Depois de Catarina Martins ter afirmado que o Bloco é social-democrata, ficamos a saber – como se ainda tivéssemos dúvidas – que, afinal, a social – democracia é traje que serve a todos. Aliás, com esta súbita ascensão aos céus da exemplar ideologia, fora deste quadro ideológico só restariam dois partidos candidatos às próximas eleições.
Curiosamente, enquanto a maioria dos comentadores afirma que, a ser assim, se reduz o quadro das opções políticas, para nós, pelo contrário, elas aumentam na medida em que se reproduzem as alternativas representadas pelos novos partidos que concorrem às legislativas de Outubro. Os resultados que os novos e, à partida, pequenos partidos obtiverem, juntamente com a percentagem dos abstencionistas, mostrarão até que ponto o “centrão” partidário PS/PSD ainda satisfaz as exigências do eleitorado. Fora deste cenário ficaria, obviamente, o PAN. Primeiro porque é só o partido dos animais e do ambiente. Não acreditamos em partidos que não coloquem as pessoas em primeiro lugar no universo das suas ideias políticas. Segundo, exactamente pelo que o próprio PAN afirma. Não tem ideologia. Não é de esquerda nem é de direita. Para quem acredita no primado da democracia não pode crer nos que se dizem à parte das ideologias. Para nós, a democracia é, não só mas também, a diversidade das ideologias, salvo raras e trágicas exceções.
Mas, afinal, o que é a social-democracia?
A social-democracia, a verdadeira, pensamos nós, caracteriza-se por ter um estado intervencionista que dá prioridade à promoção das igualdades, ao combate às discriminações e à utilização do sistema de impostos e de serviços públicos universais para assegurar direitos e redistribuir recursos. Nesta perspectiva a social-democracia seria, entre nós, representada pelo PS, embora de forma obtusa pelos abusos que comete quando, como faz sempre, se apropria do aparelho da administração da pública e faz coincidir e confundir o partido com o estado.
Outros, já não seriam social-democratas, dão prioridade, à acumulação capitalista, defendendo que primeiro é preciso crescer para depois distribuir, secundarizando assim o combate às desigualdades. É onde se encontra o PSD que também se acostumou a confundir-se com o estado quando se encontra no poder. Aliás, o que mais aproxima o PS do PSD é este defeito. De resto não temos dúvidas que o PS tem mais a ver com o reformismo social-democrata e o PSD com o liberalismo.
Nesta perspectiva, no quadro dos partidos que se sentam na Assembleia da República, aos eleitores que não se revêem na social-democracia, hoje abraçada pelo PS, PSD e até pelo Bloco, sem contar com o PAN que não tem ideologia, restariam apenas os extremos do Parlamento como opção de voto: à esquerda, a CDU, fiel aos seus princípios revolucionários e socialistas e, à direita, o CDS que embora não represente a direita social, se mantém no quadro democrático na defesa do liberalismo que não é sequer o conjunto de valores conservadores. Mais do que isto só se encontra em alguns, muito poucos, dos novos partidos concorrentes que, embora próximos de conseguirem lugares na Assembleia da República, estão ainda longe de fazer a sua afirmação ideológica. No máximo, representam os interesses de grupo e, no mínimo, a maior parte deles está ligado apenas a questões de afirmação pessoal. Uns porque são maiores do que o seu umbigo e os restantes porque, nos seus partidos de origem, tiveram mais barriga do que umbigo.
FEL
Quando Catarina se evaporou
Até agora, são do Bloco de Esquerda, os dislates mais bombásticos desta infindável pré-campanha eleitoral. Ouvir Catarina Martins dizer que o Bloco é social – democrata ou que não se devem fazer mais barragens porque a água se evapora é de ficar a pensar que quando o tempo é longo os raciocínios ficam curtos. E o Bloco até tem uma pontinha, muito curtinha, da social-democracia e, que ninguém duvide, a água evapora-se. Mas não será por aí que fará o seu caminho para conseguir captar o eleitorado do PS.
MEL
O Ambiente, finalmente
Definitivamente, não por causa do PAN nem da infantilização dos graves das questões ambientais, mas pela consciencialização universal de que os recursos do planeta são finitos e pelo efeito da informação que o sistema educativo forneceu às novas gerações, os problemas do ambiente serão bandeiras da maioria dos partidos às próximas legislativas.
Pena é se se resumirem a processos de intenções cujo prazo de validade coincide com o dia das eleições.
Enquanto isso, está mais do que na hora, de apresentar queixa formal no ministério público contra todos os organismos que têm responsabilidade nas gestão dos nossos recursos hídricos. O que está a acontecer nos rios Ferreira e Sousa é um crime ambiental, são muitos e permanentes crimes, que só terão fim, ao que tudo indica, quando os responsáveis, todos, se sentarem nas cadeiras do tribunal e na condição de arguidos.