Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

De olhares postos no ecrã táctil, ou então, a seguir os movimentos de um robô e sempre com um sorriso nos lábios estavam, esta segunda-feira, as crianças de uma turma do quarto ano da Escola Básica de Mirante de Sonhos, em Ermesinde. Na “Sala do Futuro”, inaugurada esta tarde, não precisaram de lápis, canetas, livros ou cadernos em cima da mesa, mas sim de curiosidade.

Para muitos, a sensação é a mesma que utilizar um tablet, que já têm em casa. É o caso de Rafaela Leal e Beatriz Teixeira, que, em casa, já têm jogos didácticos nos seus equipamentos e vêem o ecrã interactivo da sala como “um tablet gigante”. Acreditam que vai ajudá-las a aprender, uma vez que permite a interacção. “É muito fixe”, comenta um dos seus colegas, Rodrigo Lira, que também já costuma brincar e ver vídeos em tablets em casa.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

“Estes meninos são nativos digitais, qualquer um deles sabe, provavelmente, trabalhar melhor com um computador ou um telemóvel melhor do que nós. A questão é não terem acesso a um contexto de aprendizagem em que retiram potencialidades da tecnologia. Acho que é o futuro. Nesse sentido, demos aqui um passo de gigante, mas muito trabalho virá a seguir”, refere o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro, sublinhando que, desta forma, também “é algo que vai ser transformador para todos estes meninos, sejam eles pobres, sejam ricos”.

O investimento “pesado”, de acordo com o autarca, é de cerca de um milhão de euros, sem financiamento comunitário. Envolve a instalação de 28 “Salas do Futuro” como esta em todas as escolas do primeiro ciclo, a construção de parques infantis e ainda os serviços de apoio, como é o caso da consultadoria, que tem ajudado na instalação e inauguração do projecto. “É um investimento que não se vai sentir já, mas, dentro de muito pouco tempo, estou convencido que dará muitos frutos naquilo que são as capacidades dos meninos”, continua.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Estas salas são compostas por mobiliário (em que, por exemplo, as cadeiras e mesas têm rodas para não arrastarem no chão), painel interactivo, kit robótico, tablets e impressora 3D.

“A parte mais difícil é agora retirar valor, explorar estas potencialidades, envolver todos os meninos, envolver os professores e interessar os pais para perceberem o que está aqui em causa”, acrescenta.

Publicidade

Para os docentes está prevista formação. Nesta escola, que tem oito turmas do primeiro ciclo e duas do pré-escolar, a professora Neuza Pinto explica que a sala, “ainda em fase experimental”, irá funcionar por requisição e que, antes disso, “todos os professores vão ter uma formação no agrupamento para poderem aprender como lidar com estas tecnologias e assim poderem realmente deixar os medos de lado e começarem a utilizar e a pôr em prática os conhecimentos”. “Já se sabe que é um processo lento. Está tudo apoiado para que seja um processo gradual, mas consistente, de maneira a que as coisas funcionem”, acrescenta.

“A história da introdução das tecnologias na educação foi sempre um problema porque os professores sempre têm tendência em transformar o novo no mesmo. Esse é o grande desafio para as escolas, que é criarmos também nós novas didácticas e nova pedagogia que aproveite verdadeiramente tudo isto que é aqui posto à nossa disposição”, refere João Gonçalves, delegado regional de Educação da região Norte.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

“Para darmos respostas às necessidades dos alunos actuais, do futuro, temos que acompanhar a evolução das tecnologias, senão, de outra forma, não teremos alunos interessados e com uma capacidade de desenvolver as suas competências, não só a nível cognitivo, mas também a nível pessoal”, sublinha a docente.

As crianças, ao interagirem com estes equipamentos, revela a professora, “ficam delirantes”, uma vez que “são aulas muito mais práticas, muito mais interactivas, no sentido de a própria criança descobrir o conhecimento”. No entanto, acrescenta que os alunos daquela escola já costumam trabalhar com quadros interactivos, mas que agora, com a impressora 3D vão poder, por exemplo, fabricar objectos para o dia da mãe e do pai, ou então, para vender nas “feirinhas”.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

“Até ao final do ano lectivo”, garante o presidente, o objectivo é instalar as “Salas do Futuro”, com o mesmo equipamento, nas escolas secundárias e básicas do concelho, num investimento de mais cerca de 70 mil euros. “Ficamos com todos os níveis de ensino, desde que se entra até que se sai para a universidade, com a possibilidade de terem esta oportunidade de trabalhar neste contexto de aprendizagem. E este contexto é totalmente disruptivo, é diferente, é outro nível e outra forma de estar em sala de aula, de aprender, de interagir uns com os outros e os meninos com os professores e com as professoras”, explica.

O autarca refere ainda que vão ser criados “incentivos para que as escolas compitam pela positiva”, nomeadamente, com prémios anuais para as melhores programações de robôs e figuras em 3D.