Pintar a dor de vermelho

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Os gritos do sofrimento do resto do mundo não chegam às aconchegadas terras da Europa ocidental. Mantém-se a guerra nas fronteiras da Ucrânia, travam-se combates sangrentos na Síria, no Iraque, no Sudão do Sul, morrem rohingyas, curdos, palestinianos, paquistaneses, nigerianos, congoleses, venezuelanos, coreanos do Norte… Contam-se por milhares os prisioneiros torturados.

A aflição destas multidões não nos pode deixar alheios.

Na passada sexta-feira, 23 de Fevereiro, os católicos, os outros cristãos e mesmo os não cristãos acolheram o desafio lançado há duas semanas pelo Papa Francisco:

«Diante da trágica persistência de situações de conflito em diversas partes do mundo, convido todos a um especial dia de oração e jejum pela paz, a 23 de Fevereiro, sexta-feira da primeira semana de Quaresma. Oferecemos este dia em particular pelas populações da República Democrática do Congo e do Sudão do Sul».

O nosso Pai celeste ouve sempre os seus filhos que a Ele bradam na dor e na angústia (…). Dirijo um urgente apelo para que também nós ouçamos este brado e, cada um de nós, em consciência, diante de Deus, se pergunte: “O que posso fazer pela paz?”».

Ontem, sábado 24 de Fevereiro, a Fundação Pontifícia «Ajuda à Igreja que Sofre», iluminou de vermelho cinco locais do mundo, em solidariedade com os que sofrem a perseguição religiosa. O Santuário de Cristo-Rei, em frente de Lisboa; a igreja dos Congregados, em Braga; o Coliseu de Roma, onde multidões de cristãos perderam a vida nos primeiros séculos do cristianismo; a catedral maronita de Santo Elias, em Alepo (Síria); e a Igreja de São Paulo, em Mossul (Iraque). Neste dois últimos casos, pretende-se chamar a atenção para o acentuar da violência religiosa na Síria e no Iraque.

Em ocasiões anteriores, a «Ajuda à Igreja que Sofre» projectou luz vermelha sobre outros edifícios marcantes, como o parlamento inglês e a catedral de Westminster, em Londres, assim como igrejas e escolas britânicas. Também a fontana di Trevi, em Roma, a estátua de Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, a basílica do Sacré Coeur, em Paris, ou a catedral de Manila, nas Filipinas.

A iniciativa intitula-se «Combater a indiferença» porque o primeiro passo é despertar o mundo para a perseguição religiosa e mobilizar a opinião pública.

Mas o objectivo de fundo é aprendermos a rezar, com o coração, com as palavras, oferecendo também a Deus sacrifícios – como pediu o Papa.

Cristo jejuou, especialmente naquele período que corresponde hoje à Quaresma. Nossa Senhora em Fátima pediu aos Pastorinhos que oferecessem sacrifícios. Francisco repete os apelos ininterruptos da Igreja. Como reagimos?

Os convites desta sexta-feira e deste sábado foram especiais, mas o apelo mantém-se.

Em última instância, é nestas ocasiões que se demonstra a fé na eficácia da oração e do sacrifício. O Papa deu-nos o seu testemunho: «O nosso Pai celeste ouve sempre os seus filhos que a Ele bradam na dor e na angústia!». Eu também tenho fé? Até onde vai a minha resposta?