O conceito é simples: reduzir o volume de resíduos gerados pelos folhetos publicitários. Para isso, a Lipor lançou aos moradores da Rua Padre Avelino de Assunção, em Ermesinde, Valongo, o desafio de deixarem de receber publicidade não endereçada. 84% dos moradores contactados das cerca de 90 casas da rua aceitaram e colocaram um autocolante junto à caixa do correio a dizer “Aqui não”.
Segundo a Lipor, este projecto é “inovador” e esta será, “provavelmente”, a primeira “rua 100 publicidade” de Portugal. O objectivo é replicar esta iniciativa, na freguesia e neste e noutros concelhos.
Projecto é para ser replicado
A Lipor, serviço intermunicipalizado que gere e trata os resíduos dos concelhos de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde, fez as contas. Só em 2017, foram produzidas 15.500 toneladas de resíduos de prospectos e folhetos publicitários na sua área de influência. Esta produção, diz a mesma entidade, corresponde a 155 mil árvores abatidas, quase 7,8 milhões de litros de água utilizados e a um consumo de energia correspondente a 775 mil lâmpadas.
Mudar estes números passa por mudar comportamentos. Por isso, no âmbito da Semana Europeia da Prevenção de Resíduos, em parceria com o município de Valongo e a Junta de Freguesia de Ermesinde, foi lançada a campanha “Rua 100 Publicidade”, que desafiou os habitantes de uma rua a abdicar da publicidade não endereçada.
Durante esta semana, foram realizadas acções de sensibilização porta-a-porta e uma análise de resultados, que foram apresentados este sábado, com o descerramento de uma placa na rua.
Catarina Almeida, do Grupo de Prevenção da Lipor, adiantou que, durante as acções realizadas, só 24% dos moradores não abriram a porta ou não estavam em casa. “84% dos que contactamos aderiram e estimamos um potencial de redução de papel de 83,6%”, referiu. Os números, garantiu, são interessantes e fazer querer repetir o projecto. “Queremos replicar isto e ter mais ruas sem publicidade”, afiançou.
A mesma vontade tem o presidente da Junta de Ermesinde. João Morgado diz que houve aceitação da população contactada. “Mesmo os que gostam de ler os folhetos acham que isto faz sentido”, salientou. O autarca lembrou ainda que a freguesia tem em curso outras iniciativas de carácter ambiental com a recolha de lâmpadas e pilhas usadas.
Em representação da Câmara de Valongo, Paulo Ferreira salientou que o concelho tem dado “passos em frente” na recolha selectiva porta-a-porta. “A câmara está apostada em acabar com os “molok’s” [contentores semi-enterrados]. Isso é o futuro”, defendeu o vereador. O autarca caracterizou este projecto “como um pequeno grande gesto”, numa altura próxima das festas em que a publicidade prolifera. “O hábito é pegar nos folhetos e deitar ao lixo. Isto faz todo o sentido e esperemos que dê frutos”, disse Paulo Ferreira.
“Quando quero o folheto trago do supermercado”
José Manuel Ribeiro tem 66 anos. Mora na Rua Padre Avelino de Assunção há 42 anos. E não esconde que é corriqueiro abrir a caixa do correio e colocar os folhetos directamente no saco do ecoponto sem sequer olhar. “A minha esposa ainda espreitava, de vez em quando, mas eu era raro olhar para eles”, comentou, justificando a adesão ao projecto. “Sou contra colocarem folhetos nas caixas do correio. Por mês era muito papel e só dá trabalho”, acrescentou o morador.
Ficar com a caixa “atafulhada” de publicidade também era uma situação habitual na casa de Maria Helena Rocha. Até que a mulher de 71 anos tomou medidas. Já há algum tempo colocou na caixa de correio a indicação de que não queria receber publicidade não endereçada, vontade que agora renovou. “Esta publicidade é um desperdício de papel e depois ainda temos que o levar aos contentores. Desde que pus o autocolante as pessoas respeitam”, afirmou a sénior, que faz reciclagem e tem uma grande preocupação com o ambiente. “Quando quero o folheto trago do supermercado”, explica.
Quem prefere manter os folhetos é Aura Silva. Há alguns anos atrás, reconhece, a caixa do correio enchia rapidamente com este tipo de prospectos, o que já não acontece agora. “Só chegam cerca de uma vez por semana e fico a conhecer as promoções. Junto tudo e depois levo ao ecoponto”, disse a moradora.
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