POLÍTICA PARA TOTÓS: Nem má herança nem retoma

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É por alturas do fim do ano que costumam fazer-se análises mais ou menos imparciais da actividade política. É assim com o governo central, também pode ser com os governos locais. Na área de abrangência do Verdadeiro Olhar só um dos municípios tem um novo poder resultante das eleições autárquicas do ano passado. Como é nele que vivemos é dele que falaremos, sem grandes certezas, mas certos de que nunca poderíamos dizer tudo numa simples e despretensiosa crónica.

Tentemos por partes. Após dois orçamentos aprovados e pouco mais de um ano de governação, o executivo eleito em Paredes diz de si próprio, ou dizem os que o defendem, que nunca se fez tanto num ano. Do outro lado, do lado dos que se lhe opõem, trazem à ribalta o incumprimento das promessas eleitorais.

Dizem os eleitos pelo Partido Socialista que aprovaram o primeiro orçamento, o da “má herança”, e agora já publicitam o “orçamento da retoma”.

Nas contas municipais, em Paredes ou em qualquer outro município, muito raramente se apuram excedentes financeiros. Normalmente, herdam-se dívidas de que resultam maiores ou menores constrangimentos ao exercício da actividade autárquica. Em Paredes, bastou uma providência cautelar para “descongelar” os fundos comunitários ou o recurso a um empréstimo de 15 milhões para que o executivo se munisse de todos os mecanismos necessários ao normal funcionamento da autarquia. Pronto, os eleitos pelo PS não herdaram uma fortuna nem isso esperavam porque estiveram sempre representados no executivo municipal, enquanto oposição, e nunca se lhes ouviu falar em ingovernabilidade. Dá jeito e fazem-no sempre,  estes ou a outros vencedores, queixarem-se das dívidas herdadas. Ganham tempo para equilibrar as contas e desculpas para não cumprirem as propostas eleitorais por mais imediatistas que fossem as promessas. Nada que outros não façam a uma distância tão grande das próximas eleições autárquicas.

Apresenta-se agora o “orçamento da retoma”. É mentira.

Se assim fosse, lá para Março, quanto for o tempo de apresentação das contas, a autarquia não poderia apresentar dívida e passivo que que, cremos, será superior ao que herdou.

Se assim fosse, sobraria espaço de manobra a este executivo para colocar no terreno os investimentos prometidos. Ainda não será durante este ano. Talvez 2019 seja o momento politicamente oportuno para apresentar os projectos. Daí até a obra nascer são outros quinhentos.

Quer isto dizer que a autarquia está a ser mal gerida? Não. Só que, na política, há um tempo para lamentações e outro para cumprir o que se prometeu. Infelizmente, faz-se sempre muito menos do que o que se promete.

É justo que assim seja? Claro que não, mas enquanto o sistema eleitoral não responsabilizar os eleitos por recorrerem a todos os meios para captar eleitores, as campanhas eleitorais serão sempre uma farsa com protagonistas diferentes de vez em quando.

O que nos resta, então?

A esperança que o ciclo eleitoral se cumpra dentro de parâmetros razoáveis.

Que quer isto dizer?

Que teremos a água mais barata? Que a rede de distribuição de água e saneamento irá crescer? Que as cooperativas de distribuição existentes continuarão a distribuir a água como fazem hoje? Que o IMI estará na taxa mínima? Que as freguesias do sul do sul do concelho vão, finalmente, receber aquilo que merecem? Que a comunidade cigana será realojada? Que as Laranjeiras estarão recuperadas?

A crónica tornar-se-ia mais extensa ainda se enunciássemos todas as promessas feitas. Os eleitores dar-se-ão por contentes se algumas estiverem concretizadas. O cardápio – sabia-se antes – é extenso para poder ser cumprido numa legislatura.

Apesar do que atrás fica escrito, damos conta de que, afinal, ainda não passamos dos preliminares num balanço a que faltam ainda muitas abordagens antes de se consumar.

Fica a certeza de que para o fazer não precisaremos do recurso à mentira, ao insulto ou à intriga. Fica também a promessa de que não será um qualquer presidente, interino ou não, de uma qualquer comissão política que condicionará os nossos raciocínios.

MEL

O melhor de Paredes em 2018?

Sem dúvida, o regresso da democracia aos órgãos do poder local. Esperamos que não seja fruto da ocasião e se consolide porque, afinal, se a democracia é a legitimidade para o governo da maioria, a sua essência só se cumpre no respeito pelas minorias.

FEL

O pior de Paredes em 2018?

Chegaremos lá noutra ocasião, mas nunca se viu o concelho tão mal servido na recolha de lixo. Seguramente que devem existir razões que expliquem isso, mas nunca foram claramente expressas. Os munícipes pagam muito para receberem tão pouco. Em abono da verdade registe-se que o último mês mostrou algum esforço conseguido para melhorar a situação.