A Direcção-Geral de Saúde (DGS) divulgou, recentemente, uma “Resenha dos Planos de Saúde: Nacional, Regionais e Locais”, no âmbito do Plano Nacional de Saúde, que foi estendido até 2020. Neste documento, 50 agrupamentos de centros de saúde (ACES) definem as grandes metas e estratégias de intervenção ao nível da saúde para os próximos anos.
Num país com muitas desigualdades, estes planos procuram responder, localmente, a problemas demográficos, de mortalidade e morbilidade específicos.
Também na região, os ACES vão procurar responder a desafios distintos. Em comum, o ACES Grande Porto III Maia/Valongo, o ACES Tâmega II Vale do Sousa Sul (Castelo de Paiva, Paredes e Penafiel) e o ACES Tâmega III Vale do Sousa Norte (Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira) traçam como prioridades as doenças cérebro e cardiovasculares (sobretudo o AVC e enfarte cardíaco) e os tumores malignos (da traqueia, brônquios e pulmão e da mama). Depois há medidas específicas para cada realidade. Em Paredes, Penafiel e Valongo o foco da luta vai ser contra a diabetes, a tuberculose e as doenças respiratórias. Em Lousada e Paços de Ferreira, o ACES prioriza o combate à doença crónica do fígado e cirrose.
País com grandes desigualdades
A “Resenha dos Planos de Saúde: Nacional, Regionais e Locais” é um documento que apresenta um resumo perfil e do Plano Nacional de Saúde, assim como de todos os perfis e planos regionais e locais de saúde, definindo as prioridades em saúde para os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) do país. Segundo a DGS, continuam a haver grandes desigualdades a nível nacional.
As grandes causas de morte no país são as doenças cardiovasculares e as oncológicas. Mas cada região tem diferentes indicadores em saúde. No perfil traçado da região Norte, com mais de 3,6 milhões de habitantes, a DGS fala de um duplo envelhecimento da população, devido à diminuição da taxa da natalidade aliado ao aumento da esperança média de vida. Os últimos dados mostravam que as doenças cerebrovasculares é a principal causa de morte específica para todas as idades. Já os tumores malignos, sobretudo da traqueia, brônquios e pulmão e do estomago, eram os principais causadores de morte prematura (abaixo dos 75 anos). A doença pulmonar obstrutiva crónica e a doença crónica do fígado e cirrose, têm, no Norte, uma incidência superior à registada no país, sendo também das principais causas de morte prematura, e das principais áreas a intervir. Há ainda uma elevada frequência de casos de perturbações depressivas e diabetes, e o número de novos casos de tuberculose estão a diminuir mas a incidência da doença na região Norte é superior à de Portugal. Por outro lado, o número de casos de infecção por VIH é inferior ao nacional. Como principais factores de risco causadores destas e de outras doenças, a DGS identifica o consumo de álcool e tabaco, a pressão arterial elevada e o Índice de Massa Corporal e o colesterol elevados.
Doenças cérebro e cardiovasculares e tumores malignos entre as principais causas de morte
A definição de estratégias e prioridades de saúde locais, para dois a três anos, permitem a cada ACES intervir onde há mais necessidade de acordo com as especificidades do seu território.
Em comum, os três ACES da região – ACES Grande Porto III Maia/Valongo, ACES Tâmega II Vale do Sousa Sul e ACES Tâmega III Vale do Sousa Norte – têm duas prioridades: as doenças cérebro e cardiovasculares e os tumores malignos. Mas cada um traça metas mais específicas.
No ACES Grande Porto III Maia/Valongo as principais causas de morte estão ligadas aos tumores malignos, do aparelho digestivo e peritoneu (o mais prevalente) e o do aparelho respiratório, mostra o documento compilado pela DGS. A hipertensão, a alteração do metabolismo dos lípidos, as perturbações depressivas, a obesidade e a diabetes mellitus são as doenças mais diagnosticadas. Este agrupamento de centros de saúde estabelece o abuso do álcool e do tabaco como factores determinantes para os problemas de saúde detectados.
As prioridades do Plano Local de Saúde definidas pelo ACES passam pelas doenças cardiovasculares (doenças cerebrovasculares e isquémica do coração), diabetes mellitus, tuberculose, Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica e tumor maligno da traqueia, brônquios e pulmão. Os centros de saúde da Maia e de Valongo pretendem diminuir a mortalidade e a taxa de internamentos causados por doença cerebrovascular, através de diagnóstico precoce da hipertensão e obesidade, maior vigilância, com campanhas de promoção de estilos de vida saudáveis e de educação para a saúde e ainda com a criação de uma consulta de cessação tabágica. Essas medidas servirão também para atingir outro propósito: a diminuição da mortalidade e morbilidade causada pela diabetes mellitus e a diminuição das amputações de membros inferiores causados por esta doença.
Combate é feito pelo diagnóstico precoce e eliminação dos factores de risco
Em concelhos como Paredes, Penafiel, que integram o ACES Tâmega II Vale do Sousa Sul, as doenças do aparelho circulatório (cérebro e cardiovasculares) constituem a causa de morte mais frequente, à semelhança do que acontece a nível nacional e da região Norte. O Acidente Vascular Cerebral surge como a segunda causa de mortalidade prematura e a maior responsável por anos de vida saudável perdidos por incapacidade ou morte, refere o relatório da DGS. Os tumores malignos (sobretudo os das vias respiratórias) e as causas externas (como os acidentes de viação) estão também entre os principais causadores das mortes prematuras: “no ACES do Vale do Sousa Sul perdem-se proporcionalmente mais anos potenciais de vida por estas causas que na região Norte e Continente”.
Entre os principais factores causadores de doença, este ACES destaca o tabagismo e a hipertensão arterial. Um estudo da Unidade de Saúde Pública local mostrava que mais de 20% dos alunos do 12.º ano de escolaridade em 2013/2014 fumavam.
Neste ACES, a luta nos próximos anos será contra as doenças cérebro e cardiovasculares, como o AVC ou o enfarte, os tumores malignos da traqueia, brônquios e pulmão, a diabetes, a tuberculose e as doenças respiratórias. Para alcançar estes resultados vão intensificar a promoção do diagnóstico precoce e o combate aos factores de risco conhecidos; e garantir o acesso a consulta de apoio intensivo de cessação tabágica e procurar incentivar ao não consumo de tabaco e à exposição ambiental do fumo do tabaco, entre outros.
Diabetes, hipertensão e tabagismo entre os problemas
O ACES do Vale do Sousa Norte enfrenta problemas semelhantes quando se fala das principais causas de mortalidade. São as doenças do aparelho circulatório e os tumores malignos. Da mesma forma, o tumor maligno do estômago, a diabetes mellitus e as causas externas de mortalidade (como os acidentes de viação) são as maiores causas de morte prematura nos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira. As causas de doença mais registadas nos centros de saúde destes concelhos são a hipertensão arterial, as alterações do metabolismo dos lípidos, as perturbações depressivas e a diabetes mellitu.
As prioridades de saúde deste agrupamento passam, mais uma vez, pelas doenças cerebrovasculares e também pela doença crónica do fígado e cirrose e tumor maligno da mama feminina, assim como o tumor maligno da traqueia, brônquios e pulmão. O ACES quer menos mortes causadas por estas doenças, assim como promover um menor consumo de tabaco e um maior consumo de frutas e legumes.
A intervenção passa, por intervir junto dos factores de risco, comuns a várias das doenças. Entre elas a prevenção do tabagismo, com programas de educação para a saúde, promover o acesso a consultas de cessação tabágica e até formar profissionais nessa área. O Plano Local de Saúde prevê também a redução do número de pessoas em pré-obesidade e obesidade, facilitando o acesso a consultas de nutrição; promover a alimentação saudável; melhorar o diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial e dinamizar a implementação do rastreio do cancro da mama feminina, entre outros.
Em todos os ACES da região há um outro objectivo comum: baixar a taxa de incidência da tuberculose.
No ACES Maia/Valongo a taxa de incidência desta doença, em 2013, era de 31,2 para 100 mil habitantes, valores superiores aos da região Norte (25/100.000 habitantes) e do Continente (22,2/100.000 habitantes). Em 2014, a tuberculose pulmonar foi a doença mais notificada das Doenças de Declaração Obrigatória, com 63 dos 142 casos do ACES. No seu conjunto, os centros de saúde destes concelhos querem diminuir a taxa de incidência da tuberculose para menos de 20/100.000 habitantes, através de diagnóstico precoce, rastreios e visitação familiar aos doentes faltosos, entre outros.
Sem surpresa, a tuberculose é descrita como “um importante problema de saúde” no ACES do Vale do Sousa Sul, afectando especialmente o centro-leste do concelho de Penafiel. “Nesse concelho estão algumas das freguesias com a mais alta taxa de incidência da Europa, carecendo de especial atenção e mobilização de recursos de saúde e da comunidade”, defende o relatório divulgado pela DGS. A taxa de incidência é superior à da região Norte e do país desde o ano 2000. Em 2013 chegava aos 45,7/100.000 habitantes. O objectivo do ACES é reduzir a taxa para os 40/100.000 habitantes, ter uma proporção de recidivas abaixo dos 10% e manter o sucesso terapêutico acima dos 85%. Isso passa por garantir o cumprimento da toma diária dos medicamentos e seguir outras medidas do Programa Nacional e Regional de Luta Contra a Tuberculose.
Nos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, que integram o ACES do Vale do Sousa Norte, a taxa de incidência está abaixo da da região Norte mas superior à de Portugal Continental, situando-se nos 24,1/100.000 habitantes no período 2002-2013.
Retrato dos ACES
ACES Grande Porto III Maia/Valongo
Concelhos abrangidos: Maia e Valongo
População residente: 231.047 habitantes
Principais causas de morte: tumores malignos (do aparelho digestivo e peritoneu e do aparelho respiratório) e doenças do aparelho circulatório
Principais factores de risco: hipertensão, obesidade, diabetes mellitus, abuso do álcool e do tabaco
Prioridades de saúde: doenças cardiovasculares (doenças cerebrovasculares e isquémica do coração); diabetes mellitus; tuberculose; Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica e tumor maligno da traqueia, brônquios e pulmão.
ACES Tâmega II Vale do Sousa Sul
Concelhos abrangidos: Castelo de Paiva, Paredes e Penafiel
População residente: 174.577 habitantes
Principais causas de morte: doenças do aparelho circulatório (cerebro e cardiovasculares) – o Acidente Vascular Cerebral é a segunda causa de mortalidade prematura -; os tumores malignos (especificamente os das vias respiratórias) e os acidentes de viação
Principais factores de risco: tabagismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus
Prioridades de saúde: Doenças cerebrocardiovasculares; tumores malignos da traqueia brônquios e pulmão; diabetes mellitus; tuberculose e doenças respiratórias
ACES Tâmega III Vale do Sousa Norte
Concelhos abrangidos: Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira
População residente: 161.974 habitantes
Principais causas de morte: doenças do aparelho circulatório, tumores malignos (com especial destaque para o do estômago). Diabetes mellitus e causas externas (por exemplo, acidente) entre as principais causas de morte prematura
Principais factores de risco: hipertensão, diabetes mellitus, tabagismo
Prioridades de saúde: doenças cerebrovasculares, doença crónica do fígado e cirrose e tumor maligno da mama feminina.