Na sequência do trabalho que publicámos sobre as candidaturas concorrentes às eleições autárquicas na região do Vale do Sousa, vamos ocupar-nos dos resultados eleitorais concelho a concelho e da sua respectiva análise, de modo a que os nossos Leitores possam não só aperceber-se do quadro político regional gerado pelo acto eleitoral do passado domingo, mas também das especificidades locais.
Lousada: Dom Sebastião não compareceu
Para o PSD, foi, muito provavelmente, o resultado mais inesperado da noite, uma vez que, coligado com o CDS-PP, tinha apresentado Simão Ribeiro como seu candidato à Câmara Municipal, mas vendo nele uma espécie de Dom Sebastião que haveria de surgir da bruma para retirar a câmara ao PS. E, de facto, era o candidato de direita com o melhor currículo político de toda a região: ex-líder da JSD nacional e vários anos como deputado na Assembleia da República.
No entanto, na série de debates concelhios realizada pelo Verdadeiro Olhar, a sua intervenção deixou a descoberto algumas faltas de preparação para o exercício do cargo, quer entrando em contradições que obrigaram à correcção de afirmações anteriores, quer por um tom de arrogância que chegou, em alguns momentos, a confundir-se com falta de educação.
Tenha sido por essas ou por outras razões, o que é certo é que o resultado foi desastroso: a coligação PSD/CDS-PP perdeu 7,6 por cento dos votos, um vereador e duas juntas de freguesia.
Mas é justo acrescentar que este resultado não se deveu apenas ao demérito do candidato do PSD, mas também ao mérito do presidente reeleito, Pedro Machado (PS), que se mostrou mais próximo das pessoas, mais bem preparado e que nunca respondeu descendo o nível do discurso. O PS passou de quatro para cinco vereadores, o que permitirá a Pedro Machado ter ainda mais autonomia para o seu último mandato.
Paços de Ferreira: Uma vitória e uma derrota com travo doce
Estas eleições foram uma prova de fogo para Humberto Brito, o presidente em exercício: teve que enfrentar um candidato do PSD bem mais forte do que o de há quatro anos e uma inconveniente oposição interna do seu próprio partido, o PS.
Humberto Brito tinha contra si um ex-vice-presidente em rota de colisão, um ex-presidente da assembleia municipal e uma comissão política adversa. Tudo isto dentro do seu próprio partido. Apesar de perder votos e um vereador, a verdade é que consegue vencer com maioria absoluta. Perante todas estas adversidades e oposições, nem que fosse por um voto, Humberto Brito teria sempre uma grande vitória.
Uma palavra para o candidato do PSD, Alexandre Costa, que, embora tenha perdido as eleições, não se deve considerar um derrotado: conseguiu aumentar a votação do seu partido no concelho, recuperou um vereador para o PSD e, na região, é a única oposição cuja derrota não pode ser considerada um descalabro.
Portanto, conclui-se que, com esta vitória, Humberto Brito, mesmo que não se importe muito de lidar com a oposição interna do seu partido, terá um mandato mais tranquilo, com menos preocupações. Por seu lado, Alexandre Costa conseguiu um resultado que lhe dará legitimidade para sonhar com o “ataque” ao poder daqui a quatro anos.
Paredes: Onde a soma deu subtracção
Foi a derrota mais retumbante do PSD e CDS-PP em toda a região, uma vez que os dois partidos, coligados, obtiveram muito menos votosdo que o PSD sozinho há quatro anos, sendo mesmo o pior resultado do PSD desde o 25 Abril de 1974. O PSD perdeu dois vereadores para o PS e ainda seis das nove freguesias onde detinha a presidência. Concretamente na eleição para a Câmara Municipal, perdeu em todas as freguesias.
Quem também sai muito maltratada da noite eleitoral última é a CDU, que perde para o PS a única freguesia onde detinha a presidência, Parada de Todeia, não conseguindo eleger nenhum vereador nem manter presença na Assembleia Municipal.
O vencedor foi Alexandre Almeida, do PS, partido que conseguiu maioria absoluta, elegendo mais dois vereadores, passando de cinco para sete.
Penafiel: O passeio de Antonino de Sousa
O debate que o Verdadeiro Olhar organizou com os candidatos à Câmara Municipal de Penafiel acabou por ser talvez o menos interessante de todos, uma vez que o presidente em exercício, Antonino de Sousa, candidato pelo PSD/CDS-PP (Penafiel Quer), adoptou um registo de quem sabia que tinha a vitoria garantida, sem se preocupar muito com a oposição. E a oposição, demonstrando estar claramente mal preparada para desempenhar o seu papel de modo efectivo, colaborou. Por isso, não deve ter surpreendido ninguém.
A coligação do PS com o partido RIR, do Tino de Rans, não foi suficiente para impedir o reforço da votação no PSD/CDS-PP no concelho de Penafiel relativamente a 2017 nem a consequente perda de um vereador do PS.
Valongo: Uma oportunidade perdida para o PSD
Ao contrário do que aconteceu em Penafiel, foi em Valongo que decorreu o mais interessante dos debates autárquicos organizados pelo Verdadeiro Olhar. Foi onde encontrámos uma oposição mais bem preparada e mais acutilante, por um lado, e um presidente da câmara, José Manuel Ribeiro, ao ataque, por outro.
José Manuel Ribeiro (PS) foi reeleito mantendo a maioria absoluta e parte para um terceiro e último mandato com a previsão de tranquilidade.
Pelo seu lado, o PSD não foi capaz de recuperar um vereador perdido no descalabro de há quatro anos. Pelo contrário, ainda piorou o resultado eleitoral em 7%.