No último fim-de-semana decorreu o segundo dos congressos a que me tinha referido na redacção anterior. Em ambos saíram vencedores os candidatos que teríamos escolhido se militássemos em algum desses partidos, o que, manifestamente, não é o caso.
Contudo, depois da eleição de Rui Rio no PSD, era agora a vez do CDS. Confessemos, porque a honestidade se pratica sem se apregoar, que tínhamos particular interesse no congresso do CDS. Um dos candidatos, o mais improvável vencedor, Francisco Rodrigues dos Santos é um amigo do coração e com ele e por ele concorria um dos meus filhos. Feita a devida declaração de interesses passemos ao que nos interessa.
Primeiro, diziam os entendidos, era a sobrevivência do CDS que estava em jogo no congresso.
Depois, particularmente na semana que antecedeu o congresso – diziam eles – que se não ganhassem os “Pórtistas” é que o CDS não teria remédio nem solução.
Durante o congresso, os mesmos fazedores de opinião, ignorando o que ali se passava, continuaram a debitar loas às intervenções dos ainda dirigentes do partido que apoiavam João Almeida, como se isso fosse mais do que gente espantada e em agonia, começando a aperceber-se que não seriam as suas figuras tão importantes e suficientes para conservarem os privilégios que Paulo Portas lhes deixou.
Só nos lembramos, entre tantos inteligentes conhecedores da ciência política e das insuficiências do CDS, só Luís Delgado, na RTP, umas semanas antes, tinha admitido a possibilidade da vitória de Rodrigues dos Santos. Isto para não falar no inenarrável artigo de David Dinis, sem qualquer informação nova, mas prenhe de ódio, no Observador, nas vésperas do congresso, contra Francisco Rodrigues dos Santos.
Mas como, no congresso, lhes aconteceu o pior, ou seja, como ganhou quem eles não queriam, toca a inventar as explicações, mais ou menos óbvias, para o inesperado. Todos, ou quase todos, decretaram ali, naquele momento, nãos as razões da derrota ou os méritos do vencedor, mas apenas as consequências da vitória: morreu o “Pórtismo”! – gritaram eles.
Como não somos afamados comentadores nem afanados escrutinadores daquilo a que assistimos limitamo-nos a uma conclusão: o “Pórtismo´” nunca existiu. O “Portismo” é uma conveniente invenção deles.
O próprio Paulo Portas se afirmava sempre pelo pragmatismo e quase nunca pela ideologia. A sua acção sempre o levou a não ser carne nem peixe. A não falar de esquerda ou direita que isso, para ele, era coisa do passado. Os registos dos seus posicionamentos mostram que tinha apenas o fim de se promover. O crescimento do CDS foi só o efeito colateral da sua acção.
Dano colateral foi a ascensão, com Portas, de uma série de pessoas a quem competiria seguir cegamente o seu líder. E com isso se bastavam e contentavam.
E isto é tão verdade quando, salvas raras exceções, depois de Portas nenhum dirigente, nenhum deputado, conseguiu acrescentar algo, uma ideia nova que fosse, ao que Portas deixara. É por isso que, no último congresso do CDS, não morreu o “Pórtismo”. Esse nunca existiu. Perderam os que, por terem tomado o avião do destino fácil e paradisíaco, aterraram num aeroporto, como o do Montijo, que ainda não foi construído. Aterraram na água e afogaram-se da batalha naval que travaram durante todo o congresso. Aterraram onde só tinham acertado. Na água.
De fora desta análise quase ficava o “princípe” Adolfo. Também apoiou o perdedor. Mas Mesquita Nunes tinha uma razão muito pessoal para apoiar João Almeida. A eleição de Francisco Rodrigues dos Santos tornava mais difícil a programada e anunciada ascensão ao trono, se possível por nomeação e aclamação das elites pós-modernistas de um partido conservador que, nessa altura, já não existiria. Ainda bem que ficou apeado.