(a propósito da proposta do Bloco de Esquerda propor o alargamento dos casamentos de Santo António a casais do mesmo sexo)
“O conservador pensa na política como um meio de preservar a ordem, a justiça e a liberdade. O ideólogo, pelo contrário, pensa na política como um instrumento revolucionário para transformar a sociedade e até mesmo transformar a natureza humana. Na sua marcha em direção à Utopia, o ideólogo é impiedoso.”
Russell Kirk (1918 – 1994)
Do que vejo, ouço ou leio, emerge a sensação, cada vez maior, de que quem não acompanha as propostas do Bloco de Esquerda (BE) começa a ser estigmatizado com a expressão de “conservador” como se isso se tratasse da lepra dos novos tempos. Dito doutra maneira: ou seguimos o BE em carneirada desenfreada ou somos todos liberais na economia e conservadores nos costumes. No mínimo, porque não raras vezes, passamos a ser, segundo o BE, conservadores, ultra-direitistas e até perigosos extremistas, demagogos e populistas.
Enfim, para o BE, só se pode ser uma coisa ou o seu contrário.
Assim pensava Salazar: ou se era como ele ou se era comunista.
O BE parece querer fazer-nos crer que ou pensamos como eles ou somos fascistas.
Dei comigo a pensar: o que é um conservador, nos costumes, nos dias de hoje?
O que é o conservadorismo nos tempos que correm?
Distinga-se, primeiro, conservador de conservadorismo.
O conservadorismo, ao contrário do que os ditadores ideológicos nos tentam fazer crer, não conflitua com o mundo moderno e não aceita, por aceitar, as coisas como elas eram.
Logo, um conservador vive e convive bem com o mundo hoje e não quer que as coisas continuem imutáveis. Pelo contrário, um conservador, hoje, é o promotor da tolerância, é quem melhor compreende as mudanças da sociedade é o que procura mudar a sociedade.
A um conservador não basta o clichê que satisfaz os que se afirmam progressistas.
“A nossa liberdade termina quando começa a dos outros” – dizem eles – é, para o conservador, uma frase feita que serve, tem servido, aos que, desde o 25 de abril, se apropriaram do regime e do aparelho do Estado para, em nome dos portugueses, exercerem, usarem e abusarem do Estado como se a liberdade fosse privilégio de alguns e a democracia defeito nos outros.
Para um conservador, hoje, a liberdade de cada um não termina onde começa a do outro. Para um conservador a sua liberdade faz-se com a liberdade do outro.
O mundo evoluiu tão rapidamente que confundiu crescimento económico com desenvolvimento cultural.
E sim: pode-se ser liberal na economia e conservador nos costumes.
A principal diferença entre o pensamento correto e politicamente conveniente defendido pelos retrógrados “progressistas” é que, para eles, a verdade nasce e morre com eles e, por isso a impõem. Para um conservador a verdade pode ser também só maneira de ver. Por isso, um conservador aceita a mudança, depois de a discutir. Mas não é radical. É moderado.
Um conservador não impede a eutanásia, mas defende a vida. Por isso, tolera, admite que outros possam pensar diferente, mas porque não impõe os seus valores como universais, também não deixa de lutar pelo valor dos seus pensamentos e, principalmente, não aceita a ditadura do pensamento da esquerda radical que, mais do que ideólogos, são apenas frutos com a tona clara que esconde a podridão interior.
Um conservador convive com a diferença de género, mas defende a família como centro nevrálgico de uma sociedade equilibrada. Por isso, a um conservador não incomoda a vivência um casal homossexual, mas porque importa mais a criança, reprova a adoção por casais homossexuais.
Um conservador, como é tolerante, pode gostar ou detestar a tauromaquia enquanto arte e tradição, mas nunca obriga ao pensamento único.
A proibição, nestes e noutros casos, mais do que levar ao pensamento construtivo e à consensualidade subsequente, bipolariza a sociedade, fazes emergir os extremismos.
Um conservador hoje só pede aos “donos da verdade pública e publicada” que lhes permitam o direito à diferença. Que aceitem a diversidade do pensamento. Que não imponham a ditadura do pensamento único.
Finalmente, para um conservador, o respeito pelas tradições não é o ponto de chegada. É a ferramenta necessária para a acção, para a atuação política e social.
Respeitar o passado, conservar e transmitir o que é identitário e incluir sempre o princípio de que melhorar é sempre possível.
É essencialmente isto que define um conservador do séc. XXI.
E não serão os radicais modernistas que os poderão acusar de retrógrados.
É que foram os autoproclamados progressistas que trouxeram o mundo para o estado em que se encontra hoje. E não têm grandes motivos para estarem contentes com a “obra” que fizeram.
Se já sou um conservador? Ainda não, apesar da insistência de bloquistas e afins.