Provavelmente, nunca imaginaríamos que ao longo da nossa vida estaríamos a assistir aos acontecimentos que hoje são uma realidade na Ucrânia, que pareciam muito distantes ou até mesmo impossíveis de ser vistos em pleno século XXI.
Falar em guerra e em armas, num país a ser destruído consecutivamente e num verdadeiro atentado à liberdade de um povo são factos distantes do imaginário da maioria das gerações, que vivem há praticamente 15 dias num sobressalto pelo que o presente nos reserva.
Sim, no que nos reserva porque, independentemente das leituras que possam ser feitas quanto às intenções futuras do líder russo relativamente à Europa, é impossível ficar indiferente ao sofrimento atroz que a população ucraniana está a sentir, já que a humanidade só nos pode fazer pensar como um único povo, que merece ser respeitado em toda a sua diferença.
É realmente impossível ficar indiferente a um cenário aterrorizador de milhões de famílias que, de um momento para outro, veem a sua vida em suspenso e, mais do que isso, comprometida, forçados a abandonar as suas casas e o seu país, para uns, e a partir para a luta, para outros, quebrando famílias e destruindo as vidas construídas à base da perseverança de cada um, que resulta no maior movimento de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.
Testemunhos arrepiantes de civis que nunca pegaram numa arma a serem forçados a defender o seu país, perante as suas famílias impotentes, a fugir em prol da sua sobrevivência, com o risco (real) de estarem em perigo, incluindo crianças e idosos que não mereciam estar a passar por tudo isto numa fase em que dependem de terceiros para a sua proteção e falta de autonomia.
Com este conflito, que devemos condenar veemente, percebemos o efetivo valor da União Europeia e da congregação de esforços, para além da responsabilidade inerente a este caos, que já se fez perceber que está mais próximo do que aquilo que poderíamos pensar.
Desta forma, a aproximação da Ucrânia ao longo dos últimos anos ao espaço europeu é um fator decisivo no posicionamento que os países europeus têm adotado face ao invasor russo, nomeadamente por via de severas sanções, maioritariamente de natureza económica e diplomática, que se encontram perante o difícil e exigente equilíbrio com uma resposta sem envolvência direta na guerra.
Portugal está, neste momento, a desenvolver esforços para apoiar o povo ucraniano neste combate despropositado, quer por via do apoio logístico na frente de guerra, quer pela resposta de integração e acolhimento dos refugiados, na medida do possível em relação à sua capacidade de intervenção.
Em complemento à mobilização dos portugueses em ações de solidariedade na recolha de bens e transporte para os locais do conflito, o Estado português criou mecanismos de facilitação da receção dos ucranianos que estão a fugir do país para estar em segurança, promovendo equipas de acompanhamento desde a sua chegada e de orientação para o alojamento, inserção profissional e disponibilização dos cuidados primários, particularmente de saúde e educação, garantindo não só o acolhimento como a respetiva integração.
Numa primeira fase foram já disponibilizados alojamentos para 1245 pessoas, criando-se redes de emprego e escolarização integradas e o acesso a serviços indispensáveis, como a Segurança Social, o Serviço Nacional de Saúde e o Instituto de Emprego e Formação Profissional, onde foi também criada uma plataforma para o carregamento de oportunidades e perfis profissionais, que contou com mais de duas mil propostas de emprego na sua constituição.
Para a respetiva concretização, o Governo tem contado com a colaboração das autarquias, organizações da sociedade civil, IPSS´s e empresas, em articulação estreita com a comunidade ucraniana, encontrando soluções simplificadas e imediatas para as famílias que chegam ao nosso país, muitas delas sem qualquer retaguarda de familiares e amigos num momento de enorme incerteza e tristeza, pelo que se espera que os próximos tempos sejam de grandes desafios, nos quais os portugueses serão, como sempre, exímios.
Esses desafios são, adicionalmente ao apoio dado, motivo de apreensão face às questões que vão sendo levantadas, como por exemplo a dependência europeia do gás proveniente da Rússia e a pressão que derivará do estado atual de guerra, e que já se reflete no aumento dos preços de diversos produtos.
Certo é que não haverá nenhum país capaz de responder isoladamente ao impacto económico e social desta guerra, que vem uma vez mais demonstrar a dependência global entre estados, que por muito mais que vivam com a sua autonomia, dependem sempre do relacionamento interpares para sustentar o crescimento de e para todos.