Quem, como nós, tem assistido aos debates pré-eleitorais, percebe que os intervenientes, embora não o digam ou digam até o contrário do que pensam, procuram duas ou três coisas que transparecem das suas palavras. Pelo lado da direita, agora só representada pelo CDS dado o afastamento do PSD para aquilo a que os comentadores e eles próprios chamam de centro, tenta-se fazer a gestão dos danos depois de, sobretudo a líder, ter andado a “meter o pé na poça” por não ter sabido agarrar causas estruturantes ou fracturantes. O CDS, antes deste período, andou a “pescar à linha” quando o que se lhe exigia era que navegasse e se afirmasse em mares agitados. Faltaram bons marinheiros quando havia mar bravo para explorar.
Na outra banda, BE e CDU, cada um à sua maneira, tenta permanecer no barco que ainda não dá sinais de se afundar apesar dos ventos incertos que já sopram da europa e do mundo. Bastará uma rajada forte para que o Bloco regresse à matriz contestatária que tem esquecido ultimamente e a CDU se veja obrigada e abrigada pelo cobertor ideológico a que o retorno à austeridade, maior ainda, os remeterá. Aliás, esta proximidade do poder, se ao Bloco deu conforto, à CDU parece ter deixado os pés de fora. Quando se estica a manta destapam-se os pés. Em toda a europa, no século passado, sempre os partidos comunistas tradicionais que se “europeizaram” acabaram extintos. Estas eleições irão mostrar-nos até que ponto o PCP poderá ter sido afectado pela legislatura em que esteve mais próximo dos centros de decisão institucional, depois do período revolucionário e de um governo que, claramente, não era de esquerda.
O PS, seguro das fragilidades e mal-agradecido aos parceiros de que se serviu durante a legislatura, na mira da maioria absoluta, vira-se para o “centro” que é também o espaço virtual que o PSD quer para si.
Para nós, que procuramos na História a perceção do passado, o entendimento do presente e as perspectivas de um futuro, é neste espaço, no espaço dos dois maiores partidos, que começamos a sentir a falta de ar necessária a uma respiração saudável.
É que, até hoje, no espetro das ideias políticas ou nos mais pragmáticos exercícios da ação governativa, não encontramos ainda uma definição, um conceito explícito do que é o “centro político”. O centro, em política, não é carne nem peixe. O centro não se encontra no conjunto das ideias políticas estruturadas. O centro, em política, liminarmente, não existe.
E não nos venham, como o PAN, com modernismos pós-ideológicos. É invenção para esconder a ignorância e atrair incautos e inocentes.
Enquanto assim entendermos não alinharemos em tropel de carneirada desenfreada e, como na fábula de Fedro, recusaremos a esperteza do burro que dizia: assim como assim qualquer dono me serve. Ao que consta, pensava assim porque era burro.
MEL
Debates televisivos
O aumento das audiências dos debates televisivos são sinal positivo para esta democracia em crise. Quase nos atrevemos a dizer que as “crises” elevaram o conhecimento dos portugueses em áreas tão importantes como a economia, mesmo para aqueles que só nas suas economias têm interesse. Podíamos ter melhores protagonistas? Claro que sim, mas, se fomos nós quem escolheu estes, queixamo-nos de quê? Queixamo-nos a quem?
FEL
Crimes nos rios Ferreira e Sousa
Enquanto os rios Ferreira e Sousa continuarem a ser vítimas permanentes da negligência e do abandono dos responsáveis é nos autarcas, todos e de todos os concelhos banhados por ambos os rios, que descarregaremos o nosso descontentamento pelo silêncio cúmplice e criminoso com que assistem à degradação e à morte desses rios. E que nunca nos digam, como desculpa, que “ as autoridades competentes” já tomaram conhecimento. Disso todos sabemos, até porque nunca nos cansamos de os informar. O que nos cansa é a passividade, a inércia, quiçá, as responsabilidades que não assumem. Houvesse uma camisola para vestir a um ciclista no final de uma etapa da Volta a Portugal e até se acotovelavam para aparecerem na fotografia.