O que à primeira vista poderia parecer um simples diferendo entre a ADISCREP — entidade que gere a Universidade Sénior de Penafiel — e a Câmara Municipal, revela-se como algo bem mais complexo. É preciso olhar além dos cadeados e das redes colocadas pela autarquia para perceber que este conflito tem contornos políticos que não podem ser ignorados.
A decisão do presidente da Câmara de Penafiel de despejar cerca de 80 alunos seniores do espaço que frequentam diariamente, sob o pretexto de “interesse público”, não é apenas uma questão administrativa. Está claro que há uma estratégia mais ampla em marcha, uma espécie de purga de todos aqueles que, de uma forma ou de outra, estiveram próximos de Alberto Santos, o atual presidente da Comissão Política do PSD e antigo presidente da Câmara. O que se passa na Universidade Sénior não é um caso isolado, mas parte de um movimento para eliminar qualquer vestígio de influência ou proximidade com a anterior liderança, especialmente daqueles que mantêm laços de amizade ou aliança política com Alberto Santos.
Ora, é importante sublinhar que tanto o presidente como a vice-presidente da ADISCREP, que estão agora na linha de fogo deste embate, foram apoiantes declarados de Alberto Santos durante as eleições internas do PSD. Será coincidência que o edifício que até agora serviu de espaço de convívio, aprendizagem e partilha para dezenas de seniores seja precisamente aquele que a autarquia decide reclamar, quando há poucos anos tinha sido cedido à associação por um período de 20 anos? Para nós, não parece.
O presidente da Câmara de Penafiel pode alegar que esta decisão é baseada em necessidades operacionais ou em motivos de gestão do património municipal, mas os factos mostram-nos outra coisa: uma tentativa calculada de afastar e desmantelar aqueles que, politicamente, não lhe são próximos. A limpeza de todos os que, de alguma forma, mantêm uma ligação com o seu antigo mentor e agora rival político parece estar a acontecer com uma frieza estratégica que nos faz lembrar as velhas práticas de retaliação política.
E aqui, os alunos da Universidade Sénior tornaram-se vítimas colaterais de um jogo de poder que nada tem a ver com os interesses da comunidade. Aqueles que ali frequentam, que encontram nas atividades e nas amizades uma forma de combater a solidão e manter a vitalidade, foram apanhados no fogo cruzado de uma batalha que se trava longe das suas preocupações diárias.
Voltaremos a este tema em breve, com mais detalhe e mais factos. Por agora, é essencial que os leitores percebam que o que está em causa vai muito além de uma disputa sobre um edifício. Trata-se de uma questão de princípios, de justiça e de valores democráticos. O VERDADEIRO OLHAR continuará a acompanhar este caso com a atenção que merece, porque esta é uma história que não acaba com a retirada de um cadeado.