“Não tive tempo de pensar em nada. Só que tinha que ajudar, tinha que fazer alguma coisa. E foi isso que tentamos fazer: ajudar da melhor forma possível todas aquelas pessoas, as aflitas e as que estavam feridas”. As palavras são de Margarida dos Santos Sousa, porteira que ajudou a salvar dezenas de pessoas durante os atentados terroristas em Paris, em Novembro de 2015. A natural de Penafiel foi hoje homenageada pela Câmara Municipal. Recebeu a Medalha de Mérito Municipal Dourada pelo altruísmo, coragem e abnegação demonstradas, durante a sessão solene que assinalou os 246 anos de elevação de Penafiel a cidade.
Emocionada, dedicou a homenagem aos que morreram no Le Bataclan. E foi aplaudida de pé.
Dedicou homenagem aos que morreram no Le Bataclan
Margarida dos Santos Sousa é natural de Galegos, Penafiel, mas reside em França há 36 anos. É porteira de profissão há mais de 25 anos.
No dia 13 de Novembro, foi uma das pessoas que auxiliou as vítimas dos vários atentados terroristas que decorreram no centro de Paris que resultaram em mais de 120 mortos. Margarida dos Santos Sousa ajudou e acolheu dezenas de pessoas que fugiam do ataque, algumas gravemente feridas, no prédio onde é porteira junto ao Le Bataclan.
Por este acto “altruísta, heróico e de grande coragem”, porque “esqueceu que a sua própria vida estava em risco, salvou e socorreu algumas das vítimas que fugiam à morte sangrenta do ataque terrorista”, a penafidelense recebeu hoje a Medalha de Mérito Municipal Dourada atribuída pela Câmara Municipal de Penafiel. “A sua bravura e coragem mostraram ao mundo que lhe corre nas veias o sangue de D. Egas Moniz, o aio de D. Afonso Henriques. Salvou vidas e prestigiou a terra natal”, disse o presidente da autarquia, Antonino de Sousa, no seu discurso.
Visivelmente emocionada, Margarida dos Santos Sousa dedicou a homenagem aos que morreram no Le Bataclan. “O mérito não é meu”, disse, sendo aplaudida de pé.
“Vivi um momento de terror. Não são momentos que se esquecem facilmente”
Mais tarde, aos jornalistas, a porteira assumiu estar emocionada e feliz por esta homenagem. “Fico feliz por representar tudo aquilo que aconteceu. Dedico este momento a todos os que sofreram no Bataclan”, afirmou. Margarida dos Santos Sousa, que também já foi homenageada em Paris, não escondeu que tudo isto fá-la reviver, constantemente, os momentos que viveu. “Vou ver se depois disto tudo acalmo um bocadinho e volto ao meu ritmo normal, também é necessário”, referiu. Tirando as constantes entrevistas, diz que tudo continua como antes.
Não gosta da palavra heroína, e conta que não teve tempo para pensar na noite dos atentados. “Só que tinha que ajudar, tinha que fazer alguma coisa. E foi isso que tentamos fazer: ajudar da melhor forma possível todas aquelas pessoas, as aflitas e as que estavam feridas”. Tem mantido contacto com várias pessoas que ajudou nesse dia, mas no início não foi fácil lidar com a situação, confessa.
“Vivi um momento de terror. Não são momentos que se esquecem facilmente. Tenho sido acompanhada por uma psicóloga. Nos primeiros tempos não conseguia dormir e, à mínima coisa, assustava-me. Mas agora estou a voltar ao normal, aos pouquinhos”, explica.
Apesar de tudo, a porteira natural de Penafiel diz com orgulho que nunca deixou de trabalhar. “A prova é que todos foram embora e eu fiquei sozinha a limpar o meu prédio que estava cheio de sangue”, recorda.
Nesta cerimónia foram entregues 12 medalhas, duas Medalhas de Ouro do Concelho e 10 Medalhas de Mérito Municipal Douradas.
Veja quem foram os outro homenageados aqui.
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