Já quase nem se nota, mas passa-se muito tempo a bater em teclas: as do computador para escrever artigos como este ou para enviar mensagens de correio eletrónico ou, pelo telemóvel, os tão práticos SMS (Short Message Service). Também há quem dedilhe as teclas de um piano, órgão ou acordeão se há queda para a música, mas como não é o meu caso (e que pena eu tenho disso!), refiro antes o que todos usam, o teclado dos telefones.
Telefones com teclas são uma novidade de algumas décadas, e vieram substituir os de discos com orifícios onde se enfiava o dedo para marcar números. Enquanto estes enviavam correntes elétricas – impulsos variáveis consoante os dígitos respetivos – as teclas fazem emitir sinais sonoros, as multifrequências. Uns e outros são depois descodificados na central telefónica e, antes deles, a gente levantava o telefone do descanso e esperava que uma telefonista perguntasse o número; curiosamente, em vez de dizer “Número?”, pronunciava “Numerú?”, com a última sílaba bem acentuada.
Com a má caligrafia que possuo, desde cedo me habituei a escrever à máquina e recordo bem a única máquina que comprei, uma portátil, com teclado HCESAR, ou “teclado português” (que chegou a ser imposto por lei), tendo no entanto substituído alguns tipos que não usava por umas tantas letras gregas que me davam jeito para os meus escritos docentes. “HESAR” eram as teclas que iniciavam a primeira fila de letras. O teclado QWERTY, o que mais se utilizava a nível mundial nas máquinas de escrever e agora nos computadores, foi patenteado nos EUA em fins do Séc. XIX. Quando se inventaram as teclas de plástico nos teclados, recorria-se ao truque de dispor as teclas como se fossem HCESAR e como tais passavam na alfândega; depois era só ter o trabalho de pôr tudo no sítio e ficar montado o desejado – e proibido – teclado QWERTY!
Uma companhia dos teclados nos computadores são os monitores que nas décadas de 1960-70 apresentavam um fundo preto com letras brancas por efeito do MS-DOS (MicroSoft Disk Operating System), um programa que esta então pequena empresa de informática disponibilizou para os PCs dá gigante IBM (Personal Computers, International Business Machines). Iniciada a década de 1980, veio o Macintosh com o monitor de fundo branco e carateres escuros, tal como no papel em que se escreve e que é agora usado universalmente. Está a dar-se ima espécie de inversão desta tendência nos teclados, pois quase só aparecem agora pretos com carateres claros. Exatamente ao contrário do que prefiro (azar meu).
Interessante é o que se passa com os teclados de números, com os dez dígitos agrupados em três filas de três teclas cada, mais uma isolada, a do zero. Ora acontece que no universo dos computadores e calculadoras, a fila dos 1-2-3 está em baixo e no dos telefones está em cima. Se é certo que dá mais jeito na computação o 1-2-3 em baixo, ao pé do zero, parece que nos telefones tanto faz e bom seria que neles se adotasse a disposição dos computadores. Já agora, o mesmo para os comandos da TV e quejandos, mais os do Multibanco, os quais, sabe-se lá por quê, alinham pelos dos telefones.
Isto dos teclados trouxe-me à memória um divertido filme francês de 1959, “Os incríveis” (“Les affreux”, de Marc Allégret), com Pierre Fresnay e Darry Cowl. Uma das facécias deste último foi modificar uma máquina de escrever, de modo que, ao bater uma tecla, além de surgir o caráter respetivo no papel, soava uma nota musical. O problema estava em que, ao pôr-se a escrever, a música era desagradável se o texto fosse correto ou então deixava-se levar pela melodia e o texto era uma algaraviada sem sentido.
Mas isto de teclados acho que já chega, até porque para este artigo bati nele 3763 vezes. Espero ser mais comedido para o próximo…