“Enquanto carrego a mala de memórias, por Paredes as notícias que chegam não aquecem alma. Entre churrascos, festins e desfiles do executivo o concelho não sabe o qual é o seu futuro. Alguém me pode dizer se aquela risca ao meio que temos no meio da Avenida de Paredes ainda se mantém ou o experimentalismo de mais de 100 mil euros já acabou?

 

Caro leitor,

Começo por lhe agradecer a paciência por durante o último mês não ter respeitado a frequência habitual das minhas crónicas neste Jornal. Profissionalmente tenho estado bastante preenchido com novos projetos e desafios que me tem absorvido bastante do meu tempo e pensamentos. Prometo ser mais assertivo na frequência das crónicas e deixo-lhe, mais uma vez, um sincero obrigado.

Neste meio de Setembro escrevo-lhe desde a Bósnia Herzegovina.

Um país distante, onde a paisagem se mistura entre o Alentejo e o Ribatejo. Um país que tenta (re)nascer da maior tragédia pós II Guerra Mundial que aconteceu na nossa Europa.

Uma país onde a beleza e a grandeza da natureza se unem para nos fazer lembrar as feridas que guerras sucessivas deixaram neste país. Uma nação com um povo tão sisudo como os edifícios retos e uniformes que existem nas cidades.

Um país onde fazer caminhadas livres fora dos trilhos marcados pelas florestas é proibido e perigoso, não pelos animais, declives ou temperaturas agrestes, mas porque muitos das paisagens são ainda campos minados.

Um país onde muitos dos prédios tem as paredes cravejadas de balas, não porque pretendem recordar, mas porque o dinheiro não chega para as remover.

Um país onde viajar é preciso passar revista nas fronteiras e justificar para onde vamos e de onde vimos.

Um país onde na mesma rua conseguimos ver uma igreja e uma mesquita separadas por dois números. É estupendo pensarmos que aqui ao lado, bem perto de Itália ou da Áustria, existe um país onde o Islão é a religião predominante e onde o uso do hijab é a peça do vestuário mais comum entre as mulheres “Bosniak”.

As marcas que existem por toda a Bósnia Herzegovina das guerras, dos massacres e das tentativas de limpeza étnica são duras de lembrar e criaram feridas com cicatrizes ainda muito longe de estarem curadas.

Acredite ou não, é um país onde a natureza foi extraordinariamente simpática criando vales e montanhas únicas em beleza e dimensão. Onde comer é tão bom quanto na nossa terra. Foi o país onde melhor comi Borrego e acredite, caro leitor, que não era até então apreciador do sabor ou do aroma de Borrego.

É uma viagem daquelas que nos deixa com a certeza que levamos para casa uma mala carregada de memórias e de lições de um povo que já tudo perdeu, mas que está com aquela força única de agarrar o futuro que lhes sorri ali ao fundo.

Enquanto carrego a mala de memórias, por Paredes as notícias que chegam não aquecem a alma.

Entre churrascos, festins e desfiles do executivo o concelho não sabe o qual é o seu futuro.

Alguém me pode dizer se aquela risca ao meio que temos no meio da Avenida de Paredes ainda se mantém ou o experimentalismo de mais de 100 mil euros já acabou?

Até para a semana caro leitor!