Três amigos, dois de Valongo e um do Porto, juntaram-se há cerca de um mês num movimento de solidariedade, mobilizado a partir das redes sociais, para apoiar, dentro do possível, os refugiados que procuram na Europa ocidental um local seguro para viver. O movimento “Não te Refugies” está angariar bens até ao próximo dia 30 de Novembro para enviar para Belgrado, na Sérvia. “Se chegar ajuda a igual número de pessoas que temos de likes no facebook já seria muito positivo”, diz Jorge Sá, enfermeiro de Valongo e um dos mentores do projecto.
Todos temos acompanhado, pelo menos pela comunicação social, o drama de milhares de famílias que fogem do seu país de origem, procurando na Europa Ocidental o refúgio que lhes garanta paz. Mas a distância não permite aferir a totalidade desta realidade. Até Setembro, também Jorge Sá, como contou ao VERDADEIRO OLHAR, não imaginava encontrar o que viu em Belgrado quando esteve, como voluntário numa ONG a ajudar os refugiados. “Estive em Belgrado e lá faltava tudo. Não havia nada para distribuir”, conta, salientando que “não imaginava que fosse assim”. Ainda hoje, quase dois meses passados, ainda é difícil a Jorge Sá classificar o que presenciou. “A palavra desesperada não define aquelas pessoas. Vi pessoas perdidas, assustadas, que não sabiam para onde iam”, relata, acrescentando que “não tinham sequer a noção dos países que teriam de atravessar”. Jorge Sá cruzou-se com famílias da Síria, Iraque, Afeganistão e algumas do Norte de África. O trabalho de voluntariado realizado anteriormente, em 2008, em África, conta, não o preparou para a realidade encontrada na Sérvia.
Regressado a Portugal e decidido a passar a actos concretos na ajuda aos refugiados, Jorge Sá, em colaboração com Bárbara Seabra e Lígia Pinto, decidiu avançar com a criação de um movimento de solidariedade no facebook (www.facebook.com/naoterefugies). E assim surgiu o Não te Refugies, com o objectivo de sensibilizar, divulgar, recolher e doar para os que necessitam de ajuda na Sérvia.
Com o apoio das corporações de bombeiros de Valongo, Ermesinde, Gondomar, Vila Nova de Gaia e Sapadores do Porto, locais onde podem ser entregues as doações, o movimento tem conseguido recolher os bens necessários e elencados pela Cruz Vermelha da Sérvia, tendo até ao momento conseguido juntar cerca de duas toneladas de material. Os bens começarão a ser enviados dentro de duas semanas, com a ajuda de uma empresa de transportes de Vila do Conde que, tendo já uma rota frequente para Belgrado, cede os espaços vazios nos camiões.
Bens necessários
Apesar da quantidade de bens já arrecadados, há ainda a necessidade de continuar a recolha, especialmente de tendas e sacos-cama. Da lista da Cruz Vermelha da Sérvia fazem parte vários itens, entre eles vestuário quente de Inverno, cobertores e mantas, mochilas resistentes, garrafas térmicas, roupa de criança, fraldas, dentríficos, champô e sabonete. O movimento adverte que há algumas regras na doacção de roupa e calçado, impostas pela própria legislação sérvia. Sendo um país europeu extra-comunitário, existe controlo alfandegário e não permite, por exemplo, a importação de calçado em segunda mão.
Já a roupa usada tem que ser lavada a seco e acompanhada por um certificado de limpeza.
Para além da iniciativa lançada no facebook, o movimento decidiu avançar para outras formas de angariar bens, criando agora uma campanha de crowdfunding para reunir verbas para adquirir o material mais caro e que normalmente não é tão facilmente doado. O pedido para lançamento da campanha foi feito sexta-feira e deverá estar activo nos próximos dias. A base da campanha é de dois mil euros, com a certeza de que todo o dinheiro a mais arreacadado terá sempre como destino os refugiados.