Dito desta forma parece um enorme disparate, mas, presumimos, não seremos os únicos a reparar que, para além da agenda municipal do concelho de Paredes, a freguesia de Lordelo tem uma agenda territorial muito peculiar e um protocolo administrativo que limita aos valores mínimos a dependência municipal e exponencia ao máximo a autonomia da autarquia local.
Dito doutra maneira e simplificando: se a sede do concelho determina as políticas municipais, Lordelo define, em alternativa, as iniciativas da freguesia aproveitando as de caráter concelhio que mais lhe interessam e implementando uma verdadeira agenda política, económica e social como se fosse um concelho.
Aliás, o orgulho de ser lordelense é centenário, como também tem mais de cem anos o movimento independentista que nasceu na freguesia. Fosse para passar a pertencer ao concelho de Paços de Ferreira, fosse para se transformar num concelho próprio integrando algumas freguesias vizinhas dos concelhos de Paredes, Paços de Ferreira e Valongo, fosse mesmo criando o tão famoso como improvável concelho do Padrão, consoante reuniões realizadas já em pleno séc. XXI, a verdade é que Lordelo nunca se sentiu bem como freguesia do concelho de Paredes e o antagonismo dos lordelenses, ao contrário do que muitos pensam, não se aplica apenas e só à rivalidade maior com a freguesia vizinha de Rebordosa. Estende-se a todo o concelho. Aliás, de Paredes, os lordelenses, todos sabemos, têm o costume de dizer que a sede do concelho “só serve para levar os nossos impostos”. Os habitantes de Lordelo não dizem que são de Paredes. Dizem que são de Lordelo-Douro. Os moradores de Lordelo raramente e quase só quando obrigados exibem a bandeira do concelho. Orgulham-se da sua, a bandeira da cidade de Lordelo.
Seja como for, a História lembra-nos que muitos dos concelhos deste Portugal nasceram de movimentos cívicos e dinâmicos que acabaram por se afirmar junto das populações que, por sua vez, tomaram estas como suas causas e acabaram por, mais vezes a bem do que à força, fazer nascer novos concelhos dando assim origem às centenas que constituem o país.
Se a ideia, à partida, parece estapafúrdia, estamos certos de que é coincidente com a opinião de muitos dos cidadãos de Lordelo.
Só temos uma certeza. Esta vontade existe, é secular e legitima. Só falta saber quanto representa em termos de vontade popular. O mesmo é dizer que o que falta saber qual será o partido político que, em futuras eleições, terá a coragem de propor um referendo junto dos eleitores.
Ouvir a vontade popular é um dever de quem governa e um direito de quem é governado. Nós, como cidadãos, aceitaríamos de bom grado qualquer que fosse a vontade dos lordelenses. Acabavam-se assim as “reuniões clandestinas” em democracia ou a “apologia independentista” dos que se acham mais atrevidos.
Resolvia-se, também, duma vez por todas, este enigma histórico que, ora às escondidas ora às claras, mantém sempre aberta uma ferida que, está visto, nunca se curará por si. E a unidade do concelho é fundamental para o seu desenvolvimento equilibrado. Com ou sem Lordelo.
MEL
O Verão na região
As autarquias da região parecem ter despertado para a necessidade permanente de diversificarem a oferta de férias aos seus moradores. Diversificada e, num caso ou outro, até atrativa. Contudo, esta variedade e estas variedades, ao contrário do que deviam, não constituem fator de agregação e ampliação das relações de boa vizinhança entre as populações dos diferentes concelhos. E é uma pena. Uma oferta concertada entre os municípios potenciaria mais, muito mais, a actividade económica na região.
FEL
Crise nos B.V. de Cete
É nestas alturas que me recordo sempre dos tempos em que Jorge Malheiro era presidente da autarquia e lá esqueço a minha costela esquerdista para reconhecer no antigo presidente da câmara o mérito que teve. Fui, é público, seu chefe de gabinete, e quando se tratava de bombeiros e das suas “intromissões” nestas colectividades recordo que se limitava à concessão dos devidos subsídios a todas as corporações e ao orgulho que tinha em acompanhar os bombeiros do concelho sempre que entravam em provas internacionais.
De resto, acompanhava-o, altas horas da madrugada, na sua carrinha de caixa aberta, naquilo que fazia com orgulho. Levar géneros alimentícios aos soldados da paz que combatiam os incêndios. Leite, principalmente.
Nunca mais conheci, na minha terra, um autarca que fizesse o mesmo. Vi muitos a dizer que fizeram muito mais. É esse “mais” que sempre acho excessivo.