Aos fins-de-semana, sempre que posso, descanso como gosto. No último, entre outras coisas, fui ao “encerramento” do verão, em Paredes. Pronto, o verão acaba, mas não se encerra. Não será por isto que o interesse da iniciativa diminui.
Depois desta introdução dar a entender o contrário, louvo a iniciativa e não alinho no grupo dos que dizem que, em Paredes, só se fazem cópias do que se faz nos outros concelhos.
A reflexão presente prende-se com a crónica que aqui escrevi na semana passada apelando às boas relações entre concelhos e à promoção do saudável convívio entre vizinhos.
Dei-me conta da distância que é necessária para percorrer esse caminho.
Nos dois dias da festa pareceu-me estar num lugar onde, por falta de hábitos, nem os presentes estavam tão à vontade como podiam estar.
Assisti também à “aparição” programada dos representantes do poder e à “desaparição” propositada daqueles que antes participavam em tudo o acontecia no concelho.
Ontem, como hoje, apontei também, o círculo fechado de que se rodeiam os que estão no poder e da bajulação daqueles que gostam de estar sempre próximos dele.
E disse de mim para mim: Quando é que esta gente mete na cabeça que o respeito que merecem os que estão no poder é igual ao respeito merecido por quem os elegeu? Quando é que percebemos que as obrigações são sempre mais dos eleitos do que dos eleitores? Quando é que aprendemos que estas coisas não são feitas pelo partido A ou pelo partido B para as pessoas X ou Y? Quando passaremos a entender que a democracia não existe para nos dividir, que não existe para nos separar?
O tempo de “quem não é por mim é contra mim” marca um período da nossa História que, seguramente, não queremos repetir.
Duma vez por todas: viver em democracia é perceber as diferenças, mas nunca poderá ser, como me pareceu, um lugar para uns onde não cabem os outros.
Curiosamente, nos concelhos vizinhos, parece-me que já ultrapassaram a Idade da Pedra e, normalmente, as pessoas sentem-se bem onde querem estar. Uns com os outros.
Se falo em causa própria? Claro que sim. É própria, mas não é pessoal. Sempre convivi bem com a democracia e nunca me sinto mal-acompanhado, mesmo quando comigo estão os que não pensam como eu.
MEL
Para a resiliência e o esforço das autarquias que, durante este verão, tentaram trazer vida a cada concelho, pese embora a necessidade evidente de coordenar a oferta de entretimento e entretenimento, de forma a aumentar a qualidade e a eliminar os “muros” que prevalecem entre os concelhos e não são desígnio dos seus habitantes, mas “obra” dos eleitos locais.
Destaco, obviamente, o concelho de Lousada que, há muito, me dá, todo o ano, a possibilidade de assistir a quase tudo o que, neste domínio, gosto.
FEL
Se tivesse o estatuto literário do Miguel Esteves Cardoso diria, como ele, que abomino o “lambecuzismo” a que assisto. Como não tenho, limito-me a condenar as atitudes dos velhos e novos “lambe-botas”, cata-ventos de qualquer poder, representantes da hipocrisia social vigente e protagonistas de comportamentos que, ao contrário do que pensam, não dignificam em nada a sua condição humana e me fazem crer, cada vez mais, naquilo em que acredito: só é verdadeiramente livre aquele que se dá ou recusa, mas a nada nem a ninguém se presta.