Entre Março e Junho de 2020 foram realizadas menos 159.734 consultas presenciais nos centros de saúde da região do Vale do Sousa, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados sobre consultas médicas nos Cuidados de Saúde Primários são do Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde.
As contas do Verdadeiro Olhar mostram que, desde o início da pandemia e até Junho, o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Tâmega II – Vale do Sousa Sul realizou menos 76.766 consultas presenciais, enquanto no Agrupamento de Centros de Saúde Tâmega III – Vale do Sousa Norte a quebra foi de 82.968 consultas presenciais, em relação às realizadas em 2019.
Em ambos os casos, e à semelhança do que aconteceu no país, houve um reforço e um aumento significativo das consultas não presenciais, por telefone ou email. Foram mais 125.323 consultas realizadas dessa forma em comparação com o ano anterior nesses quatro meses.
Ainda assim, se a procura fosse idêntica à do ano passado, terão sido 34.411 as consultas que ficaram por fazer nos concelhos de Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel.
No ACES Maia e Valongo, que abrange os utentes do concelho de Valongo, a situação não foi diferente. Só aí foram realizadas menos 79.122 consultas presenciais.
Quebra acentuada diz a ERS
Nos primeiros meses de pandemia, o confinamento e as adaptações nos centros de saúde para receber doentes COVID-19 fizeram muitas consultas serem canceladas ou adiadas até nova ordem. Foi-se optando por um reforço dos contactos não presenciais.
A nível nacional há diferentes análises dos números. A ministra da Saúde, Marta Temido, fala em menos cerca de 1,1 milhões de consultas nos cuidados de saúde primários entre Março e Maio, agregando consultas presenciais e não presenciais. Já a Ordem dos Médicos contabiliza um número muito superior: menos três milhões de consultas, segundo o jornal Público, já que leva em conta apenas a quebra das consultas presenciais.
Um documento divulgado pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), no final do mês passado, dava conta de que o acesso aos cuidados de saúde entre Março e Junho deste ano teve uma “queda acentuada”. “O difícil enquadramento gerado pela situação de pandemia teve resultado imediato no sistema de saúde, sendo visível a queda acentuada da actividade programada e não programada na rede de estabelecimentos do SNS, sobretudo em virtude das alterações aplicadas à organização e prestação de cuidados de saúde, de modo a prepará-lo para responder à pressão a que poderia vir a ser sujeito, em função da evolução da pandemia”, explica o relatório.
A mesma fonte revela que nos cuidados de nos cuidados primários “se verificou uma descida muito significativa da actividade assistencial, desde o início da pandemia”. “O número de consultas médicas presenciais, que tivera já pequenas reduções nos primeiros meses do ano, diminuiu 33%, 73% e 66% nos meses de Março, Abril e Maio, respectivamente”, refere a ERS, falando em quebras abruptas também nas consultas de enfermagem e ao domicílio.
“Em contrapartida houve um grande aumento face a 2019, em todo o período em análise, do número de consultas – médicas e de enfermagem – não presenciais, que chegou a mais do que duplicar em Abril”, descreve a mesma entidade na análise realizada.
O número de consultas presenciais tem vindo a aumentar gradualmente, mas ainda não está normalizado e é, de longe, suplantado pelo número de consultas não presenciais.
Em Castelo de Paiva, Paredes e Penafiel houve menos 76.766 consultas presenciais
Uma análise dos dados do Portal da Transparência do SNS mostra que a quebra foi substancial na região. Os dois ACES que abarcam os seis concelhos do Vale do Sousa realizaram menos quase 160 mil consultas presenciais que nos mesmos quatro meses de 2019 – Março a Junho. A par disso houve um crescimento exponencial das consultas não presenciais, mas que não compensa a quebra.
No caso do ACES do Vale do Sousa Sul, que abrange Castelo de Paiva, Paredes e Penafiel, houve menos 76.766 consultas presenciais que no mesmo período do ano passado. Em 2019 foram realizadas 136.771 consultas com a presença do utente e, em 2020, desceram para as 60.005. Por outro lado, foram feitas mais 61.983 consultas de telemedicina (telefone, email ou videochamada) que no ano anterior, passando de 70.040 para as 135.023.
O mês com maior quebra foi Abril, em que foram realizadas apenas 10.384 consultas presenciais, menos 23.886 que no mesmo mês de 2019, numa quebra de 70%. Em termos globais é o mês com menos consultas (presenciais, não presenciais e ao domicílio): 40.520. Já as consultas não presenciais sofreram aumentos progressivos desde Março neste ACES, sendo que em Junho aconteceram 40.479, mais 24.151 que no período homólogo, uma subida de 148%.
Houve ainda uma quebra visível nas consultas ao domicílio no mês de Abril que foram depois sendo retomadas progressivamente. A situação é comum aos diferentes ACES.
Utentes de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira com menos 82.968 consultas presenciais
No caso do ACES Vale do Sousa Norte, que abrange os concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, dois dos primeiros a serem afectados pela pandemia no país, em Abril e Maio só foram realizadas 6.984 (-78%) e 8.472 (76%) consultas presenciais, respectivamente. Mesmo com as consultas de telemedicina, em Abril houve apenas 35.546 consultas, muito abaixo da média dos meses “normais”. Ao domicílio foram apenas feitas 11 consultas.
No global, nas unidades de saúde deste ACES houve uma descida de 82.968 consultas presenciais. Em 2019 tinham sido realizadas 125.462, entre Março e Junho, e, em 2020, no mesmo período, aconteceram apenas 42.491.
Pelo contrário, as consultas não presenciais aumentaram. Houve mais 62.340 nesses quatro meses. No ano passado tinham sido feitas 65.310 consultas desse tipo, tendo passado agora para 127.650. As subidas variam entre os 44% de Março e os 172% em Junho. Nesse mês, o último para o qual há dados, aconteceram 40.761 consultas sem a presença do utente. No global, em Junho, foram realizadas mais de 50 mil consultas, cerca de mais 8.000 do que no mesmo período de 2019, mostrando a recuperação em curso.
No ACES Maia e Valongo quebra foi de 79.122 consultas presenciais entre Março e Junho
No ACES Maia e Valongo, que abrange os utentes do concelho de Valongo, a situação não foi diferente. Foram realizadas menos 79.122 consultas presenciais nos quatro meses em análise.
Os dados mostram que, no ano passado, os utentes tiveram acesso a 146.503 consultas de forma presencial, número que baixou para 67.381 em 2020.
As consultas não presenciais aumentaram 63.949, passando de 83.886 para 147.835 no mesmo período.
Em termos percentuais, a maior quebra aconteceu também em Abril, mês em que houve uma descida de 72% no número de consultas presenciais (menos 26.014), mas em termos globais o mês com a maior descida de consultas foi Maio (menos 27.328, – 65%). No sentido oposto o aumento das consultas de telemedicina nas unidades de saúde deste ACES foi crescente. Em Junho foram 42.029 as consultas realizadas desta forma, mais 23.527 que no ano anterior, uma subida de 127%.
No total, em Junho, foram feitas 58.703 consultas, número superior ao do mesmo mês do ano passado.