Política para Totós: Da “presidência participativa” em Paredes. “Olhamestes”!!!

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Acompanhámos – bastava atravessar a rua – a chamada presidência participativa, promovida pela câmara municipal e destinada à freguesia de Paredes.

Em síntese e porque nos interessa mais falar do que pensamos do que daquilo que os outros querem que pensemos, façam-se dois ou três reparos:

– A expressão “presidência participativa” remete-nos para um tipo de gestão de cariz presidencialista quando, em boa verdade, o órgão executivo da autarquia é de cariz colegial. Aliás, é dos poucos órgãos executivos do nosso sistema político em que a oposição tem, democraticamente, os mesmos direitos que os restantes membros eleitos. Feita como “presidência” não só anula os direitos da oposição como menoriza a importância dos restantes vereadores.

– Se era para ouvir a população que necessidade havia de reservar lugares para os VIP`s que desconhecemos? Na sessão ”participativa” de Paredes reservaram-se tantos lugares para os que não vieram e participaram sobretudo os cidadãos comuns que ficaram longe da “presidência”. Na próxima coloquem lustres para iluminar os ilustres. Talvez os reconheçamos. Este PS lembra-nos o “país engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano”. Foi O`Neill que o disse.

-Percebe-se, mas não se aceita, que se queiram reservar alguns lugares da primeira fila para as colectividades subsídio-dependentes. Essas nunca iriam colocar perguntas incómodas. Aliás, a ausência dos representantes dessas colectividades só é aceitável porque, presumimos, durante o manjar de cabrito com que a câmara os presenteou, a eles e a outros “cidadãos de primeira”, terão tido o tempo necessário para resolver os seus problemas. Barriga cheia, problemas resolvidos. Ao que consta, nem metade dos comensais se dispôs a comparecer.

Mas deixemo-nos de pormenores para encontrarmos o que nos preocupa:

– No painel não vimos obra feita, mas também não esperávamos ver. Dois anos servem, já o tínhamos escrito, para renegociar a dívida e criar capacidade para novo endividamento, algum dele, espera-se, utilizado em bons investimentos. Ouvimos falar de diminuição da dívida a curto e médio prazo. E a longo prazo? Empurrou-se o problema com a barriga? Se dívida diminuiu como é que os prazos de pagamento se dilataram tanto?

– Sobre a recuperação total do Complexo Desportivo das Laranjeiras, compromisso eleitoral levado à exaustão, ouvimos falar da transformação do pavilhão gimnodesportivo em multiusos e, lá mais para a frente da recuperação do estádio das Laranjeiras. Duas ou três notas: esqueceram-se que o campo de treinos também faz parte do complexo ou, com a desculpa da construção de mais um parque de estacionamento, que pode ser subterrâneo, vão permitir a construção de mais prédios encavalitados? Ou já acordaram esse negócio? Se o fizeram o melhor seria voltar atrás. Quem avisa só pode ser amigo!

Em alternativa à transformação do gimnodesportivo em multiusos, numa zona densamente habitada, implicando custos de insonorização desnecessários, não seria mais óbvio e mais barato recuperar o pavilhão para os fins desportivos para que foi criado e fazer o multiusos nas instalações da adega cooperativa, agora que foi anunciada a compra deste imóvel? Daqui a pouco “nem pau nem bola”.

Isto para não falar na arquitectura apresentada. Parece-nos semelhante à do posto de turismo, que todos detestam. Mas, a estética arquitectónica, deixamo-la para quem sabe da poda, desde que não sejam os mesmos autores do posto de turismo ou algum gabinete que levante suspeitas no campo da ética e da transparência que se exige.

– Percebeu-se também que são para esquecer as promessas do tipo de realojar a comunidade cigana, devolver a identidade às freguesias da cidade, baixar o preço da água, de um estudo de tráfego na cidade ou o que fazer nas antigas instalações nas destruídas instalações da junta de freguesia. Serviram para a campanha eleitoral, mais nada!

Percebeu-se, por fim, o desprezo dos autarcas, sobretudo do seu presidente, pela opinião das elites. Se não o tem ficou à mesa com o cabrito.

A sensação que daqui resulta é a de que continuamos a viver numa terra que despreza e olha de soslaio quem consegue pensar para além do óbvio ou além do que o poder instituído pensa. Percebe-se o efeito da sombra, mas quem perde é o concelho.