Não é o facto de se tratar de uma festa de tradições pagãs que nos afasta da rua nestes dias. Cada um professa o que quer e, de vez em quando, até é melhor ver como se divertem os outros. Mais que não fosse para saber que tipo de brincadeiras e festejos alegram os outros e a nós deixam insensíveis.
A razão do cumprimento da tradição não se coloca em Portugal. Somos do tempo em que a terça-feira gorda era apenas mais um dia de trabalho que não se distinguia dos outros dias da semana. Também somos do tempo em que o primeiro-ministro, Cavaco Silva, quis repor a “normalidade” não concedendo tolerância de ponto, neste dia, aos funcionários públicos. Curiosamente, ou não, o contágio da folga estendia-se também aos trabalhadores das atividades privadas. Portanto, não é também o feriado que nos perturba.
Afinal, o que nos incomoda? Nada, se não fosse esta coisa de ver as meias cheias de arroz e os pratos cheios de meias. Por outras palavras, para além do cozido à portuguesa e a sopa seca na nossa região, ao entrudo associa-se a diversão, a excentricidade, a folia, a bebida, o calor. Festa, no sentido mais lato. Ou dito ainda de outra maneira: quando olhamos para o carnaval, sobretudo no Brasil, vemos o esplendor da festa na sua expressão mais popular, mas sempre sujeito a duas condicionantes. O calor e a tradição. Se observarmos um outro carnaval, muito procurado e mais perto de nós, o de Veneza, já dispensamos o calor, mas cumprimos a tradição secular, uma vez por outra interrompida por circunstâncias históricas.
E nós?
A reboque de uns e a jeito de outros alinhamos na festa. O que nos sobra de vontade para a farra falta-nos na tradição e sobretudo no clima. Fazer o carnaval no inverno é a mesma coisa que andar de gabardine no verão. É por estas e por outras que nos apetecia comer bem antes da Quaresma e desfazer as calorias com o sol do verão. Enquanto, teimosamente, quisermos celebrar o carnaval assim, lá teremos de assistir, cheios de frio e com piedade, aos desfiles de corpos quase nus e matrafonas a desfazerem-se sob a força imponente do vento e da chuva.
E assim, paroquialmente, assistimos à proliferação de “carnavaizinhos e desfilezecos” a ver quem faz o melhor corso. O carnaval é do povo. Que se façam menos, mas bons. Que se juntem todos se a festa é mesmo popular. No verão, de preferência.
P.S: este texto foi escrito antes da terça-feira gorda. Oxalá não chova.
MEL
Praça do Românico em Lousada
Potenciar sinergias, como é vulgar dizer-se, é o que Lousada pretende fazer aproveitando o sucesso da Rota do Românico e a imponência do centro interpretativo do mesmo projeto cultural e turístico. São coisas destas que nos fazem crer que os bons exemplos podem e devem ser plagiados.
FEL
Fake News
Um estudo recente e credível diz-nos que quase 50% dos utilizadores da internet não consegue distinguir entre uma notícia falsa e uma notícia verdadeira. Para piorar a coisa, ao mesmo tempo, as “fake news” multiplicam-se em todas as plataformas digitais tentando formatar lógicas que, muitas vezes, ficam no oposto da realidade. A necessidade de regulamentação é cada vez mais premente.
Sobrará sempre espaço para os que entendem que a verdade é apenas uma maneira de ver.