A sociedade possui problemas complexos que requerem soluções que são tudo menos simples. Esta situação pode ser uma boa oportunidade para que o ensino universitário volte a recuperar a herança humanista que se perdeu em muitas faculdades. A dimensão prática dos conhecimentos é importante, mas não pode ser a única nem pode ser a preponderante.
É importante voltar a recordar qual deve ser a essência da Universidade: não tanto um lugar para formar técnicos mais ou menos especializados, mas sim um âmbito de reflexão com potencial para entender e propor soluções para os problemas complexos e profundos da sociedade.
Um lugar que permita desenvolver uma capacidade de diálogo que depois se transmita a todos à sua volta. Porque sem um diálogo franco e que procure a verdade já se viu que não vamos a lado nenhum.
A Universidade é uma instituição que surgiu como a encarnação da unidade do saber. É útil regressar à sua concepção humanista original e recuperar as suas raízes, que estão presentes na cultura ocidental: a ética judaico-cristã, a confiança na razão e o respeito pelo direito.
Arnold Weinstein, professor de literatura da Universidade de Brown, afirma que “as humanidades obrigam-nos a conjugar o mundo em primeira pessoa”. O saber humanístico não é um simples desenvolvimento da erudição. É uma forma de vermos a realidade que nos circula e entendê-la à luz da natureza humana.
Antes de tomarmos decisões sobre como devemos caminhar, temos de ter bem claro aonde queremos chegar. Sem formação humanista – ou somente com uma aprendizagem técnica – é fácil dar lugar a uma excessiva especialização e esquecer os grandes problemas sociais e humanos que estão presentes e requerem olhar para eles com uma perspectiva não só técnica.
Isto é algo que toda a sociedade tem direito a esperar dos estudantes universitários. Sem um cuidado na formação humanista – seja qual for o curso que se estude – não é possível esta aportação universitária de que a sociedade tanto necessita.
Um livro que recomendo a todos os estudantes universitários: “Cultura e Humanismo” de Juan Luis Lorda (Encontro da Escrita). Pode ajudar a perceber aquilo que devíamos aprender nas aulas da Universidade e que, muitas vezes, por falta de tempo, não nos é ensinado.