Na última reunião da Câmara Municipal de Penafiel, realizada no dia 7 de abril, o presidente da autarquia, Antonino de Sousa, teve uma reação reveladora. Em vez de responder às questões concretas colocadas pelos vereadores da oposição – questões essas que surgiram na sequência de uma notícia publicada pelo Verdadeiro Olhar sobre a forma como alguns funcionários entraram nos quadros da Câmara –, optou por fazer aquilo que sempre parece ser mais fácil para quem se sente encurralado por factos: atacar o mensageiro.

Segundo os relatos da própria oposição, o presidente da Câmara não respondeu a nenhuma das perguntas sobre as admissões de licenciados como cantoneiros e auxiliares operacionais que depois nunca exerceram essas funções. Em vez disso, dedicou-se a tentar descredibilizar este jornal e a mim pessoalmente. Sim, a mim, Francisco Coelho da Rocha, diretor do Verdadeiro Olhar.

Não me surpreendeu. Já vi este filme muitas vezes. Quando publicamos textos elogiosos, atribuímos distinções ou fazemos manchetes positivas, o Verdadeiro Olhar é partilhado nas redes sociais do presidente, a quem nunca faltaram palavras doces para com o jornal. Quando, pelo contrário, revelamos aquilo que os cidadãos têm o direito de saber, quando fazemos jornalismo do lado do interesse público, passamos rapidamente a ser os alvos da sua ira e arrogância.

Mas o que talvez mais me tenha incomodado nesta história não foi a falta de respostas, nem sequer o ataque. Foi a falsidade. Porque sabemos, e não nos vamos calar, que Antonino de Sousa se referiu ao jornal e a mim próprio com termos pejorativos durante a reunião. Sabemos disso porque nos contaram. E sabemos também que dois membros da sua própria equipa, pessoas com quem tenho uma relação de respeito e que têm demonstrado elevação política, fizeram questão de me ligar no dia seguinte para dizer, com frontalidade e coragem, que não se reviam nas palavras do presidente. E isso diz muito.

Mais grave ainda: poucos dias depois, a gravação da reunião — que é, por lei, obrigatória — desapareceu. Um “problema informático”, dizem. Que conveniente. A única gravação que desaparece é, imagine-se, a da reunião em que o presidente se viu confrontado com um tema sensível, em que fez afirmações que não quer ver registadas, em que se recusou a responder e atacou o jornal que trouxe a história a público. Tão conveniente que até dói.

A ata, dizem os vereadores da oposição, não corresponde ao que se passou. Contém omissões e distorções. O Verdadeiro Olhar também pediu acesso à gravação. A Câmara ignorou o nosso pedido, obrigando-nos a recorrer à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos. Um jornal a ter de recorrer a uma entidade externa para aceder a um documento público. Isto, em 2025. Em democracia.

O que aconteceu nesta reunião é mais do que uma polémica pontual. É o retrato de uma forma de estar no poder. Uma forma de estar que confunde o poder com propriedade. Que acredita que a câmara é um bem pessoal. Que vê a crítica como ataque e o jornalismo como inimigo. Que foge à transparência e abomina o contraditório.

Infelizmente para Antonino de Sousa, estamos cá. Continuamos cá. E vamos continuar a fazer perguntas, a contar histórias, a ouvir quem merece ser ouvido e a investigar o que precisa de ser esclarecido. Porque a democracia não vive só de eleições. Vive também de liberdade de imprensa, de escrutínio e de verdade. Mesmo quando a verdade incomoda.

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