Fazer justiça à história da ardósia no concelho, fazer desta pedra negra mais uma marca identitária de Valongo e gerar um diálogo entre artistas e história local são os principais objectivos da I Bienal de Escultura de Ardósia de Valongo.
O evento, cujo programa foi apresentado esta sexta-feira, no Fórum Cultural de Ermesinde, vai decorrer entre Janeiro e Maio do próximo ano e inclui residências artísticas; exposições; visitas orientadas às minas, a empresas e ao museu da lousa; workshops; mesas redondas e concursos de fotografia e de design de produto, entre outros.
“O concelho de Valongo tem imensas potencialidades. A melhor marca que podemos deixar é um reforço da identidade. O nosso território tem história e tem histórias”, salientou o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro.
Bienal vai colocar a ardósia “na ordem do dia”
Durante umas horas, o Fórum Cultural de Ermesinde transformou-se e vestiu-se de negro para recriar o ambiente de uma mina de ardósia. Os mineiros dos Cabeças no Ar e Pés na Terra conduziram os participantes da sessão num elevador escuro até ao auditório. Depois, houve performances artísticas para explicar o que é afinal a ardósia e a história de extracção deste material em Valongo.
Inserida no programa comemorativo dos 180 Anos do município de Valongo, a Bienal terá como patrono o mestre Zulmiro de Carvalho, escultor de referência no meio artístico. Além disso, nasce em parceria com a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), da Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos (ESAD) e conta com a participação da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, e das principais empresas extractoras de ardósia do concelho: a Empresa das Lousas de Valongo e a Pereira Gomes.
Durante a sessão de apresentação deste evento, Norberto Jorge, escultor e professor na FBAUP, confessou que enquanto escultor nunca usou este material. “A única vez que usei ardósia foi na escola primária, para escrever com giz”, disse. Na Escola de Belas Artes a ardósia também não é um dos materiais usados porque é preciso protecção específica para que possa ser trabalhada, referiu. “Mas esta matéria é interessante. Vamos colocar esta pedra na ordem do dia, reflectir sobre ela e ver como podemos trabalhá-la”, sustentou Norberto Jorge. “Vão acontecer coisas interessantes. Estejam atentos. De certeza que vão apaixonar-se pela ardósia”, sentenciou.
Já Jorge Simões, director da ESAD, defendeu que o design tem um papel fundamental na rentabilização da ardósia. “Com inovação pode-se criar riqueza e, quem sabe, empregabilidade com a ardósia de Valongo”, disse, acrescentando que o objectivo é levar a ardósia a “patamares de excelência”.
“É uma grande justiça que se faz à história da ardósia”
“É uma grande justiça que se faz à história da ardósia. Já devíamos estar a organizar a 40.ª e não a 1.ª bienal”, argumentou José Manuel Ribeiro.
Para o autarca, no ano em que se festejam os 180 anos do concelho de Valongo era importante destacar esta marca. “Há muito que pensávamos numa iniciativa e esta é a iniciativa correcta com os parceiros correctos. Vamos investir recursos avultados nesta iniciativa”, adiantou o presidente da câmara, sem concretizar números. “Esta é a oportunidade de ligar a história com a arte e de deixar uma marca no território”, frisou.
José Manuel Ribeiro adiantou ainda que, no dia 27 de Novembro, será inaugurada uma exposição em Campo, sobre a história desconhecida desta “pedra negra”, que relata a história menos boa da extracção de ardósia, desde a silicose “às condições pouco dignas dos trabalhadores”, dando-lhe uma “dimensão humana”.
Ao Verdadeiro Olhar, o proprietário da empresa Pereira Gomes, em Campo, defendeu que esta bienal pode “dar mais dignidade à ardósia” e pode levá-la para outros patamares.
“O Zulmiro Carvalho tem esculturas nos jardins da Gulbenkian, em Lisboa, feitas na minha empresa. Já mais de 20 escultores fizeram trabalhos com a minha ardósia. Sempre colaboramos com vários escultores”, afirmou Pereira Gomes, que também trabalhou nas minas de ardósia.
O empresário não deixou de lembrar que “a ardósia de Valongo foi considerada a melhor do mundo” e que já é usada em muitos produtos distintos. “Eu já exporto ardósia há 53 anos para toda a Europa, Japão e América. A ardósia está já divulgada por esse mundo fora. E já temos inovação. Fazemos pratos de ardósia e estamos a preparar relógios para um cliente dinamarquês”, referiu.
Pereira Gomes mostrou-se ainda satisfeito com a recriação a que assistiu. “Valeu a pena cá vir”, disse.
Programa incluiu visitas a minas a céu aberto e subterrâneas
O programa, que ainda pode sofrer alterações, arranca, em Janeiro, com dois concursos de fotografia e design de produto cujos vencedores serão conhecidos nos dois meses seguintes.
Em Fevereiro será inaugurada uma exposição de fotografia com os melhores trabalhos fotográficos, haverá uma cerimónia de entrega de prémios e uma mesa redonda sobre fotografia. Em Março, são conhecidos os vencedores do concurso de design, é inaugurada a exposição de Zulmiro de Carvalho e abrem as candidaturas para participar nas residências artísticas, cujos vencedores são anunciados em Abril. Nesse mês são entregues os prémios relativos ao concurso de design de produto e é inaugurada a exposição sobre o tema.
Por fim, em Maio, realizam-se as residências artísticas e mesas redondas sobre “Globalização e Identidade Regional – Valongo e o artesanato em ardósia”; “A educação pela pedra”; e “Ardósia: passado, presente e futuro”. Vão ainda decorrer workshops para vários públicos, promovidos por estudantes e artesãos locais. Serão ainda inauguradas esculturas nas freguesias do concelho e feita uma cerimónia final de entrega de prémios.
Entre Fevereiro e Abril vão também decorrer, mediantes inscrição, visitas orientadas ao Museu da Lousa, à Empresa de Lousas de Valongo, à empresa Pereira Gomes e Carvalho, a uma mina a céu aberto, a uma mina subterrânea e às diversas exposições realizadas no âmbito da bienal.