Sábado, 30 de Julho, 23h45. A azáfama na Rua de S. Vicente, em Alfena, é grande. Por aqui já não passam carros desde as 22h00. Desde essa hora que o trânsito deu lugar à concretização do tradicional tapete de flores que na manhã seguinte recebe a procissão em honra da Nossa Senhora do Amparo. Quadros de madeira, desenhos a giz no alcatrão e muita paciência foram desenhando, metro a metro, o tapete que, no final, contabiliza nada menos do que três quilómetros de extensão.
Decorridas menos de duas horas desde o arranque os trabalhos, o tapete, iniciado junto da Avenida do Padre Nuno, estava já bastante avançado. Enquanto uns colocam no chão os moldes de madeira, que garantem a esquadria do tapete, outros rapidamente, e sem enganos, colocam as diferentes espécies de flores, verdes, sal e serrim, nos respectivos lugares, dando início aos desenhos coloridos. Para trás ficam outras pessoas que alargam as pétalas, preenchendo todos os espaços do alcatrão. Tudo rápido, eficaz mas com o brio de que nada fica imperfeito.
Foram várias centenas de pessoas que se envolveram na criação do tapete de flores que só haveria de ficar concluído, estimavam, perto das 5h30, ligando a Igreja Matriz à Capela de Nossa Senhora do Amparo. A fé, o convívio e a paixão é o que mais move para o envolvimento nesta tradição que atrai adultos mas também muitos jovens e crianças. Muitos são emigrantes, mas não perdem a festa por nada! É o caso de Vítor Rocha, emigrante em Angola há cinco anos. “Tiro férias nesta altura para vir fazer o tapete”, diz, salientando que o que o motiva é o “convívio”. “Isto é muito bonito. É impressionante”, destaca Vítor Rocha, que participa nesta tradição há, pelo menos, 15 anos. Também Rosa Silva, emigrante na Suiça há oito anos, assim que teve oportunidade marcou férias e regressou para participar na festa. “É uma paixão que tenho”, disse.
Há também quem tenha mudado de freguesia mas não de tradição. Logo no início do tapete, na Rua de S. Vicente, encontrámos Cristina Babo e a filha Márcia, de 16 anos. Estão a residir em Ermesinde há nove anos, mas é em Alfena onde passam grande parte do tempo e a paixão pelo tapete de flores não esmoreceu. De tal forma que, Cristina trocou o dia de trabalho para poder participar na tradição. Ao lado de Cristina e Márcia estava Maria João Monteiro, alfenense que já faz o tapete há 10 anos. Empenhadas no embelezamento da rua e na continuação da tradição, confessam ter uma dualidade de sentimentos na manhã seguinte. A felicidade de ver as ruas engalanadas para receber a passagem da Nossa Senhora do Amparo é acompanhada de alguma tristeza pela destruição do tapete. Aqui não é preciso convencer ninguém a participar e ajudar no tapete de flores. De ano para ano tem aumentado o número de pessoas, garante Albertina Mendes, membro da organização, sublinhando que o trabalho começa duas semanas antes, com o debulhar das flores e a coloração do serrim e do sal.
O trabalho prosseguiu noite dentro e com o despontar do dia vieram milhares de pessoas para ver o tapete e participar da procissão em honra da Nossa Senhora do Amparo. No final, uma certeza: Para o ano há mais!