Só a mim é que estas coisas acontecem. Acho eu. Entro no autocarro, apanho logo um lugarzinho sentado à frente, o que não é muito frequente, e eis senão quando o autocarro mete por uma rua que não pertencia ao trajeto normal. Olho em volta, ninguém diz nada e então pergunto ao motorista o que se passa. E ele explica que há uma rua em obras que obriga a um desvio. Pelos vistos toda a gente sabia, menos eu. Só a mim.
O supermercado é um poço de surpresas. Pego num saco de plástico: é um vulgar 30×40, se calhar desses que, dizem os especialistas, precisam de 500 anos para se degradarem. O meu degradou-se muito mais depressa: mal lhe meti umas maçãs, rompeu-se-lhe o fundo e a fruta caiu ao chão. Só a mim. Há mais coisas, mas passo já ao fim que é o mais difícil: pagar na caixa. Escolho a fila que me parece mais curta, logo que posso ponho tudo no tapete rolante que às vezes rola, e quem está à minha frente resolve pagar a quantia exata; entrega as notas e despeja as moedas – muitas – que a menina da caixa vai pescado, uma a uma, até à conta certa. Depois apanha as moedas sobrantes – ainda muitas – também uma a uma, para as devolver. Só a mim. Finalmente chega a minha vez e julgo que é tudo a despachar; só que, mesmo sem a menina da caixa pedir notas de cinco a outra colega, acaba-se o papel onde se imprimem as contas e lá tenho de esperar que se meta um rolo novo na máquina. Só a mim.
É muito raro ir ao banco, mas lá tive de ir e recolhi a senha de atendimento. Tinha o número 97 e no monitor aparecia o 91 a ser atendido, o que me deixou otimista, e ainda mais quando o 94 e o 95 não responderam à chamada e avançou o 96. E eu era logo a seguir, que maravilha! Só que o 96 nunca mais saía do balcão, até que alguém veio anunciar que o sistema informático estava em apagão e o atendimento suspenso. E mais, disse que na véspera houvera outro apagão que durou 45 minutos. Ainda esperei um bom pedaço, mas acabei por me vir embora. Quando lá voltei noutro dia vim a saber que o “meu” apagão durou duas horas. Só a mim.
Começara a chover e rapei do guarda-chuva para me abrigar. Era daqueles engraçados, pequeninos e automáticos, em que ao carregar num botão, se estica a haste e se abra o pano, tudo pronto para a gente se resguardar. Para recolher depois, carrega-se noutro botão, o pano fecha-se e depois é só forçar para encolher a haste. Só que, dessa vez, ao carregar no primeiro botão, o pano voou, ainda fechado, e fiquei com a haste na mão, como se fosse uma batuta. Felizmente que não bateu em ninguém, um tanto ao jeito dos foguetões norte-coreanos, que sobem, voam e depois descem no mar sem atingirem pessoas ou bens. No meu caso, estava perto de uma loja onde vendiam guarda-chuvas e lá comprei outro, tendo lá sido aceitados os destroços do anterior. Só a mim. Caro leitor: leu esta chachada até ao fim? Só a si. Só a si!!!