POLÍTICA PARA TOTÓS: Quando a denúncia não basta e as redes sociais não chegam

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Nos últimos tempos, e com razão, sobretudo nas redes sociais, muitas vezes acompanhadas de imagens, surgem denúncias factuais sobre a inenarrável degradação da qualidade das águas dos nossos rios, particularmente o Sousa e o Ferreira, e os níveis de poluição que, hoje por hoje, seriam notícia até em países do terceiro ou quarto mundos.

As queixas surgem mais amiúde feitas pelos cidadãos que sentem diariamente ou porque vivem perto dos locais onde acontecem esses crimes ambientais ou até, alguns deles, já terem recorrido a cuidados médicos em consequência dos danos causados pelos permanentes atentados de que os rios têm sido vítimas.

Não se pense, contudo, que o problema da poluição dos rios, e destes dois em particular, são assunto que diga respeito apenas a quem vive junto deles. Os problemas do Ambiente são, como todos sabemos, um dos graves problemas que aflige o planeta e a humanidade e as consequências da inação dos responsáveis levará, já levou, à diminuição da qualidade de vida das populações e, mais grave ainda, à degradação do planeta com consequências irreversíveis para nós e para os que depois de nós virão.

Hoje, a sensibilização para estes problemas começa nos anos mais precoces do sistema educativo. As próximas gerações estarão, sem dúvidas, mais bem informadas e mais capazes de comportamentos diferentes, para melhor, de forma a proteger os recursos naturais e a geri-los de forma mais eficaz e eficiente em função da consciência coletiva com que olharão estes “deficits ambientais” com tanta ou maior atenção do que os “deficits financeiros” que nos dias que correm se sobrepõem.

De que lhes servirá o que aprenderam se quando chegar a sua vez de gerir o planeta o mal já não tiver conserto?

Mas, conscientes que também já estamos, que fazemos nós para corrigir os erros que cometemos ou deixamos que os outros cometam?

Existem vários organismos públicos que nasceram, exatamente, para evitar a degradação dos rios e das respetivas bacias hidrográficas. Seriam úteis e importantes se desempenhassem as funções que levaram à sua criação. E da queixa ao SEPNA, passam a responsabilidade a um Instituto Hidrográfico qualquer que nem sabes que existe e deste para um Observatório que só observa ou nem isso e as nossas queixas, depois de percorreram mais etapas do que os ciclistas da Volta ao Portugal, podem chegar até ao ministério que, como lhe compete, devolve à proveniência que, como tu sabes, é aquele a quem te dirigiste em primeiro lugar. Ou seja, volta tudo à estaca zero em termos de solução dos problemas e, entretanto, o que te aflige e devia preocupar todos, o leito rio, em vez da água, já só te deixa ver os dejetos fecais e outros objetos que tais.

Na região, a multiplicação das reações formais que começaram pelos procedimentos legais não surtiram efeito, estão agora a passar para ações públicas de rua pacíficas que terão maior visibilidade. Se nem estas surtirem efeitos, não nos espantaremos se, a curto prazo, se radicalizarem os protestos e não seremos nós a opor-nos ou a condenar se, num destes dias, e sem aviso prévio, sentirmos o mesmo cheiro nauseabundo e os peixes mortos,  em frente de autarquias por onde estes rios passam, consequência do despejos de cisternas de águas residuais que, em vez de serem lançadas aos rios, como agora, passam a ser deixadas junto de quem se demite das suas obrigações e as deixa para planos secundários ou para as calendas gregas.

E é ingrata a obrigação dos cidadãos. Resta-lhes incomodar, mas incomodar mesmo, os únicos sobre quem têm algum poder de influência. Os eleitores não escolhem nem nomeiam os dirigentes dos órgãos da administração pública, muitas vezes meros lugares de clientelismo partidário, com chorudos vencimentos pagos por todos, sem competências para o exercício das funções para que são designados. Os eleitores não escolhem ministros, secretários de estado, subsecretários, subsecretários dos subsecretários nem escolhem os dirigentes de institutos e outros organismos cujo trabalho nunca é escrutinado, nem sequer são ouvidos nas escolhas das “paletes” de assessores que sobrecarregam os nossos impostos. Os eleitores só têm influência sobre quem elegem. Neste caso, os autarcas. E por muito que simpatizemos com o presidente da junta, o presidente da câmara ou o vereador, é a eles e só a eles que, diretamente podemos responsabilizar por força da arma que ainda podemos usar: o voto.

O ciclo virtuoso da água está a ser subjugado pelos círculos viciados da negligência política e pela submissão cúmplice aos interesses económicos.

Que não descansem os que elegemos. Enquanto a água não for devolvida à natureza em condições ambientalmente saudáveis não esperem tréguas daqueles que, embora se preocupem consigo, estão principalmente mobilizados pelo futuro do planeta.