Por estes dias, todos os caminhos parecem ir dar ao Santuário de Fátima. De toda a região, há peregrinos a pôr pés à estrada, muitos com saudades e ansiosos face ao interregno de dois anos causado pela pandemia. Há quem vá por promessa, mas nem só.
Esta manhã, saiu de Paredes um grupo de cerca de 150 peregrinos da Associação Nossa Senhora dos Remédios – Obra de Bem Fazer, apoiado por mais de 100 voluntários. Amanhã mais algumas centenas de pessoas partem também do concelho, desta vez com o apoio da Obra de Caridade ao Doente e ao Paralítico (OCDP Paredes) e do Rancho Regional de Paredes.
O sentimento é de fé e de alegria para os seis dias de caminhada que se avizinham.
A GNR está na estrada a dar conselhos e a sensibilizar peregrinos e condutores para os cuidados a ter.
“Às vezes peço pelo mundo inteiro, desta vez peço pela paz”
Há quem vá pela primeira vez, pela experiência, e quem seja movido pela fé e repita este trajecto há vários anos.
“É a primeira vez que participo, por curiosidade, pela aventura, pelo espírito e pelo que ouço os outros peregrinos a falarem sobre a experiência”, conta Vera Silva, de 30 anos, de Lousada, que teve de adiar a ida à Fátima devido à pandemia.
Depois de ter participado uma primeira vez há quatro anos, Lúcia Cunha, também de Lousada, quis voltar. “Da primeira vez foi uma promessa que eu fiz. Desta vez, é um modo de agradecer a nossa senhora tudo o que me tem dado até agora”, explica a mulher de 47 anos que não esconde que ansiava pela peregrinação. “Este percurso traz muitas emoções, muitas alegrias, muitas amizades. Durante o caminho reza-se, canta-se, chora-se, faz-se um pouco de tudo”, garante, referindo que a ida em grupo permite um maior apoio logístico e não obriga o peregrino a preocupar-se com mais nada. “Há quatro ano cheguei a Fátima sem nenhuma bolha, espero que desta vez seja igual. Quando se entra em Fátima esquece-se tudo o que se passou cá fora”, garante a lousadense.
“Os dois últimos anos senti-me triste, às vezes via coisas na televisão e até começava a chorar. Mas o grupo da peregrinação não ia e eu sozinha não podia ir”, assume Maria Alice Marinho que participa na peregrinação há 14 anos. “Custou muito”, afirma. “Custaram-me mais esses dois anos do que os outros anos todos”, garante a mulher de 63 anos, de Amarante, que começou a ir a Fátima a pé quando a filha foi operada aos olhos. “Prometi que enquanto pudesse ia. Sou uma pessoa de fé. O caminho para quem tiver fé é bom de fazer, para quem não tiver é mau. Para mim é bom. Durante o percurso, rezo, outras vezes choro, às vezes peço pelo mundo inteiro, desta vez peço pela paz”, conta a peregrina.
Esta é a oitava peregrinação de Manuel Vieira, de Paredes. “Comecei por ir por promessa e depois ficou-me esta vontade de fazer este percurso todos os anos. Andamos muito, essencialmente dentro de nós, e faz-nos bem”, sustenta o homem de 71 anos, que integra o grupo coral da Igreja. “Levo daqui o contacto com as pessoas e a ajuda e o exemplo que possa dar. Quando chego sinto-me bem por ter conseguido”, assume, garantindo que nos últimos dois anos era muita a saudade e ansiedade de regressar.
Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar | Manuel Vieira Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar | José Teixeira
“Há cinco anos que participo. Esta é a terceira vez a pé, mas já vim ajudar”, conta José Teixeira, de 59 anos, de Paredes. “Tenho fé, acredito na Nossa Senhora. E este percurso dá força, dá energia, dá vontade de ajudar uns aos outros”, afirma. Mas não esconde que é um caminho difícil que lhe traz “bolhas nos pés”. Ainda assim, reconhece que passaram “dois anos maus”. “Este ano há ainda mais vontade de meter pés à estrada. Estávamos ansiosos”.
“Quando um peregrino nos diz ‘obrigado’ sabemos que é de coração”
Aos cerca de 150 peregrinos juntam-se amanhã mais, na zona de Canelas, em Vila Nova de Gaia. O grupo ficará com cerca de 340 pessoas e será apoiado por 110 voluntários. A previsão de chegada ao Santuário é 10 de Maio.
“Vamos com alegria e fé. Tivemos dois anos tristes. Levamos 340 peregrinos, não levamos mais devido à situação que ainda se vive, e temos 110 elementos na logística e uma frota automóvel elevada, para que não falte nada aos peregrinos”, descreve António Paulino, presidente da Assembleia Geral da Obra Bem Fazer e ex-comandante dos Bombeiros de Penafiel. “Ando nisto há 30 anos. Fui dois anos a pé e há 28 que dou apoio ao peregrino, desde o primeiro minuto da partida até ao último”, relata.
O percurso é marcado pelo sofrimento, pela alegria e também pela reza. Vai gente de vários pontos: Paredes, Penafiel, Marco de Canaveses, Amarante, Santo Tirso, Lousada, Paços de Ferreira, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Guimarães, Trofa, Maia, Vila Nova de Gaia e Aveiro.
A instituição apoia em tudo, desde as dormidas à alimentação até aos cuidados médicos e de enfermagem necessários.
Nessa equipa de voluntários vai Isabel Oliveira, de Lousada, que se considera, acima de tudo, peregrina. “A primeira vez que vim foi há cerca de dez anos e vim cinco anos seguidos. Este ano voltei porque tinha muitas saudades. Já conhecia a obra e tinha uma colega enfermeira que acompanhava os peregrinos e eu ficava maravilhada com as histórias que ela contava”, justifica.
“Como tinha a intenção de ir a Fátima a pé achei que seria mais útil ir a acompanhar e pôr a minha profissão ao dispor dos peregrinos. Sou peregrina”, garante. Tira férias e deixa para trás marido e filhos para viver seis dias intensos e complicados. “Trabalhamos muito, mas com muita alegria e quando um peregrino nos diz ‘obrigado’ sabemos que é de coração”, salienta a enfermeira. “Vou daqui com o coração cheio e com o sentimento de missão cumprida e de que cumpri a minha peregrinação a Fátima”, afiança Isabel Oliveira. Leva ainda histórias de superação. “Às vezes parece que estão a desistir e eu sei que basta uma palavra amiga, dar ânimo e dizer ‘vais conseguir’. Já cheguei a descer da ambulância e a caminhar junto deles. Às vezes com os pés cheios de feridas vão buscar forças nem eles próprios sabem onde e chegam a Fátima. É gratificante”, afirma, enaltecendo o sentimento vivido: “Quando chegamos a Fátima, em procissão, é lindo. A vitória é do conjunto, somos uma família”.
GNR aconselha peregrinos e condutores
Até ao dia 15 de Maio, a GNR está na estrada, tendo reforçado o policiamento nas vias onde é esperada maior confluência de peregrinos. A meta é que todos cheguem em segurança, assume a capitão Carla Passeira, do Destacamento Territorial de Santo Tirso. Com o levantamento das restrições pelo Governo, a Guarda espera mais pessoas a rumar ao Santuário e também mais tráfego nos acessos a Fátima.
Perante zonas com bermas e passeios reduzidos e até pouca iluminação, a GNR está a sensibilizar e a aconselhar os peregrinos a adoptarem medidas para maximizar a segurança. Entre os conselhos estão “circular em fila indiana, com colete reflector, quer seja dia ou noite, sinalizar o início e o fim dos grupos, utilizar as bermas em sentido contrário ao fluxo do trânsito e não manusear telemóveis enquanto caminham”, fazendo pausas em locais fora das principais vias, refere Carla Passeira. A presença dos militares visa também fazer com que os condutores “assumam uma condução mais prudente e reduzam a velocidade para evitar atropelamentos”, acrescenta.
Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar