Nelson OliveiraAntónio Costa, Mário Centeno e, é bom que se diga, toda a coligação que suporta o Governo, jogam em Bruxelas uma cartada fundamental para o futuro político do país.

Até hoje, para lamento de alguns, o Governo está a fazer exatamente aquilo que prometeu em campanha. Sabemos bem que o cumprimento de promessas junto dos eleitores não tem sido um tema com o qual os Portugueses estejam muito habituados, havendo até o caso de choverem críticas por parte da opinião pública quando as promessas não são cumpridas, mas também, por incrível que pareça, quando estas começam a ser efetivamente cumpridas.

Depois de um governo PSD/CDS, subjugado à tecnocracia onde a política era nula ou parente pobre na condução de um país, António Costa aposta tudo na política.

Aliás, se há mérito que tem que ser dado ao Primeiro-Ministro é fazer política em toda e qualquer ação governativa e isso não é mau. De uma vez por todas os políticos tem que fazer política, fazer escolhas, saber negociar, interceder pela melhoria das condições dadas ao país em determinada matéria ao invés de continuarmos a ser liderados por meros tecnocratas que pelos vistos nenhum sucesso tiveram.

Aqueles que hoje criticam um simples esboço do Orçamento de Estado e uma carta enviada por Bruxelas a pedir esclarecimentos, esquecem-se que em 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015 o anterior governo não acertou uma única vez as previsões do défice e recebeu ordens expressas para alterar e penalizar a política fiscal. Esquecem-se também que a redução da dívida, bandeira eleitoral da direita, nunca foi atingida ou, pelo contrário, em todos esses anos a dívida aumentou. Esquecem-se ainda das negociações orçamentais que Espanha, Itália e França fizeram com Bruxelas, nos mesmos moldes que Portugal está agora a fazer.

É certo que António Costa está a conceber um jogo arriscado e que muitas poucas pessoas teriam essa coragem. Não é afrontar Bruxelas. É tentar fazer com que aceitem melhores condições orçamentais para melhorar o dia-a-dia dos cidadãos. E é isso mesmo que os Portugueses não estavam habituados – ter à frente do país quem pretende cumprir os compromissos eleitorais mas também europeus.

Hoje sabemos que grande parte das dificuldades deste Orçamento não estão nas devoluções de rendimentos que este prevê (apesar de muita Comunicação Social enveredar por este caminho). A grande dificuldade deste OE está na assunção de prejuízos do BANIF perante uma decisão que há muito deveria ter sido tomada. Está também no que Passos Coelho e Portas disseram em Bruxelas relativamente aos cortes nos rendimentos que seriam estruturais e definitivos, mas ao mesmo tempo diziam aos Portugueses que estes eram temporários.

Esperemos, para o bem de todos, que algo de positivo aconteça. Que o Parlamento fique unido, principalmente numa fase em que ninguém quer ser de direita… não fosse o líder do PSD apresentar a sua recandidatura apontando à “Social Democracia” e ao centro perdido nas hostes laranjas.

Por este andar, a festa do Avante que se prepare para a invasão laranja. Marcelo já lá foi. Segue-se Passos e companhia.

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Membro da Assembleia Municipal de Lousada pelo Partido Socialista