Este país, que é também nosso, consegue ser tão previsível que, não raras vezes, nos enche de orgulho por ser tão assim.
Para nós, não há problema que não tenha solução. Mais do que isso: para cada problema existem dez milhões de soluções certificadas pelo selo de garantia “ se fosse comigo”. Aliás, até se estranha, mas sabe-se, que esta pandemia só não está resolvida porque teima em deixar-se andar por aí. Agora, mata mais no norte, mas o sul também há-de ter novamente o seu momento. E lá estamos nós, “portuguesinhos da silva”, a adivinhar o futuro do vírus, mesmo não sabendo se as 100 camas prometidas pelo governo vão chegar em janeiro. Se vão chegar em número e nos mês prometido.
Enquanto isso, a chefe máxima do combate ao vírus, testa positivo. Era caso para perguntar: também tu, Graça Freitas? A sério e porque nós, como os portugueses, não gostamos, e bem, que se brinque com as doenças, os nossos votos são os de que melhore rapidamente. Não interessa o que pensamos sobre o desempenho da directora geral de saúde, mas sabemos que não queríamos estar no lugar dela. Nem enquanto doente nem como Autoridade de Saúde.
Entretanto, com idade avançada, morre Eduardo Lourenço, o homem cujo “caixão tem a forma de Portugal”, como só Tolentino de Mendonça soube dizer. Se calhar não tinha, se calhar a forma do caixão era maior do que o seu país, mas que a frase é bonita, lá isso é. E dita por D. Tolentino fica dita e há-de ser muitas vezes citada.
Por falar em citações, nisso também ninguém nos bate. Aliás, é raro o português que não leu os seus ilustres, que não conhece profundamente os seus pensadores, que se iniba até de partilhar uma citação ilustrativa da sua admiração pelas figuras que as televisões tornaram importantes para todos. Algumas sê-lo-iam sempre, mesmo sem a comunicação social. Eduardo Lourenço é, seguramente, um desses casos.
Vai dai que naquelas lições de “conhecimento especializado” com que tantas vezes as televisões nos brindam, a SIC oferece-nos um Reinaldo Serrano, qual novo estudioso do pensamento e do que está para além dele – do pensamento e do Reinaldo – a “educar-nos” com a mirabolante vertigem intelectual de que as crónicas de Eduardo Lourenço tinham “prazo de validade”, porque o autor assinava sempre “Vence, dia mês ano”. Eduardo Lourenço viveu com a mulher em Vence, sul de França, a partir de 1974. Só isso. Simples. Precisavas de te complicar, Reinaldo?
E depressa passávamos do Reinaldo para o Francisco. Esquecendo-se de que estudar literatura não é fixar meia dúzia de frases ditas pelos autores, sai uma tirada do líder do CDS na “visita” aos donos dos restaurantes em greve de fome na frente do parlamento: “Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar, como disse Agustina Bessa Luís”. Ó Francisco, foi a Sophia de Mello Breyner. Não foi Agustina!
E, pronto. Que nos sirva de lição: fazer citações não é sinónimo de conhecimento ou de inteligência. Quando muito é sinal de boa memória e, como nós sabemos – os portugueses todos sabem – a memória, às vezes, trai-nos.
E morreu Vítor Oliveira, o treinador que mais equipas de futebol conseguiu fazer subir de divisão. Não era tão importante como os outros, mas este conheci-o melhor. Até jogou no meu clube e no tempo em que eu, embora mais novo, também dava chutos na bola. Um senhor.
Não podíamos fechar a crónica sem falar na morte de Maradona. Só lhe apreciávamos o talento para a bola e, por isso, também não nos escandalizamos nem indignamos quando vimos, nas redes sociais, confundir a morte Maradona com a de Madonna.
Agora, sim. Acabamos de ver “The Undoing” ,na HBO, Salva-se o Hugh Grant, mas não é indispensável.