Os pais foram avisados esta semana. O pavilhão gimnodesportivo da Escola Básica Vallis Longus, em Valongo, ia ser encerrado, “por tempo indeterminado”, a partir de segunda-feira, dia 28 de Janeiro, e as aulas de educação física canceladas. Em causa, diz a direcção do Agrupamento de Escolas com o mesmo nome, está a falta de assistentes operacionais.
“Considera-se que não existem as condições necessárias para garantir o bom funcionamento de todos os serviços e ao mesmo tempo garantir a segurança dos nossos alunos”, informava a escola, lembrando que, também por falta de pessoal, a biblioteca só abre quando há professores disponíveis.
“Esta direcção tem apelado, recorrentemente, às instâncias superiores para a resolução deste problema (…) mas não obtivemos resposta às nossas solicitações”, sustenta o comunicado enviado aos pais.
O director do agrupamento assume que esta foi uma posição “extrema” e uma forma de “pressão” aos responsáveis pela educação. É que, desde Setembro, explica, que tem apelado para o reforço de assistentes operacionais. Neste momento, faltam seis pessoas, devido a aposentações e atestados.
Esta não é a primeira vez que a escola segue este caminho. Há três anos, depois de fechar também o pavilhão, a escola recebeu mais funcionários cerca de uma semana e meia depois.
A situação parece ter-se repetido desta vez. Esta quinta-feira ao final do dia, já depois de contactado pelo Verdadeiro Olhar, o director foi informado de que a escola ia ser autorizada a contratar quatro tarefeiros, num total de 14 horas diárias (três horas e meia cada profissional). Mas esse processo, assumia Artur Oliveira, apesar de permitir atenuar “a crise” vivida ainda iria demorar cerca de um mês, para cumprir os trâmites normais, que já foram desencadeados esta sexta-feira. Mesmo com a expectativa de que, com o regresso de uma das funcionárias com atestado médico, no dia 1 de Fevereiro, pudesse ter assistentes operacionais suficientes, o pavilhão gimnodesportivo ia estar encerrado pelo menos na próxima semana e os alunos sem as respectivas aulas de educação física, pelo menos práticas, já que iam ser garantidas algumas aulas teóricas.
Entretanto houve novo revés. “Houve novo despacho a autorizar-me a recorrer à lista graduada do último concurso e vamos chamar os funcionários. Talvez na quarta-feira o pavilhão já esteja a funcionar”, informou o director. Com o regresso dessa outra funcionária a normalidade deve ser reposta na semana seguinte.
“Fechar o pavilhão de educação física foi uma forma de pressão e resultou”, assume Artur Oliveira. Nas suas comunicações com a Direcção-Geral de Estabelecimentos Escolares, o docente já tinha alertado que, em caso de agravamento do problema o próximo encerramento seria o da sala de educação especial, para libertar outros dois funcionários para apoio aos pavilhões de aulas.
Pais dizem que falta de funcionários é recorrente
Contactado, Marco Marinho, presidente da Associação de Pais da escola, defende que o encerramento do pavilhão gimnodesportivo “não é solução” e apenas agrava e protela a resolução do problema. “O facto de não haver aulas de educação física vai levar a um aumento do número de alunos nos espaços de recreio o que certamente trará mais dificuldades; a educação física é uma disciplina que tem a mesma importância de todas as outras e não deve ser menosprezada desta forma; e a exemplo do que acontece nos dias de greve, não existindo condições de funcionamento, a escola não deve abrir”, alega.
“O défice de assistentes operacionais é recorrente. Todos os anos se fala da mesma coisa. Achamos que chegou a um ponto em que realmente tem que ser tomada uma posição mais forte para que isto seja resolvido de vez e não se esteja a empurrar para a frente a resolução do problema”, sustenta ainda Marco Marinho, dizendo que os pais estão revoltados.
Questionados, alguns pais com filhos nesta escola básica confirmam que a falta de pessoal é problema antigo. “Sei que existe falta de pessoas, esta escola sempre teve esse problema”, refere Aida Duque, mãe de um menino de 10 anos. “Recebemos um comunicado a dizer que iam encerrar o pavilhão por falta de funcionários é claro que isso nos assusta, a nível da segurança principalmente. O meu filho tem aulas à terça, quarta e sexta. À terça e quarta não há problema porque é o último tempo de tarde e venho buscá-lo. À sexta é mais perigoso, porque tem mais uma aula e ficam ali uma hora”, explica, acreditando que a escola não pode fazer muito mais.
“Isto preocupa um bocadinho. Há miúdos que é o único desporto que fazem, mas penso que esta situação será passageira e que tudo se vai resolver”, afirmava Luísa Ana, outra mãe, esta sexta-feira. Já Cristiana Oliveira concordava com esta forma de luta da escola. “Penso que esta opção é para chamar a atenção ao Ministério da Educação para colocarem mais pessoas. Acho que se até aqui não conseguiram de outra forma há que tentar um último recurso”, disse a mãe de duas alunas.
Face às críticas da associação de pais, Artur Oliveira, garantiu que “não há menorização da disciplina de educação física”. “Havia um sector que tinha que fechar e foi um dos que ocupa mais funcionários”, referiu. “Tudo foi estudado para o bem-estar e segurança dos alunos. A previsão era passar algumas aulas a teóricas, sempre que há salas livres, sobretudo quando os directores de turma eram professores de educação física”, explicou ainda.
A Escola Basica Vallis Longus tem 1.064 alunos quando está dimensionada para 660. As queixas em relação à sobrelotação e falta de salas e a reivindicação de obras é frequente.
O Verdadeiro Olhar pediu esclarecimentos ao Ministério da Educação. Numa resposta breve, informou que “os serviços estão a acompanhar a situação, tendo já sido comunicado à escola um reforço dos recursos disponibilizados”.