Ao longo das últimas semanas assistimos a inúmeras tomadas de posição pública sobre a TAP. Foram várias as vozes a Norte que se ergueram – e bem – contra o plano apresentado pela TAP de fazer 226 ligações internacionais a partir de Lisboa e apenas 7 a partir do Porto.
Todas elas diziam, em uníssono, que não podíamos aceitar que a TAP fosse financiada pelo dinheiro de todos os portugueses e que a empresa se propusesse a servir apenas uma parte do nosso povo.
Tudo críticas legítimas e que merecem a minha inteira concordância. Contudo, não posso deixar de registar que ninguém tenha visto além da espuma dos dias e tenha retirado consequências da indignação provocada pela decisão da gestão privada da TAP. Este negócio foi mau para o estado e para os portugueses, temos por isso que saber recuar e retomar o controlo de um dos mais importantes ativos que o estado deve ter à sua disposição. Queremos continuidade territorial, presença no mundo, apoiar as empresas, equidade independentemente da região onde residimos.
Ora, como está bom de ver, se é desejo de todos que o Estado possa ter uma voz ativa e decisiva na gestão da TAP – na definição da estratégia, mas também na efetiva gestão da empresa – é necessário que a relação de forças atual na estrutura societária da TAP se altere. Isto significa, também, que o estado tem que estar representado na comissão executiva, de acordo com a percentagem do capital que detém da sociedade.
Esta é a grande discussão a fazer em torno da TAP: qual a posição que o Estado português deve ocupar na empresa, num cenário em que será, inevitavelmente, chamado a socorrer financeiramente a mesma.
O povo português não aceitaria que o Estado injetasse um valor superior a mil milhões de euros – seja sob a forma de financiamento direto, seja sob a forma de garantias -, sem que isso significasse que a partir daquela data o Estado português passaria a ter uma posição ativa na gestão do dia a dia da empresa, como se diz em bom português: a mandar verdadeiramente na TAP.
Não colhe a narrativa de que esta é uma crise que afeta todo o sector, provocada pelo fenómeno epidemiológico covid-19: que procura apenas e só dar corpo à vontade dos liberais de justificar um eventual “socorro” aos privados, sem que isso signifique um reforço da posição do Estado na empresa.
Na verdade, este é um argumento preguiçoso, que ignora, desde logo, o facto da empresa ter apresentado avultadíssimos prejuízos em dois anos consecutivos, quando a gestão privada previa lucros para ambos os anos, bem como branqueia as incompreensíveis decisões de gestão, como o seja o pretenderem distribuir prémios aos administradores, num cenário de incumprimento dos objetivos propostos.
É preciso ter a coragem de assumir que a única forma da TAP continuar a ser uma empresa de bandeira, essencial à continuidade territorial do nosso país, à manutenção da ligação à diáspora e ao serviço do superior interesse de todo o país, é com o Estado à frente dos destinos da empresa.
É bom que se o Estado for chamado a pagar, seja o Estado a mandar: só assim se preservará a relação de confiança e cumplicidade entre o povo português e a TAP.