Recentemente, apareceu num jornal do nosso país um artigo que era um ensaio filosófico intitulado “Será que Deus existe?”. O ensaio defendia a tese de que Deus não podia existir.
Sem querer entrar em polémica e respeitando o modo de ver o assunto por parte da autora do ensaio, gostaria de lançar algumas ideias para refletirmos sobre este tema de grande importância na nossa vida.
Não me proponho dar argumentos filosóficos. Proponho que pensemos sobre esta pergunta e em como dialogar sobre ela com pessoas amigas. Também com aquelas que se dizem ateias ou agnósticas.
O tema não admite argumentos simplórios. A fé é suficientemente obscura para que a nossa decisão de acreditar seja completamente livre, e é suficientemente clara para que essa decisão seja profundamente razoável.
Esse claro-escuro presente nesta pergunta faz com que as respostas a este tema não sejam similares a uma demonstração matemática.
Todos necessitamos reflectir sobre Deus para encontrar um sentido para a nossa vida. A pergunta pela existência de Deus é a mais radical que podemos fazer e aquela que terá maior influência no nosso modo de actuar nesta existência terrena, que todos sabemos ser finita.
Porque esta pergunta está intimamente relacionada com os grandes enigmas que encontramos na vida. De onde venho? Para onde vou? Porque existe a morte? Porque existe o mal? Qual o caminho para encontrar a felicidade? Que há para além da morte?
Nenhuma destas perguntas possui uma resposta científica, porque não são perguntas científicas. São as mesmas perguntas de há muitos anos para cá. Desde que o ser humano teve tempo para reflectir. Já Aristóteles afirmava há 2300 anos: “A religião é uma constante na história dos povos porque pertence à própria essência do homem”.
Mas, podemos dizer que existem “caminhos” de acesso ao conhecimento de Deus (independentes da fé na Revelação judaico-cristã) que nos mostram que acreditar, sem ser evidente, é algo profundamente razoável?
Sim, existem. E têm como ponto de partida a criação: o mundo material que nos rodeia e o mundo interior que “ferve” dentro de cada um de nós.
De um modo telegráfico podemos dizer que a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo material, podemos chegar ao conhecimento indireto de um Ser Supremo que é origem e fim do Universo.
Também a partir da nossa abertura interior à verdade e à beleza, com o sentido do bem moral que todos possuímos, com a liberdade e a voz da nossa consciência, com as ânsias que temos de infinito e de felicidade, detectamos sinais da existência dessa alma espiritual, gérmen de eternidade, que trazemos connosco e que, por muitos motivos, é irredutível à matéria.
Tanto o mundo que nos rodeia como o nosso mundo interior dão testemunho de que não temos em nós mesmos o primeiro princípio nem o fim último, mas participamos do Ser-em-si que não possui princípio nem fim e a quem os homens, desde tempos imemoriais, chamaram Deus.
Logo: é profundamente razoável acreditar na existência de Deus.