FCRocha_featured

Já passaram duas semanas desde que decorreram as eleições legislativas. Neste momento, o país vive uma situação singular e que nos deve preocupar. Por isso, sobre este assunto, interessa perceber o seguinte:

  1. O boletim que cada eleitor preencheu no passado dia 4 oferecia 15 diferentes opções. Depois de contados os votos, tentar inventar uma coligação com todos os partidos de esquerda que nunca existiu antes das eleições é atropelar a vontade dos eleitores, é não respeitar as mais elementares regras democráticas;
  2. António Costa afastou António José Seguro da liderança do Partido Socialista com o argumento de que a vitória do PS nas eleições para o Parlamento Europeu tinha sido por “poucochinho”. Ao não se demitir depois desta derrota estrondosa, António Costa perdeu o respeito por si próprio. Ao impedir o normal funcionamento da democracia e tentar chegar a Primeiro-Ministro sem ter sido eleito, perdeu o respeito pelos portugueses;
  3. Por diversas vezes o Partido Socialista ganhou as eleições com maiorias relativas, com Mário Soares, António Guterres e José Sócrates. Em nenhum dessas ocasiões foi posta em causa a legitimidade do PS em formar Governo;
  4. Em regra, um político deseja ser secretário-geral de um partido para poder vir a ser Primeiro-Ministro. António Costa é o primeiro líder de um partido que, depois de ter pedido uma maioria absoluta e perdido as eleições, tenta a todo o custo ser Primeiro-Ministro para poder continuar a ser secretário-geral do seu partido;
  5. Na noite das eleições, António Costa garantiu que não contribuiria para alianças negativas. No dia seguinte, foi ele que se deslocou à sede do PCP para começar a construção da tal aliança negativa;
  6. É a primeira vez que o líder do PS se desloca à sede de partidos mais pequenos para negociar. António Costa não chamou o PCP ou o BE para uma reunião; desloucou-se às suas sedes, num exercício de humilhação política. Essa humilhação chegou ao ponto de se deslocar à sede do PAN;
  7. A estratégia de António Costa tem sido contestada por inúmeras personalidades socialistas. Na verdade, à excepção de Costa e dos seus seguidores, quase todos perceberam que esta habilidade pode fazer desaparecer o PS, transformando-o num partido que divide eleitorado com a extrema-esquerda;
  8. A imagem de António Costa e de Mário Centeno sentados a negociar frente a frente com Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia arrepia-me. O jornalista José Milhazes, que foi militante comunista durante 14 anos e viveu na antiga URSS, escreveu esta semana: “Só a ideia de que é possível ver a extrema-esquerda no Governo do meu país deixa-me envergonhado e indignado”. E concluía lembrando: “Para os que já se esqueceram, não fosse o 25 de Novembro de 1975 e muitos dos socialistas que defendem hoje a aliança com os comunistas estariam pendurados em postes de iluminação ou a picar pedra algures numa pedreira numa região remota”.
  9. Se a estratégia de António Costa for bem-sucedida, Portugal acabará por ser um país menos livre, ainda mais endividado e o PS, um partido sem significado.