Capitão de Abril e herói por circunstâncias excecionais, este foi Salgueiro Maia – um dos baluartes do derrube do regime fascista que oprimiu o povo Português durante largas décadas.
Salgueiro Maia era o Homem certo na altura certa e ficou na história como um combatente pela liberdade, mas nada dado aos holofotes do mediatismo que se seguiu após o 25 de abril de 1974.
Margarida Mota, num excelente artigo no jornal Expresso – 04.04.2012, que retrata a vida do “Capitão Sem Medo”, refere-se a Salgueiro Maia como um homem recatado e de posições vincadas contra o regime de Salazar e Marcello Caetano, muito por culpa de tudo aquilo que vivenciou no Ultramar (Moçambique e Guiné).
Apesar de ter ido a várias reuniões prévias e clandestinas daquele que se viria a constituir como o Movimento das Forças Armadas, Salgueiro Maia foi uma “vítima” das circunstâncias do momento. Numa entrevista relatada no artigo de Margarida Mota, afirma que “o português é caracterizado em todo o mundo pela sua capacidade de desembaraço – ou de desenrasca, como se diz na tropa. E naturalmente que (naquela madrugada) a condicionante de desenrascanço era relevante.”
Ficará sempre na memória o seu discurso perante as suas tropas, antes de partir para a conquista de Toledo (nome de código dado ao Terreiro do Paço – sede nevrálgica do Estado Novo) – “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado: os Estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!”
Apesar de tudo isto, Salgueiro Maia recusou distinções honoríficas e cargos de relevo, não se livrando ainda assim de que o Governo liderado por Cavaco Silva (1989) lhe tenha recusado uma pensão por serviços excecionais e relevantes, quando o Capitão Sem Medo já se encontrava doente e vítima de cancro. Mais revoltante este episódio se torna, quando o mesmo governo, através do Despacho A-22/92 – XII, atribuiu a pretendida pensão por serviços excecionais e relevantes a 2 ex-elementos da PIDE.
Pela sua capacidade de liderança, abnegação e humildade, Salgueiro Maia é sobretudo o rosto dos milhares de anónimos que lutaram durante anos nas suas aldeias, vilas e cidades, contra o pior de todos os regimes. Aquele que promovia o analfabetismo, a ignorância, o delito de opinião e a fome, transparecendo uma capa de credibilidade e rigidez que alguns, ainda hoje, teimam em elogiar e promover, quiçá esquecendo-se de todos os crimes promovidos pelo Estado Novo.
Fascismo nunca mais. Recordemos sempre o 25 de abril.
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(Sophia de Mello Breyner Andresen)