A fileira da extracção e produção de rochas ornamentais, na qual se inclui o granito, está a perder empresas, trabalhadores e a exportar menos toneladas. Estas conclusões fazem parte de um estudo intitulado “Granito, Criação de Valor”, encomendado pela Associação Empresarial de Penafiel. Durante a apresentação realizada no final da semana passada, o coordenador do projecto, Nelson Neves, revelou que, apesar deste panorama, o valor das exportações cresceu, entre 2008 e 2012, 9%. Sobretudo, porque o granito que hoje vai de Portugal para outros mercados tem um valor acrescentado que não tinha num passado recente.
Mesmo com este indicador positivo, Nelson Neves deixou um aviso: ou há uma mudança de processos ou o sector pode definhar. “Também há um envelhecimento da mão-de-obra e corremos o risco de não termos quem trabalhe a pedra”, garantiu.
Vamos a números. Desde 2008 até 2012, o sector perdeu 311 empresas dedicadas à extracção de pedra e 996 vocacionadas para a transformação. Também perdeu, entre 2004 e 2012, 38% dos trabalhadores, percentagem que significa 4950 postos de trabalho, sendo que, destes, 4103 desapareceram desde 2008. A extracção de granito, saibro, areia e pedra britada teve aqui um papel decisivo ao contribuir com cerca de 80% dos empregos extintos.
No que ao granito diz respeito também se assiste a uma mudança de paradigma. Os países da União Europeia continuam a ser os principais destinos das exportações, mas actualmente representam apenas 64,8% quando em 2008 essa percentagem era de 86,9%. Mercados como a China e os países emergentes estão a ter uma preponderância cada vez maior.
Números
4950 postos de trabalho desapareceram, entre 2004 e 2012, no sector da extracção e produção de rochas ornamentais
80523 toneladas de granito exportadas a menos entre 2008 e 2012
9% foi o crescimento do valor das exportações de granito em 2012
64,8% do granito é exportado para países da União Europeia
China lidera ranking dos países exportadores
O top dez dos países exportadores de pedra natural tem sofrido alterações profundas nos últimos anos. Actualmente, é a China que surge em primeiro lugar do ranking, exportando 47 milhões de toneladas por ano, o que representa 30,4% da produção mundial. Segue-se a Índia, com 19,5 milhões de toneladas (15%) e depois um conjunto de países formado pela Turquia, Brasil, Itália, Irão e Espanha. Juntos, estas nações contribuem com 75,9% da produção mundial.
Portugal, que já ocupou as primeiras posições da tabela dos países mais exportadores de pedra natural, tem vindo a perder posições e é o décimo país do mundo que mais produz. A pedra natural de Portugal representa 2% da produção mundial.
Penafiel e Alpendurada têm o “maior filão do país”
No final da apresentação do estudo, Nelson Neves afirmou que é em Penafiel e Alpendurada que está situado “o maior filão do país” de pedra natural. No entanto, salientou o coordenador do estudo intitulado “Granito, Criação de Valor”, as empresas da região, tal como acontece no restante território nacional, estão obrigadas a adaptar-se a tempos mais exigentes e, sobretudo, à concorrência de países como a China e o Brasil. Países esses que, alegou, com menos regras ambientais e de segurança e higiene no trabalho, conseguem produzir a preços mais baixos.
Assim, a única solução para as empresas de Penafiel e Alpendurada passa pela criação de novos e diferenciados produtos.
Análise aos produtos nacionais de pedra natural
Pontos fortes
– Relação qualidade/preço adequada
– Sector diversificado a nível de produtos
– Tecnologia e sistemas de produção
– Arte de trabalhar a pedra
Pontos fracos
– Baixo valor acrescentado
– Baixa produtividade face a países concorrentes/emergentes
Oportunidades
– Especialização de produtos
– Desenvolvimento de tecnologias inovadoras
– Benchmarking das boas práticas
– Reconhecimento da marca StonePT e a certificação da pedra natural
Ameaças
– Concorrência de produtos substitutos (sintéticos e cerâmicos)
– Desvalorização cambial (euro vs dólar)
– Peso crescente dos produtos asiáticos