É o sentimento que toma conta de nós quando vivemos numa terra que parece não existir ou, existindo, quem a governa faz de conta que nós não existimos.
A última sessão da Assembleia Municipal (AM) de Paredes, de tão ostensivamente ignorar os reais problemas dos habitantes do concelho, fez-nos corar de vergonha.
Num concelho onde a pandemia atinge números perigosos e que, em poucos meses, na região, passou de último para a liderança dos concelhos mais infetados pelo Covid-19, nem uma palavra se ouviu sobre a situação. Tem culpa o poder que não informa, têm culpa as oposições que nada perguntam.
Bastava olhar para os concelhos vizinhos para se perceber a diferença da qualidade da governação e do tratamento da situação. Lousada, onde, recorde-se, se iniciou o primeiro surto registado, toma sistematicamente medidas públicas, por iniciativa própria, já tem menos infetados per capita do que Paredes. Penafiel tem a mesma população e quase metade de infetados.
Em Lousada, por exemplo, é raro o dia em que os dirigentes políticos locais não vêm a público anunciar medidas específicas para controlo e combate da pandemia e, simultaneamente, apelar ao cumprimento rigoroso das medidas sugeridas pela DGS.
Enquanto isso, em Paredes, “à Almeida”, na AM, fala-se de milhões para piscinas ao ar livre sem sequer se saber se poderão ser utilizadas num futuro próximo por causa da pandemia.
Em Paredes, “à Almeida”, o vereador da Educação, em vez de colocar as suas competências ao serviço da verificação da lotação dos transportes escolares que, tantas vezes, levam mais alunos do que o permitido, vem para as redes sociais “dar lições” aos encarregados de educação que levam os alunos às escolas. Para cúmulo, “ensina-os” com um post carregado de erros, o que, diga-se em abono da verdade, em nada contribui para a sua já tão deteriorada reputação.
Nos outros concelhos, sempre que surge um surto, os dirigentes políticos dão a cara, para evitar o pânico e calar os boatos. É assim, em permanente interação com os munícipes que se controlam os níveis de ansiedade e se habituam as populações a conviver com a pandemia.
Em Paredes só se sabe que, nesta data, já vamos a caminho dos 600 e como não nos dizem porque cresce tanto o número de infetados ficamos com a sensação de que o vírus, ao contrário do que acontece no resto do país, anda para aí à solta sem qualquer controlo e pronto a “assaltar-nos” ao dobrar de qualquer esquina.
Aliás, a diferença do aspeto das instalações para acolher doentes eventualmente infetados, anexas ao centro de saúde de Paredes, quando comparadas com as dos concelhos vizinhos, dão a medida certa dos cuidados da autarquia na prevenção do Covid-19. Lembramo-nos agora de que não vimos fotografias, coisa rara, do presidente nem os seus acólitos a visitar tão “dignas” instalações.
Surtos em Paredes? Só o que a televisão anunciou esta semana? E vamos nós acreditar que fomos o concelho que mais infetados teve na semana passada apenas porque andamos para aí aos magotes a passar a doença uns aos outros?
Porque a situação assim o exige é hora de o presidente da câmara se deixar de peneiras e, nem que a isso o obriguemos, tem de informar convenientemente os munícipes. O nível de ignorância a que nos quer colocar só eleva o seu grau de incompetência e ninguém tem o direito de brincar com a nossa saúde.