Esta semana, à medida que os municípios da região foram acendendo as tradicionais luzes de Natal nas principais ruas dos seus centros urbanos, foram aparecendo as respectivas fotos nas redes sociais, seguidos dessa nova tradição dos comentários excessivos na sua objecção. Mais uma vez (como se fosse necessário) se demonstra que de praticamente qualquer assunto ou protagonista é possível destilar esse novo álcool de intolerância, violência e ódio que tolda o raciocínio e a humanidade dos que se entretêm a escrever textos mais ou menos anónimos sobre tudo e nada. O pretexto, desta vez, parece ser que o tempo não é de festa e que o dinheiro das iluminações poderia ser gasto em algo mais útil.
É verdade que o Natal deste ano será diferente dos anteriores. Entre a pandemia e as consequentes limitações que deverão continuar em vigor, haverá muitas alterações ao que habitualmente fazíamos nesta data festiva. A maior dessas mudanças será a de não estarmos com as pessoas de quem gostamos precisamente porque gostamos delas, mas continuará a ser Natal.
Se a pandemia já me prometia um Natal mais sombrio, a impossibilidade de estar com os meus pais, com os meus irmãos e com as minhas sobrinhas cria-me uma certa angústia. Mas é precisamente porque estes tempos difíceis parecem não ser para festas que temos de lutar contra as tristezas. Iluminar as ruas com luzes natalícias é uma forma de alimentar a nossa esperança de que dentro de pouco tempo haverá uma solução para a pandemia e que poderemos voltar à nossa vida normal, é uma ajuda viável e imediata à nossa espera por dias melhores, é um fortalecimento do chamado“espírito de Natal”.
A pandemia pode até pôr-nos a contar qual é o número seguro de pessoas à mesa, como iremos partilhar a consoada, como vamos fazer chegar os presentes a casa uns dos outros ou como é que vamos fazer para ensinar a avó e o avô a fazer uma videochamada, mas nem o vírus nem as medidas sanitárias para o combater podem impedir que vivamos, tão bem como o permitirem as possibilidades de cada um, uma ocasião do ano única que nenhum Governo ou campanha de marketing seria capaz de conceber, se pensarmos no que está para lá de comercial e consumista. O Natal, sendo maior do que isso, sendo maior do que nós, torna-nos maiores e melhores. Este ano também.Vamos lá!