A maioria nunca tinha pegado num tablet, mas agora o grupo de 15 seniores de Paços de Ferreira que começou a ter formação nesta área, em Novembro do ano passado, já não olha para o aparelho como um bicho-de-sete-cabeças. Ainda assim, ainda há muito a aprender, reconhecem. E todos estão dispostos a isso.
O curso é promovido pela Junta de Freguesia de Paços de Ferreira e tem como objectivo aproximar os seniores das novas tecnologias.
A primeira formação já terminou, mas há dezenas de interessados em lista de espera e uma nova turma já começa a ter aulas na próxima semana.
“Quero ser mestre nisto”
Aprender a ligar um tablet, criar um email, gerir redes sociais ou tirar uma fotografia eram conceitos estranhos ou desconhecidos para os primeiros 15 alunos da formação sobre utilização de tablet, que terminou esta semana.
Na maioria dos casos, os alunos, com idades entre os 60 e os 76 anos, nunca tinham pegado num tablet. Trouxe-os a curiosidade e a vontade de aprender mais sobre um mundo diferente e que é muitas vezes refúgio dos filhos e dos netos. Além disso, aulas são espaço de convívio e partilha de conhecimentos.
Todos aprenderam algo, mas afirmam que eram necessárias mais aulas para que ganhassem confiança e experiência.
“Nunca tinha pegado num tablet. Não foi fácil. É muito diferente de um computador. Eram precisas mais aulas e uma atenção mais individual. Mas estes cursos são úteis. Aprende-se sempre alguma coisa e o saber não ocupa lugar. Agora até já sei o que é uma selfie”, conta Glória Coutinho, de 75 anos.
Na mesma situação, Aníbal Teixeira de Brito, de 61 anos, conta que já tinha um smartphone, em que pouco sabia fazer, e que queria aprender mais. “Quero ser mestre nisto. Não quero que os meus netos gozem comigo. Tenho um de quatro anos que já sabia mais do que eu”, brinca o pacense.
Quem também não percebia nada do uso de tablets era Joaquim Mota, de 63 anos. “Já sabia usar o computador, mas só o básico. Agora já identifico os ícones, tiro fotografias, vou ao Facebook. Para mim isto já é uma grande coisa”, admite. “Aprendi a mexer, mas pouco, porque não sabia mesmo nada”, confessa Rosa Moreira, de 66 anos.
Manuel Garcia, de 76 anos, e Maria Lurdes Santos, de 65, vieram juntos para a formação. “Tinha o desgosto de não perceber nada de internet”, diz a esposa. “Gostamos de aprender, é sempre bom e útil. Agora é preciso praticar”, confirma o marido.
“Era preciso mais aulas para aperfeiçoar, mas já não foi mau”
“Era preciso mais aulas para aperfeiçoar, mas já não foi mau. Ainda há muita coisa que aparece e não sabemos como reagir”, conta Fernanda Pacheco, de 68 anos. Ainda assim, a sénior já aprendeu o suficiente para interagir com os mais jovens. “Agora já pego nos tablets dos filhos e netos e jogo com eles. Disputamos a ver quem faz mais pontos”, explica.
Para Aura Sousa, de 71 anos, o tablet já tinha menos segredos. Mas havia a vontade de saber mais. O filho já lhe tinha criado conta nas redes sociais e já fazia chamadas e partilhava fotografias. “À noite entretenho-me a pesquisar sobre assuntos que me interessam, como culinária e crochet”, refere. “Gosto muito deste tipo de cursos. São uma forma de manter a cabeça ocupada”, acrescenta a pacense.
Também Irene Moreira, de 66 anos, veio para aprender mais. “Já aprendi algumas coisas mas era preciso mais aulas. São iniciativas importantes, não só pela aprendizagem mas pelo convívio”, acredita.
Falar com quem está longe é também objectivo de alguns dos alunos. Antero Melo, de 69 anos, divide o tempo entre Portugal e a Suíça. Os netos já lhe tinham ensinado algumas coisas e já usava tablet, mas queria saber mais. “Uso-o para falar com os meus filhos que estão lá. O que aprendi cá foi útil e é uma forma de fazer amigos”, sustenta. Também João Dias Pereira, de 66 anos, já aprendeu a tirar fotografias e a ler notícias, mas espera ainda vir a aprender a usar o tablet para falar com o neto que vive na Austrália.
“Queria saber usar para comunicar com amigos e familiares que estão fora do país”, diz Albertina Garcia, que lamenta que as aulas não tenham sido suficientes para aprender mais. “Vou pedir aos netos que me ensinem mais. Com a prática chego lá”, brinca.
Curso é para manter enquanto houver interessados
Para o formador, Vítor Carneiro, o balanço é muito positivo. “Grande parte das pessoas que iniciaram este curso não tinha conhecimentos nenhuns sobre os tablets. Agora alguns já conseguem fazer pesquisa, consultar notícias e a meteorologia, têm uma conta de email e Facebook”, explica. “Foram muitos os conhecimentos adquiridos, mas agora é preciso que continuem a trabalhar e a praticar”, acrescenta.
Na próxima semana já devem começar as aulas para uma nova turma, até porque há muitos inscritos em lista de espera.
“Temos muita gente interessada. Há um grupo de 20 seniores do Centro de Convívio da Paços 2000 que também querem aderir”, conta o presidente da Junta de Freguesia de Paços de Ferreira.
O sucesso mede-se pela interacção dos fregueses com o autarca. “Alguns já me pedem amizade no Facebook e enviam-me fotografias”, conta Alexandre Costa.
Satisfeito com a dinâmica criada, o autarca acredita que esta é uma forma de os seniores se sentirem activos e integrados. Por isso, “enquanto houver pessoas interessadas, o curso é para manter”, garante.