POLÍTICA PARA TOTÓS: mensagens de natal

0

E se, de repente e de seguida, te passassem pela frente as mensagens de Natal da rainha de Inglaterra, do primeiro-ministro de Portugal, do Papa ou até do presidente da câmara de Paredes, o que ficarias a pensar?

Fizemos o exercício como se a pergunta fosse para nós e colocamos, logo depois, os suportes básicos de análise que colocaríamos, igualmente, a todas as mensagens, como se todas tivessem a mesma importância.

Quem faz? Porque faz? O que diz? O que percebemos do que diz?

Faz o Papa, o presidente da câmara, o primeiro-ministro e até a rainha de Inglaterra.

Fazem públicas mensagens de Natal, através dos meios de comunicação de que dispõem, porque desempenham funções institucionais, por eleição, nomeação ou hereditariedade, que consideram importantes e entendem que, por via disso, ou por serem quem são, é relevante para todos o que cada um deles tem a dizer.

O que dizem?

Juntemos o que ouvimos com o que percebemos e respondemos de uma vez às duas últimas perguntas.

A rainha, repetindo-se na monotonia discursiva, de novo só trouxe o cenário. No ano passado, Isabel II, foi muito criticada por falar com um piano dourado atrás de si. Este ano não arriscou.  Só uma lareira, coisa que todos temos em casa, nem que seja a da cozinha. Juntou uma árvore de Natal muito despropositadamente colorida. Tão rococó que qualquer um de nós faria parecida ou mais bonita. Só não percebemos as razões da falta de críticas dos tabloides ingleses. A árvore ou era de plástico ou foi precocemente amputada a uma qualquer floresta inglesa.

António Costa resumiu a sua intervenção às preocupações com o SNS (Serviço Nacional de Saúde). Ora, “haja saúde” que o resto se arranjará, terá pensado o primeiro-ministro. Talvez não. Deve ser mais seguro pensar que os indicadores de um qualquer estudo de opinião o levaram a achar conveniente escolher este e só este tema. Os indicadores devem ter sido tão evidentes que até o exagero da gravação da mensagem numa unidade de saúde nos mostra que o que devia ser uma mensagem de Natal se transformou num tempo de antena do governo. Se um primeiro-ministro, mesmo não sendo cristão, tem o dever ou a necessidade de fazer um discurso de Natal, que nos fale dos problemas do país, mas não os resuma ao Ministério da Saúde. O governo tem tantos ministérios que, para os incautos, se torna num mistério uma escolha tão óbvia.

O presidente da câmara de Paredes, disse, mais coisa menos coisa, que os” próximos dois anos eram para projetar os projetos que andou a projetar nos dois anos anteriores”. Se pensa que “para bom entendedor meia palavra basta” e quis dizer que os próximos dois anos são para concretizar os projetos publicitou como se fossem obra já realizada, até nós entendemos e aceitamos.

 

Apesar de nos parecer que dois anos é muito tempo para quem já era vereador há oito, até nos daremos por contentes se, mesmo assim, concretizar metade das promessas que fez. Não é difícil, mas será melhor esperar para lhe darmos razão.

É que, se é verdade que Alexandre Almeida entra agora no seu terceiro ano como presidente da câmara, não é menos certo que entra no décimo primeiro ano como autarca no órgão executivo do concelho. Quando acabar o mandato terá concluído doze anos de exercício de funções de poder. Tem de fazer muito para parecer que fez alguma coisa ou, então, o seu ciclo também chega ao fim. Doze anos é muito tempo!

O Papa, depois de nos ter anunciado o fim do “Segredo Pontifício” que encobria a saga sem fim dos crimes sexuais cometidos pelos membros da Igreja Católica, na sua mensagem de Natal, Francisco apelida de farsa a época natalícia enquanto for vivida assim num mundo onde o capitalismo selvagem- não disse, mas percebe-se – acentua todas as desigualdades.

Paradoxalmente, é do Vaticano, melhor dizendo, é do principal responsável da Igreja Católica-que não é propriamente um regime democrático – que nos chegam as palavras que mais necessitamos de ouvir. As mais importantes neste e em qualquer Natal.

E é também assim e por isso que as mensagens de Natal nos soam apenas a coisas do mundo, sinais dos tempos. Tanto como esta crónica e o seu autor.

Por falar nele. Deixa-vos, agora e desta maneira, os votos de que se esforcem, como ele vai fazer, por serem melhores pessoas e nunca se contentem em ter esperança. Isso é ficar à espera que as coisas aconteçam, normalmente, que aconteçam e sejam feitas pelos outros.

Em 2020, façamos nós. Façamos acontecer!