Em 2011, três paróquias uniram-se para criar uma empresa social com dois objectivos: gerar postos de trabalho para desempregados de longa duração e tornar financeiramente sustentáveis as actividades sociais do complexo social inter-paroquial que reúne as freguesias de Arreigada, Ferreira e Frazão.
Quatro anos depois, a Engenho de Paladares, Lda. produz queijos, biscoitos, bolachas, doces, compotas e licores para todo o país e prepara-se para entrar no chamado “mercado da saudade”, exportando para países com uma forte presença de emigrantes portugueses. Também criou um serviço de catering que serve mil refeições diárias nas escolas primárias, centros sociais e cantina social. E avançou ainda para a produção dos produtos agrícolas que usam no serviço de catering.
O padre Samuel Guedes, mentor deste projecto, esclarece que a Engenho de Paladares, Lda. tem bem vincada uma estratégia empresarial, mas apresenta a grande diferença de os lucros da sua actividade serem canalizados para o apoio aos mais necessitados.
França é o alvo principal
Tudo começou com uma candidatura de 300 mil euros a fundos do Programa de Desenvolvimento Rural, que permitiu à Engenho de Paladares, Lda. ter um financiamento de 60 por cento desse valor. Com metade desse dinheiro, a antiga casa paroquial de Frazão foi transformada numa unidade industrial que, actualmente, transforma, por dia, mil litros de leite de vaca em queijo. Também é aqui que são produzidas, sob a marca Paladares Paroquiais, bolachas, biscoitos, doçaria de conservação, doces, compotas e licores. “Já vendemos para todo o país, sobretudo através de lojas que apostam na nossa marca. Não queremos estar em hipermercados”, refere o padre Samuel Guedes.
O principal impulsionador deste projecto explica que a empresa social nasceu com a “necessidade de criar postos de trabalho para combater a crise económica”. “A produção de queijo já tinha existido em Paços de Ferreira. Mas, entretanto, terminou e, ao pensarmos nesta estrutura empresarial, quisemos aproveitar as saudades que o povo tinha do queijo da terra”, acrescenta.
A qualidade dos produtos com a marca Paladares Paroquiais catapultou-os para patamares nunca imagináveis e hoje o projecto apresenta uma dimensão considerável. Tem quatro funcionários – dois na queijaria e outros tantos na produção artesanal de bolachas e biscoitos – e prepara-se para apostar na exportação. “Todos os funcionários da Engenho de Paladares, Lda., que são oito contando com as quatro cozinheiras que estão no serviço de catering, eram desempregados de longa duração”, começa por realçar o pároco que, em seguida, levanta um pouco do véu sobre o futuro da empresa: “Estamos a fazer contactos para exportar os nossos produtos. Queremos apostar no mercado da saudade, especialmente em França onde há muitos emigrantes”. No início do próximo ano, os primeiros queijos com a marca Paladares Paroquiais deverão chegar ao estrangeiro.
Serviço de catering confecciona mil refeições por dia
O serviço de catering da Engenho de Paladares, Lda. está centralizado em Arreigada, numa cozinha industrial que significou um investimento de 150 mil euros. É aqui que quatro cozinheiras – que também estavam desempregadas – confeccionam mil refeições diárias. “Servimos as refeições nas escolas primárias e nos centros sociais da freguesia. Também temos uma cantina social, na qual cerca de cem pessoas vão, todos os dias, buscar comida”, descreve o padre Samuel Guedes.
Muitos dos alimentos que integram a ementa disponibilizada pela Engenho de Paladares, Lda. são cultivados em quintas que também pertencem às paróquias. “Neste momento, temos seis pessoas a trabalhar nos campos. O ordenado delas é suportado pelo Centro de Emprego, mas se se verificar que é viável, no final do projecto esses trabalhadores entrarão para o quadro de pessoal da empresa”, frisa o padre Samuel Guedes.
Segundo o mesmo responsável, a Engenho de Paladares, Lda. assume “claramente uma vertente empresarial”, estratégia que permite que a empresa já apresente lucros. “Estamos a conseguir pagar os investimentos e queremos ver se, a curto prazo, liquidamos o empréstimo”, disse.
O padre Samuel Guedes explica, ainda, que os lucros deste projecto assente na filosofia da economia social serão canalizados para suportar as despesas que as três paróquias têm de suportar. “Para a máquina funcionar precisamos de dois milhões de euros por ano. Estamos a falar da parte social, nomeadamente as várias valências das instituições particulares de solidariedade social, empresarial e pastoral”, assume.