Depois de, na semana passada, a população ter colocado cruzes brancas na Estrada Nacional 106, que liga Penafiel a Entre-os-Rios, a lembrar as vítimas desta via, um novo movimento cívico lançou uma petição para reivindicar a construção do IC35.
A petição, que está online e circula também em papel, nos concelhos de Castelo de Paiva, Cinfães, Marco de Canaveses e Penafiel, já reúne, só no site da Petição Pública, quase 800 assinaturas em cerca de dois dias.
Os responsáveis pelo “Movimento Cívico de Cidadãos Utilizadores da EN 106”, 71 pessoas que, já antes se reuniam e debatiam, de forma supra-partidária, a necessidade desta obra para a região, enviaram, também, um apelo a Marcelo Rebelo de Sousa. “Convidamos o senhor Presidente da República a percorrer o trajecto da EN106 durante o dia, em horas de ponta, para que possa sentir na pele o calvário de todos os que precisam de utilizar esta estrada entre Penafiel e Entre-os-Rios. Para ver o que sofrem as empresas, os cidadãos e os doentes transportados nas ambulâncias”, explica Paulo Teixeira, um dos rostos do movimento, juntamente com José Nunes e Joaquim Rodrigues. “Quem não percorrer esta estrada não tem noção do problema”, aponta, dizendo que lembraram a Marcelo Rebelo de Sousa que o IC35, via alternativa, foi prometido e considerada prioritário, por toda a Assembleia da República, há quase duas décadas.
“Esta é uma região com uma dinâmica muito grande e a estrada é percorrida por muitos camiões e veículos comerciais” e tem elevada sinistralidade, salienta o antigo presidente da Câmara de Castelo de Paiva. Esse tráfego intenso causa também dificuldade de circulação das ambulâncias e aumenta o tempo de socorro para quem vem sobretudo de Castelo de Paiva e Cinfães, dá como exemplo. O IC35 ia permitir “ganhos em saúde, educação e desenvolvimento económico”.
“Isto não pode ser politizado. Faz falta uma posição conjunta dos 11 municípios da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa a reivindicar a obra para esta região. Uma coisa são 11 municípios a reivindicar esta acessibilidade, outra coisa são três ou quatro”, sobretudo quando nem esses se entendem, critica Paulo Teixeira.
No texto da petição, os promotores lembram que, 1999, o Plano Nacional Rodoviário 2000 integrava a construção do IC35, como “prioritária”. Mas só com a morte de 59 pessoas na queda da Ponte Hintze Ribeiro, a 4 de Março de 2001, (53 oriundas de Castelo de Paiva, uma de Penafiel, duas de Gondomar e três de Cinfães), se lançou o primeiro troço do IC35, que incluiu a nova ponte sobre o Douro, o pequeno troço até ao actual quartel dos Bombeiros de Entre-os-Rios e os seis quilómetros que ligam os lugares do Castelo e Sardoura, em Castelo de Paiva. “Foi um preço muito caro que se pagou. Não podemos esperar por outra tragédia para fazer o que ainda não foi feito. Todos prometem, ninguém cumpre”, criticam os autores do documento.
A ideia é reforçada por Paulo Teixeira. “Isto é supra-partidário, não é do partido A ou B até porque nenhum Governo, de diferentes partidos, fez a obra”, sustenta.
Para ligar o IC35 à auto-estrada em Penafiel faltam cerca de 14 quilómetros de estrada.
O “Movimento Cívico de Cidadãos Utilizadores da EN 106” quer reivindicar a concretização desta obra junto do Governo com “a maior urgência possível”, “dada a importância deste investimento para a promoção do desenvolvimento e competitividade deste território e como factor de coesão regional do Vale do Sousa e do Baixo Tâmega”.
Os dados divulgados aquando do protesto realizado por populares na semana passada apontam para que, nos últimos 12 anos, tenham acontecido na EN 106 mais de 500 acidentes com 700 vítimas, 11 delas mortais.
Recorde-se que esta não é a primeira petição a reivindicar esta obra. Em 2012 deu entrada uma petição com mais de 10 mil assinaturas na Assembleia da República, cujo primeiro peticionante era Alberto Santos, à época presidente da Câmara Municipal de Penafiel, solicitando que fosse discutida a necessidade de construção imediata do IC 35, no troço Penafiel/Entre-os-Rios, e feita a devida recomendação ao Governo.