O Ministro da Administração Interna anunciou, este domingo, em Valongo, durante as cerimónias que assinalaram os 125 anos dos Bombeiros Voluntários de Valongo, que na reprogramação do Portugal 20/20 o Governo vai incluir mais de 50 milhões de euros para a Protecção Civil. O objectivo é que as corporações de bombeiros possam renovar o parque de viaturas de combate a incêndio. “A urgência e a prioridade da segurança das populações tem que ter uma resposta acrescida imediata”, afirmou Eduardo Cabrita. O ministro disse ainda que, até ao final do ano, as corporações contarão com mais 1.500 bombeiros profissionais.
A informação surgiu depois de a Federação dos Bombeiros do Distrito do Porto e a Liga de Bombeiros Portugueses terem pedido mais apoios às corporações em várias áreas.
70% das 400 viaturas de combate a incêndios no distrito do Porto têm mais de 20 anos
O tema tinha sido primeiro levantado pelo presidente da Federação de Bombeiros do Distrito do Porto. José Miranda afirmou que, no distrito, existem 400 viaturas de combate a incêndio, sendo que 70% delas têm mais de 20 anos. “E dessas, 103 viaturas têm mais de 30 anos e ainda temos três viaturas com 45 anos que estão ao serviço. Algo que só é possível pela dedicação e carinho dos bombeiros que trata as viaturas como seus filhos”, frisou.
Por isso, o presidente da federação portuense deixou um apelo ao ministro: “Não lhe peço mais nada, só peço que o quadro comunitário 20/30 dê a possibilidade aos bombeiros de serem candidatos a viaturas de combate a incêndio. Nós garantimos desde já que libertamos o Governo da comparticipação nacional, nós assumimo-la porque também temos bem a noção das nossas responsabilidades”, sustentou.
Também Bruno Alves, da Liga dos Bombeiros Portugueses, lembrou o ano de 2017 que foi “difícil para o Governo e para os bombeiros portugueses e para a população”. Sustentou ainda que o mês de Março foi de muito trabalho e que a Liga está satisfeita pelas negociações desenvolvidas com o Governo. “Houve abertura do Governo para que os bombeiros portugueses tenham mais condições para desenvolver a sua actividade que é o socorro das populações. Estamos satisfeitos mas não chegamos aos 100%. Conseguimos a criação de 120 equipas EIP (Equipas de Intervenção Permanente) em 2018. E também é verdade que na directiva financeira e operacional chegamos a um equilíbrio”, afirmou o representante da Liga.
Liga apelou ao Governo que não deixe de investir nos bombeiros
“Já conseguimos muitas coisas importantes. Mas não podemos ficar por aqui. É urgente rever a lei de financiamento dos bombeiros. Sem uma boa lei de financiamento de bombeiros as associações não conseguem ter sossego. Também é preciso o cartão social do bombeiro”, defendeu.
Bruno Alves, lembrou ainda ao ministro da Administração Interna que os bombeiros portugueses são o maior agente de protecção civil e estão em 96% dos teatros de operações, deixando um apelo. “Não queremos ser diferentes dos outros nem ser melhores que os outros. Queremos ser tratados à dimensão daquilo que somos. Não deixe de investir naquele que é o maior agente de protecção civil e naquele em que o povo português tem a confiança para que seja prestado o socorro”, pediu.
“Não há nenhum dia do período de Verão em que não estejamos em risco máximo de incêndio”
Da mesma forma, o presidente da Câmara Municipal de Valongo lembrou ao governante que o concelho, principal porta de entrada do Parque das Serras do Porto, com vasta área de serras e floresta é de elevada perigosidade. “Não há nenhum dia do período de Verão em que não estejamos em risco máximo de incêndio. Aqui é mais difícil ser bombeiro”, disse.
“Temos entre 2.000 a 3.000 hectares de território da rede natura. Temos um parque com cerca de 6.000 hectares de uma zona ambiental muito grande e uma massa florestal em contacto directo com centenas de milhares de pessoas em Valongo, Gondomar e Paredes. O risco nestas zonas não é o mesmo. Não podemos tratar tudo da mesma forma. Quem está num combate com mais exigência precisa de discriminação positiva”, defendeu José Manuel Ribeiro. “É preciso resolver os problemas das zonas que são prioritárias”, acrescentou o autarca, argumentando que nunca se fez tanto pela prevenção no concelho como na antecipação desta época de fogos.
“Se há marca traumática que assolou a sociedade portuguesa foi a marca dos incêndios florestais de 2017”
Durante o discurso proferido na cerimónia de aniversário dos bombeiros valonguenses, Eduardo Cabrita diz que é preciso reflectir sobre os desafios recentes e olhar para o futuro. “Se há marca traumática que assolou a sociedade portuguesa foi a marca dos incêndios florestais de 2017 em que mais de uma centena de concidadãos perderam a vida e muitos mais perderam bens e o emprego num quadro de circunstâncias excepcionais das quais importa tirar lições”, referiu o governante.
Segundo o Ministro da Administração Interna, é isso que, com os bombeiros, o Governo tem vindo a fazer. “É preciso assumir todas as responsabilidades e tirar todas as conclusões para que tudo o que possa depender de nós seja diferente”, afirmou.
Definindo os bombeiros como “a coluna vertebral” do modelo de Protecção Civil, em estreita articulação com as autarquias locais e comunidades, Eduardo Cabrita adiantou que, este sábado, no Conselho Nacional da Liga de Bombeiros Portugueses, acordou-se o essencial de “um trabalho que não termina aqui mas começa aqui”.
“Temos a certeza que as políticas ambientais, de valorização do interior e a reforma da floresta só produzirão efeitos daqui a bastantes anos. Por isso, é preciso estar melhor preparados para responder aos desafios que já estão à porta”, sustentou.
O trabalho tem sido desenvolvido em três frentes: aproximar a prevenção do combate ao incêndio, reforçar a profissionalização do sistema e reforçar a especialização.
“Nunca se tinha feito tanto e falado tanto de prevenção como nestes primeiros meses de 2018”
“Nunca se tinha feito tanto e falado tanto de prevenção como nestes primeiros meses de 2018. Essa é uma primeira vitória que se deve ao esforço de todos”, destacou o ministro. Depois, na área da auto-protecção, foram identificadas 1091 freguesias de risco em 189 concelhos do continente. “Em todas as freguesias estão a ser identificadas áreas de evacuação e a quem cabe alertar e ‘tocar o sino’. Em cada aldeia, em cada localidade, todos devemos saber o que fazer”, afirmou.
Por outro lado, tem-se procurado articular o voluntariado com a profissionalização. “Nos Bombeiros de Valongo existem cerca de três dezenas de profissionais. Aquilo que queremos é um reforço das estruturas profissionais em todas as corporações. Este ano vamos criar 120 novas equipas profissionais, em função das áreas de risco. Mais cerca de 1.500 bombeiros vão ter estatuto profissional no final do ano, 1.300 já até ao Verão”, adiantou.
Em resposta ao apelo de José Miranda, o ministro da Administração Interna também disse que vai haver mais apoios para a renovação de viaturas. “Senhor presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito do Porto, tem toda a razão quando colocou o desafio para o Portugal 20/30, mas não podemos esperar tanto. Agora que estamos a tratar da reprogramação do Portugal 20/20, que está a decorrer e terá que estar concluída até ao início do segundo semestre deste ano, aquilo que decidimos é reforçar a área da Protecção Civil com recursos superiores a 50 milhões de euros”, garantiu.