A preparação da programação das comemorações dos 250 anos do aniversário da elevação da vila de Arrifana de Sousa à categoria de cidade de Penafiel, foi um processo que ocupou boa parte do ano de 2019 e que contou com contributos de toda a sociedade penafidelense. O ano de 2020 era aguardado com expectativa e ansiedade pela comunidade penafidelense, orgulhosa da sua história e mobilizada para a celebrar. Uma data que não tem comparação na região e que poucos Municípios do país puderam assinalar. Penafiel, uma cidade mais antiga que todos os países do continente americano, do continente africano, da Oceânia, mais antiga que a maioria dos países da Asia e mais antiga que vários países do continente europeu! Mas o ano que todos desejavam que fosse de sonho, acabaria por se transformar num pesadelo.
Foi precisamente na véspera do aniversário da cidade, que foi diagnosticado o primeiro caso de COVID 19 em Portugal. Quis o destino, como que por capricho ou comiseração, que a cidade pudesse, pelo menos, viver com alegria e solenidade o seu dia maior. Mas foi festa de pouca dura. No dia 11 de Março de 2020, a Organização Mundial de Saúde confirmou a Covid-19 como sendo uma pandemia, o que implicou uma mudança radical de todo o paradigma da nossa organização enquanto sociedade.
Quando menos esperávamos, um vírus deu origem a uma epidemia, cujas primeiras notícias davam conta de existir no continente asiático, mas que, em poucos meses, chegou à Europa e a todo o mundo. Não foram apenas as celebrações dos 250 anos da nossa cidade que ficaram em suspenso. Foram todas as nossas rotinas, os nossos afectos, a nossa saúde, e tudo aquilo que tomávamos como certo foi colocado em causa. E não houve mais festa. Asmuitas actividades previstas no extenso programa do aniversário, foram totalmente canceladas a partir de Março. A prioridade passou a ser a saúde e a vida dos penafidelenses.
No início, a preocupação era essencialmente conter a pandemia e a progressão do vírus. As medidas adoptadas tinham como principal objectivo impedir a disseminação do vírus, e evitar a proximidade das pessoas era a melhor estratégia. Encerrar equipamentos municipais, promover acções de higienização dos espaços públicos, disponibilizar equipamentos de protecção individual às IPSS’s, corporações de bombeiros, entidades de saúde, ou apoiar a aquisição de ventiladores para o nosso Centro Hospitalar, passaram a ser a prioridade da acção municipal. Medidas levadas a cabo em articulação com as autoridades de saúde e comunicadas à população através de todos os meios disponíveis, para uma melhor compreensão, aceitação e adesão.
Entretanto, elaboramos um plano de apoio às famílias e de resposta ao impacto da covid-19 na economia local. A par da prevenção e da contenção do vírus, era também essencial apoiar as famílias afectadas pela pandemia e minimizar o impacto da pandemia na nossa economia local.
E, acima de tudo, garantir que os mais fragilizados, por serem idosos sem retaguarda familiar, por sofrerem de doenças de risco acrescido, por se encontrarem em isolamento profiláctico, impedidos ou impossibilitados de saírem das suas casas, não deixavam de ter acesso aos bens essenciais, como alimentos e medicação. A rede solidária covid 19, que contou com o envolvimento incondicional das nossas IPSS’s e das Juntas de Freguesia assegurou que o essencial nunca faltaria. E não faltou.
E enquanto a Senhora Directora Geral de Saúde manifestava dúvidas sobre a eficácia e a importância do uso das máscaras comunitárias como instrumento de prevenção da Covid, nas conferências de imprensa em que participava diariamente, em Penafiel as máscaras comunitárias eram distribuídas gratuitamente a toda a população do concelho. O uso das máscaras, entretanto, tornou-se obrigatório até ao ar livre. Mas sobre isso a senhora Directora Geral não voltou a pronunciar-se. A encomenda de máscaras para a população foi notícianacional, dando também visibilidade à capacidade das empresas penafidelenses na confecção daquele artigo, agora de primeira necessidade e que tinha que ser produzido em larga escala. As empresas de confecções do nosso concelho posicionavam-se, assim, na linha da frente da produção de máscaras comunitárias.
As consequências da pandemia começaram também a fazer-se sentir na perda de rendimentos de muitas famílias penafidelenses e de muitas empresas, sobretudo a pequenas e médias empresas. O Plano Municipal Solidário, que reforçamos financeiramente, e as novas medidas criadas especialmente para fazer face a estas novas circunstâncias, permitiram disponibilizar apoios às famílias e às pequenas empresas que sentiam mais dificuldade em aceder aos apoios do Estado.
Um Município que ostenta o Galardão de Município Amigo das Famílias, renovado nos últimos 5 anos consecutivos e que integra a Rede Europeia dos Municípios Amigos das Famílias, devido à matriz humanista e solidária das suas politicas locais, tem que honrar esses pergaminhos apoiando quem mais precisa num tempo de especial dificuldade.
E não deixamos de olhar para as nossas colectividades. Sabendo das dificuldades que enfrentavam, sem poderem desenvolver as suas actividades e sem terem acesso às tradicionais fontes de receita, também reforçamos o apoio financeiro que lhes atribuímos.
Apesar das muitas limitações e condicionalismos, procuramos manter vivas as nossas tradições e a nossa cultura. Foi assim que assinalamos as Endoenças, criando uma imagem do encontro de Nª Sra. das Dores com o Seu Filho, juntando milhares de tigelinhas que iluminaram a escuridão da noite em Entre–os–Rios e trouxeram uma luz de esperança aos nossos corações. Foi assim também com as nossas festas do Corpo de Deus, que celebramos através de uma exposição de rua interactiva que permitia, através de um telemóvel, recordar alguns dos principais momentos das festas de anos anteriores. E foi assim com o festival literário Escritaria que, com recurso às plataformas digitais e a muitas horas de streaming, cumpriu a sua missão de homenagear um escritor da lusofonia, que nesta edição “diferente” foi o extraordinário Mário Zambujal.
Também não esquecemos a comunidade escolar e as dificuldades do ensino à distância, acrescidas para quem não possui equipamentos informáticos ou acessos à internet. Por isso distribuímos mais de 700 tablets e acessos à internet para os alunos que os não possuíam, para que não ficassem para trás. Porque dessa parte o Primeiro Ministro não cuidou, quando decidiu encerrar as escolas. De resto, quase um ano depois, com novo encerramento das escolas, os prometidos computadores continuam sem chegar. Quem sabe nas férias grandes, para estimular os alunos a passarem mais tempo por casa.
Agora que chegaram as vacinas, temos já a funcionar o nosso centro de vacinação de Penafiel. No meio de tantas incertezas que vieram com a pandemia, a chegada das vacinas trouxe-nos a esperança de que a normalidade vai regressar. Ao longo da história, sempre as pandemias tiveram um fim. Mesmo as mais letais. Com esta não será diferente. Por isso, estamos já a trabalhar para o pós pandemia.
Os desafios que aí vêm são muitos e muito exigentes e vão precisar de instituições fortes e preparadas para os enfrentar. Temos que continuar a captar investimento, que seja gerador de emprego. Os 20% de aumento do desemprego no ano de 2020 são apenas um anúncio do que aí vem. A nova pobreza, que vai afectar pequenos empresários, cumpridores e habituados a honrar os seus compromissos, que vão ser confrontados com exigências impiedosas de pagamentos de compromissos bancários, que esta brutal perda de rendimentos não vai permitir saldar. O elevado número de casos de depressões e de outras patologias do foro psicológico, que estes sucessivos períodos de confinamento estão a gerar, e que vai necessitar de resposta do Estado e do Município. A promoção do território, de forma assertiva e competente, para que o concelho volte a receber os milhares de visitantes que nos últimos anos o procuraram, para se deleitarem com o encanto do seu património natural e edificado. É preciso voltar rapidamente às mais de 100 mil dormidas que o concelho teve em 2019. E o investimento municipal, capaz de gerar riqueza e contribuir para a manutenção dos milhares de empregos que o sector da construção civil e obras públicas sustenta neste concelho. O plano de investimentos municipais para este ano de 2021 é o maior de sempre do Município de Penafiel e é, em grande medida, financiado por fundos comunitários. Os investimentos previstos vão permitir concretizar aspirações de décadas, como a Via da Meia Encosta, na encosta do Cavalum, o espaço cultural, que denominamos de Ponto C, ou a Central de Transportes, o interface multimodal que ficará junto à estação de caminho de ferro em Novelas, entre vários outros. Quando daqui por uns anos se falar da pandemia, também haverá coisas boas e projectos marcantes destes tempos tão complexos para recordar.
Quanto ao mais, vamos continuar como até aqui, com serenidade e sentido de responsabilidade, como recomendam os tempos exigentes que estamos a viver, para tomarmos as melhores decisões para o nosso concelho e para os nossos concidadãos.
Antonino de Sousa, Presidente da Câmara Municipal de Penafiel