Pode dizer-se que trabalham, sobretudo, debaixo da terra e já geo-referenciaram “cerca de 400 cavidades” nas Serras do Porto, uma região marcada por antigas minas de ouro que representam vestígios pré-históricos únicos. E esta é uma parte do caderno de encargos do clube de montanhismo Alto Relevo, com sede em Valongo, que, este ano, assinala mais um aniversário sob o lema “25 anos, 25 estórias e 25 objectos”.
Considerado como o verdadeiro pulmão verde da área metropolitana, o Parque das Serras do Porto percorre uma área de cerca de 6000 hectares, abrangendo os territórios de Valongo, Paredes e Gondomar e é composto por seis serras: Santa Justa, Pias, Castiçal, Santa Iria, Flores e Banjas. Destacam-se ainda os vales dos rios Ferreira e Sousa.
Classificado como paisagem protegida regional, envolve um património natural riquíssimo. Desde o geológico, onde se destaca o Anticlinal de Valongo, ao biológico, com espécies diversas que o tornam único. Uma das atracções são as minas, resultantes da exploração de ouro.
O Alto Relevo Clube de Montanhismo promove a “protecção deste património e ambiente”, sobretudo de Valongo, o município que acolhe esta estrutura desde 1998 e de cujas serras o grupo usufrui, no âmbito de uma das suas actividades, a espeleologia onde “reúne e produz informação sobre estas minas abandonadas, pois só se protege o que se conhece e só se valoriza o que é estudado”, explicou ao Verdadeiro Olhar Vítor Gandra, presidente da direcção.
Refira-se que, a espeleologia é a ciência que estuda as cavidades naturais e outros fenómenos cársticos, nas vertentes da sua formação, constituição, características físicas, formas de vida, e sua evolução ao longo do tempo. E é nesta âmbito que a Alto Relevo já sinalizou 400 cavidades.
Ao valorizar todo este património, imbuído numa “estratégia de preservação” e que envolve um “importante legado histórico, será possível “atrair cada vez mais pessoas”, também turistas, ao mesmo tempo que “se dinamiza o património e a economia local”, explica Vítor Gandra.
O Alto Relevo, que tem 700 associados, sendo que 200 são activos, promove ainda outras actividades ao ar livre, algumas delas sazonais, como sejam o BTT, o canyoning, a escalada, o montanhismo, o Ski e o Trekking.
Vítor Gandra, que diz que gerir esta associação, que é uma organização não-governamental, é um desafio e não se cansa de destacar o papel importante “de todo o património existente nas Serras do Porto”. “É imenso”, sendo que deve ter “o maior complexo mineiro subterrâneo do mundo”. Mas, e quanto a isto, não há certezas, mas o Alto Relevo trabalha para que um dia venha a ser considerado como tal. E no âmbito de toda a investigação, o clube conta com o apoio da Câmara Municipal de Valongo, assim como do meio académico, como seja a Universidade do Porto, para recolher dados que possam sustentar esta tese.
Apesar de reconhecer que, neste estudo ainda “há muito trabalho a fazer”, porque não foram exploradas todas as cavidades, devido a “derrocadas” ou ao “incidente no fojo das pombas”, por exemplo, a verdade é que há avanços ao nível de conhecimentos nesta área. Vítor Gandra adianta que, ultimamente, “têm sido descobertas passagens de galerias”, naquela zona.
No futuro, a ideia passa por “fazer o levantamento tridimensional da área e depois fazer visitas virtuais”, contou ao Verdadeiro Olhar.
Aliás, e no âmbito de toda esta investigação, o Alto Relevo já realizou várias edições do congresso sobre a mineração romana em Valongo que “pretende dar a conhecer à população o património que se encontra à vista de todos e que nem sempre é do conhecimento geral”, explicou Vítor Gandra, acrescentando que os participantes ficam a conhecer, através dos maiores especialistas da área, o que “existe de especial nestas minas com 20 séculos de existência”.
Há muitos anos que o assistente administrativo, que tem 45 anos, se sentiu motivado a embarcar em todo este projecto do Alto Relevo, porque queria “participar no estudo do complexo mineiro em Valongo” que, e volta a sublinhar, é “um património importante que vale a pena conhecer”.
Foi no dias 23 de Junho de 1998 que nasceu o clube, mas e devido à sua dimensão e “importância, a direcção resolveu comemorar a data ao longo do ano com um conjunto de actividades. Assim, será feito um périplo pela história ou estória desta colectividade que, através das redes sociais e do seu site já lançou o primeiro capítulo com uma breve resenha de como tudo começou.
Para além disso, na sede do clube vai nascer uma exposição temporária onde, de 15 em 15 dias, será “colocado um objecto histórico para o Alto Relevo”. Serão um total de 25, sendo que o primeiro é um cartaz, de 1998, com a primeira actividade.
E enquanto não conseguir provar que em Valongo se situa o maior complexo mineiro romano do mundo, o Alto Relevo vai continuar a trabalhar para envolver a população e as entidades locais neste objectivo que é também de todos, não só a nível local, mas nacional.