Ele é um terrorista islâmico?

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José Maria AndréO Vasco Mina mostrou-me um «chat» em que participa, no «Whatsapp».

Luísa: Vai chegar, no dia 20, uma família da Síria. Temos uma casa que nos foi cedida e precisamos ainda de candeeiros, talheres, cesto e tabuleiro para roupa, aspirador, utensílios de cozinha, caixas para arroz e massa, balde com esfregona,…

Antónia: Ofereço os candeeiros. Onde se entrega?

Marta: Tenho cestos de roupa cá em casa. Ofereço.

Jaime: Dou o aspirador.

Teresa: Luísa, tenho imensa roupa das miúdas. Será que vão necessitar?

O diálogo continuou até que, no passado dia 20, chegaram os sírios. Esqueléticos, fugidos de um país destruído pela guerra, depois de uma evasão perigosa e de uma escala num campo de refugiados na Grécia. Claro que não falam português, nem têm as vacinas em dia, nem trazem bagagem.

O Vasco acabou por partilhar no seu blogue (http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/acolhimento-e-santo-natal-6465512) o início de conversa que transcrevi no início e – surpresa! – só apareceram críticas na caixa de comentários. Parece que o encontro com novas culturas gera pânico.

No entanto, o momento mais alto da história portuguesa foi quando nos enchemos de coragem e demos novos mundos ao mundo. Os nossos antepassados ultrapassaram os Adamastores do oceano e abriram-se à riqueza humana espalhada pela Terra. No meio de generosidade e fraquezas, deslumbraram-se com a vida humana que brilha no rosto escuro dos africanos, nos olhos fechados dos chineses, na pele cobre dos indianos…

«Descobrimentos» é o nome desse período áureo. Também foi tempo de incerteza, de susto, de sofrimento e de saudades, de negócio e de curiosidade, e de enamoramento, de fidelidade e de traição. A aventura humana inclui todas as facetas.

Largar amarras. «Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho!» – disse Cristo. O grande problema é a incerteza da relação humana. Como reagem aqueles de quem nos aproximamos? Uns agradecem, outros rejeitam-nos. Uns convertem-se, outros vingam-se do bem que procuramos fazer. A experiência remonta ao primeiro Natal: uns adoram o Menino, outros procuram matá-Lo. Já o Profeta Simeão dizia que Ele ia ser «sinal de contradição».

A vida é contraditória. Os que conhecemos enganam-nos e quantas vezes os que vêm de longe nos compreendem melhor!

Por exemplo, a Direcção do Mosteiro de Alcobaça proíbe actividades religiosas e organiza desfiles de moda; opõe-se a que haja um ambiente recolhido junto do Sacrário; expõe imagens de Nossa Senhora viradas para a parede, em trajes ridículos; patrocina no espaço da igreja performances com pouco decoro. Porquê? Não são portugueses como nós?

Certa vez, perguntava a mim mesmo se devia protestar mais energicamente contra dois professores da universidade que se excediam em insultos contra Deus. Momentos depois, já só estávamos os três, contaram-me as circunstâncias pessoais: um deles era neto de um padre, o outro era filho de um padre.

É difícil imaginar o que se esconde na história de cada pessoa e injusto presumir quem vai reagir mal. O que move certas autoridades do nosso país? Quais são as intenções dos refugiados que chegam à Europa?

Recentemente, numa audiência de quarta-feira, o Papa Francisco contou uma história passada em Roma. «Um refugiado tentava orientar-se nas ruas e uma senhora aproximou-se: «Procura algo?». O refugiado, que estava descalço, explicou: “Quero ir à basílica de São Pedro, para ganhar o Jubileu”. A senhora pensou: “Sem sapatos, como é que este homem lá chega?”. E mandou parar um táxi. O refugiado cheirava mal e o taxista não estava muito disposto a deixá-lo entrar; no final aceitou. No percurso, a senhora fez perguntas (…). O homem narrou a sua história de dor, de guerra, de fome e a razão de ter fugido da sua pátria (…). Quando chegaram, a senhora abriu a mala para pagar mas o taxista, que no início não queria que o imigrante entrasse, porque cheirava mal, insistiu: “Não, minha senhora, sou eu que devo pagar-lhe porque me fez ouvir uma história que mudou o meu coração”. Esta senhora conhecia o sofrimento dos imigrantes, porque tem sangue arménio e sabe o que o seu povo padeceu. Quando fazemos algo deste tipo, no início recusamo-nos, porque nos incomoda um pouco, “cheira mal!”. Mas, no final, a história perfuma-nos a alma e faz-nos mudar. Pensai nesta história e pensemos no que podemos fazer pelos refugiados».

Como é que Nossa Senhora, S. José e o Menino reagiriam, se estivessem no meu lugar?