, justificavam.
“Como organizadores da festa não podemos deixar de lamentar a completa desigualdade de tratamento e postura, da Câmara de Valongo, ente a festa de S. João de Sobrado e a festa de S. Mamede, mais uma vez sentimos que não somos respeitados pela Câmara, o povo de Sobrado merecia outro acolhimento e respeito”, escreveu a comissão de festas.
Da mesma forma, um dia depois, a Casa do Bugio informou os associados do “descontentamento em relação à posição tomada pela protecção civil do concelho assim como pelo município”.
“Não se compreende o porquê da recusa a todas as ideias propostas por parte da associação, assim como da comissão de festas, para que o dia de São João fosse lembrado embora de forma diferente. Visto que as festas em honra do São Mamede tiveram outra abertura e compreensão por parte das entidades responsáveis. Apelamos para que no futuro este tipo de decisões seja vista de uma forma generalizada no nosso concelho”, referia o presidente César Ferreira, adiantando que pediu uma reunião à autarquia sobre o tema.
Comissão diz que critérios foram os mesmos
Ontem, a Câmara de Valongo divulgou um esclarecimento público da Comissão Municipal de Protecção Civil, um órgão que, destaca, integra o presidente da autarquia, elementos das Juntas de Freguesia do concelho, por opção local (Alfena, Campo, Ermesinde, Sobrado e Valongo), da Autoridade de Saúde Pública, do Agrupamento de Centros de Saúde Maia – Valongo, dos comandos dos Bombeiros de Ermesinde e de Valongo, do Instituto Nacional de Emergência Médica, dos comandos da Policia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana e pelo coordenador municipal de Protecção Civil, assim como representantes da Segurança Social e do Centro Hospitalar e Universitário de São João.
Descrevendo caso a caso, a Comissão Municipal informa que à data do pedido de parecer solicitado pela Comissão de Festas de São João de Sobrado, em associação com a Casa do Bugio, sobre as actividades que pretendiam desenvolver “Portugal deparava-se com as fronteiras com o país vizinho encerradas, Valongo encontrava-se entre os 12 concelhos do país com mais casos confirmados e o 6.° da Área Metropolitana do Porto”. “Nos sete dias anteriores ao dia da Festa ocorreram 3775 novos casos e 197 óbitos no país, dos quais 93 novos casos no concelho de Valongo, o que demonstra com clareza a fase muito complicada que atravessávamos ao nível da pandemia”, descrevem ainda.
Face ao pedido para a Banda Musical de São Martinho de Campo e os Bombos percorrerem as Ruas de Sobrado, inicialmente a pé e posteriormente, numa nova proposta, em comboio ou trio eléctrico, a Comissão entendeu, por unanimidade que isso “poderia potenciar a aglomeração de pessoas, comportamento que deveria ser de todo evitado”. “Foi autorizada a missa campal (…) e uma exposição sobre a Festa do São João de Sobrado no Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada”, acrescentam, salientando que todos os concelhos foram convocados a evitar comportamentos que potenciassem novos surtos.
“A Comissão Municipal de Protecção Civil de Valongo lamentou não poder ir ao encontro da proposta submetida, designadamente por ter plena consciência da importância única da Festa de São João de Sobrado para o município de Valongo, mas principalmente para a Vila de Sobrado e para os sobradenses, mas perante o quadro concreto só poderia ter decidido da forma que decidiu e que todos compreenderam à época”, dá nota o esclarecimento.
Já sobre as Festas de São Mamede de Valongo, a Comissão adianta que foi emitido parecer desfavorável para o pedido que incluía arruadas com a Banda Musical de Alfena, Boinas Verdes e Zés Pereiras, pelas mesmas razões que em Sobrado, “sendo certo que nos sete dias anteriores à data da iniciativa solicitada se registarem um número muito menor de novos casos COVID-19 (20 óbitos e 1409 novos casos no país e apenas quatro novos casos no concelho de Valongo)”.
“Salvaguardando a incomensurável diferença de dimensão entre as festividades em apreço, com consequente potencial para aglomeração de pessoas que cada uma das festas representa (São João de Sobrado realiza-se num feriado municipal e reúne milhares de pessoas) e pese embora a diferença das fases da pandemia em que nos encontrávamos, os princípios que sustentaram as decisões unânimes de toda a Comissão Municipal de Protecção Civil de Valongo foram exactamente os mesmos para as duas Festas! Sempre no sentido de minimizar o risco de transmissão do vírus e procurando contribuir para a manutenção da serenidade, confiança e segurança de toda a população do concelho, nesta matéria e a cada momento!”, realçou a Comissão Municipal de Protecção Civil, reiterando que estas decisões foram “imprescindíveis para a defesa da saúde pública”.